sábado, junho 26, 2004

A Condição Necessária da passagem...

Embarque

A cotidaneidade

A tabacaria, a ótica, perfumaria, chaveiro. Mais uma praça de alimentação, agora de um grande supermercado e mais uma terça-feira. Sim novamente ela.
O pior! A pressão que se exerce de uma improcessualidade levada adiante de um trabalho mesquinho, que por várias vezes me fez despir de alguns princípios e simplesmente ir em frente descaradamente. Mas não generalizo. Coisas legais acontecem.
O vai e vem é indissociável da música que toca neste momento. São exatos 12:57 do dia 15/06/04. Quando ler esse pequenino texto já estarei em outro lugar. Quem sabe a morte, ou o colo quente do particular...sabe-se lá aonde...
Nem tão cansado assim, mas com o corpo pedindo alguns minutos de sono. Um café iria muito bem nesse exato momento.
A saudade me aperta o peito e a solidão dessa pça de alimentação me embarga a voz muda. Mesmo rodeado por todos, sozinho e mudo estou, e bem próximo a lixeira. Ela me cumprimenta
-Obrigado, com o abrir e feixar de sua porta
-De nada! Respondo de supetão.
Ao menos tenho música agradável que invade meus ouvidos. Tinha. O oriental filho da puta proprietário da loja interrompeu-me. Devia saber que estava a gozar de seu ganha pão, sem pagar. Veja só que indecência.
O fluxo aumenta, as formigas continuam no vai-e-vém infinito. Todos a trabalhar para hibernarem de viver.
Vejo um casal, bastante similar a um outro de um determinado filme visto a algumas boas horas atrás. Me vejo naquele abraço do jovem. E nos beijos a beira da morte daquela triste mas linda história que temperou-me com amor, esperança e lágrimas que escorriam pela face, fico a questionar as impossibilidades. A sempre e positiva possibilidade da mudança e do que realmente vale a pena nesse pequeno sopro de vida.
O que é que vale mesmo?
E como pode algo que a princípio nada teria a ver com voçê ser tão particular, a ponto de se transfomar também num certo combustível quem me impulsiona a ir atrás daquela coisa incerta.
Marvin Gaye! A música voltou, e nessas horas as coisas parecem conspirar a favor. O significado é dado por mim e representado num filme, ou música. É tão particular que aquilo é seu, o reflexo de mim, ali na tela grande, mesmo que com outras faces, atitudes, sentimentos, mesmo com toda essa diferencialidade e fragmentação, nos encontramos nos “alguéns” da vida.
É lindo isso, e me faz chorar porque sou eu mesmo, e que às vezes parece ser os corações do mundo. E dá uma vontade imensa de gritar e correr como um touro ao encontro de suas planícies, sua felicidade. Felicidade!
Não aquele edifício sutentado por valores falsos. Mas sim, a felicidade é o vivenciamento do que são alguns princípios que contemplam o que é verdadeiro para mim.
Do edifício, imenso, universal e absoluto. Do seus pilares fracos, imploda-os já.
Quero nas pequenas coisas verdadeiras chegar a voçê, fugindo da magnanimidade da racionalidade industrial que nos introjeta o fim, da nossa animalidade, e do amor.
Alguns olhares me cortam. Pareço ser uma coisa diferente dessas. Daqui deste momento que se perde pelos meus dedos, e pelo grafite desse lápis, sinto a vida passar e a certo modo escorrer pelo meu corpo. Eles não sentem isso, e o rapaz sozinho sentado no balcão fica a olhar perdido a imensidão da paisagem. Ele imóvel e assim consigo ver o reflexo de seu rosto e parece triste. Deve ser o efeito de tal reflexo que muda sua face. Mas está minutos do mesmo jeito, imóvel. Parece que quer atenção do mundo, alguém com sangue nas veias, e não de consumidores hávidos por satisfação que dali a pouco morrerá.
Rodeado por um balcão triste, nem mesmo para o consumo se aproximam e ele fica ali, imóvel, como um animal no zoológico que ninguém dá a minima. Seu olhar baixa e o boné de um marrom gasto, esconde seu rosto, seus olhos não vejo mais pelo reflexo.
Oposto a ele, uma senhora de meia idade tenta disfarçar sua melancolia distribuindo sorrisos a tentar fazer com que as formigas adquiram seus lindos badulaques inúteis.
E vejo no olhar de uma outra mulher a insatisfação. E mais um cigarro na espera do inesperado, e que a carregue para longe desse lugar frio e sem vida. Ela fica a ler suas mãos a procura do desvendamento de seu futuro, ou caminhando pelas cicatrizes esculpidas a tempos atrás. De uma tragada a outra, o inesperado continua a ser um nada que não a leva a lugar algum e nervosamente mexe os pés, cruza e descruza as pernas e mais uma tragada. Sua aliança não mais na mão para para,e se levanta certa de algo e se vai...se perdendo na distancia de suas infinitas esperas.
Se o indefinido não chega, que se vá comigo e minha eterna...espera!
E lá se vão as composições de alegres carrinhos de compras. Lembro da minha infância. Quando com minha familia ia a grandes supermercados com uma alegria imensa. Podia ajudar meu pai no transcurso das compras. O mundo parecia tão bonito naquelas horas, e mesmo que chorasse, por não poder comprar o tal brinquedo, mamãe furava os doces e ela como uma outra criança nos servia, a desviar a atenção dos seguranças.
Felicidade era poder ir a esses lugares, e no meio de todos sentir a diferencialidade de minha história, e de ruas largas a estreitas empurrava por entre elas o carro de compras.
Sair de lá, ir ao restaurante, ou a pizzaria. Lembro do gosto daqueles dias, daquela época.
Brigar com minha irmã por mais doce, e docilmente mamãe repartia entre todos, tudo.
Meu pai era meu herói, e guiando o carro grande que mais parecia uma barca eu ficava a pular atrás dele feliz.
Como o tempo passa. E como o significado das coisas e pessoas mudam,e como tão rápido envelhecemos...
13:40
15/06/04


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