terça-feira, abril 26, 2005

texto antigo

Embarque

A fala

…de repente ao descer as escadas, fui violentamente empurrado.
E forjei-me de metais para não me arranhar ao cair.
Será assim que devo começar? A insônia não me explica e nem ao menos dá uma indicação para responder tais dúvidas.
07/10/04 são 00h59m.
Daqui 4 horas estarei de pé. Na verdade 4 horas e alguns minutos. Ver todos aqueles rostinhos, a sangrar pelos seus olhos impossibilidades, esperas, dores e porque não dizer esperança.
Daqui a 4 anos estarei de pé. E sem muito porque, ou mesmo (sabe-se lá) sem saber a respirar ainda completarei os ciclos biológicos que costuram meu corpo.
Mas pode ser que daqui a 4 dias, algum jornal qualquer relate mais uma nova guerra, por mais poder.
Poder...o que é Poder, ou poder?
Eu posso? Mesmo? Devo?
Gostaria de poder dormir e ter Poder. Assim direcionaria meu sono para algum lugar que não conhecesse e por lá ficasse até os fins dos dias.
Silêncio é poder, ou Poder?
Silêncio é o poder da ausência, do não dito. Ausência do sentimento, do fluxo sanguíneo.
O Poder do silêncio é poder relatar a morte.
A morte é a ausencia de Poder, sendo um Poder em si mesmo-mudança.
A mudança é o fim da morte e o começo da vida.
O homem é a morte.
Eu sou a morte. Eu sinto a morte.
A cortar-me, como um feixe de água gelada, imerso a ela estou.
Como numa imensa queda d’água-falta de ar-
O não dito dos vencidos. O dito dos derrotados...assim caminhamos a passos largos a lugar algum, nenhum.
A opressão da fome, as migalhas que a mim são jogadas.
Somos como pombos. Presos na cidade imagética da liberdade. Nem como os antigos pombos correios somos. Não mais voar conseguimos, e comemos restos de pastéis e lanches das ruas centrais do enclausuramento da urbanidade. Sem asas, e sem Poder.
Sem vontade e sem amor.
Sem sono, mas com vida
Com amor, mas pela morte
Pela morte, mas pela mudança
Com ardor, nossos bustos inflam
Mesmo pela morte, sem furor
Tudo pela vida, com a morte
Com suor, sangue e lágrimas.

Vi os pés daqueles senhores descalços a andar insinuamente pelos cacos de vidros, a rachar o solado do céu, e a cada momento a rasgar em seus corpos a herança de vidas passadas.
Também andei. Fui até a escada, descalço também, e nú. Pelo que me lembro carregava uma caixa que quando era aberta brilhava a todos, mas não me recordo de que material carregava, e de onde vinha. Lembro que ia a todo vapor, correndo. Assim vi os senhores descalços e seus solados sangrados.
O labirinto de espelhos.
O fogo que corta o céu e me cega as vistas.
O afogamento dos incontinentes.
O vislumbrar do cortejo fúnebre.
A dança sinuosa da serpente.
O vômitos dos insaciaveis.

E a minha incapacidade de me controlar e aos outros não machucar.
Digo adeus. Assim, possamos um dia construir um norte comum a todos.


O não dito

Desembarque

pés e movimento

Embarque


O alvorecer de uma voz única requer noites e mais noites de insistência e persuasão do próprio ego em constante diálogo consigo próprio. Ao invés dessa fornicação forçada a foda propriamente dita tem de ser transformada ritualmente num tratado com a alma pura. Pura depois de se ter passado por todos os estágios. Da nascença a putrefação. Talvez assim possa a voz única ser conhecida. Do contrário, penso eu, será um amontoado de idéias pré-concebidas nos gabinetes de compartimentação das nossas vidas.
Árduo trabalho este. Aferir a voz silenciosa do reino da imaginação afim de investigá-la e tentar extrai-lá do invólucro das influências. Longo percurso a ser caminhado nú e descalço. A supremacia e genialidade para alguns é como o alvorecer e o por do sol. Explico melhor.
Das horas que se passam no movimento, o indivíduo forçado a querer se torna o algo busca inconfudivelmente aquele posto. Por isso dias após dia, treina, exercita, recapitula, anota. Faz e perfaz um movimento que em sua caixola sabe-se lá quando automático se tornará. Cada lembrança a este indivíduo se torna uma bíblia do conhecimento a ser milimetricamente desfiado e desfiando esta memória chegamos ao ápice do escavamento que nos déspi e nú estamos diante das maquinas. A esperarem pacientemente nossos comandos. Um fóssil sobre a mesa. Milhões de anos e uma incompreensível escala de tempo. Uma história esperando um pintor a aquarelar o infímo. Poder mesmo deve ser esse pintar o incompreensível, o não notado por ninguém e expressar em palavras o que as mesmas não são. Um fluxo infinito. Pequeno ou grande? Sabe-se lá quando irá parar e se parar que todos farão?
Devaneios e mais pensamentos, memórias, momentos. Partículas do fato. Gotas num oceano de lágrimas.
A exposição do corpo nú no necrotério ou numa casa noturna. A miséria, desde a morte do corpo em si até a morte da paixão do corpo em nós. Tudo é sempre mais além. Bem mais adiante e cabe a mim andar e ver o raiar do sol até o fim do dia e exercitar o ato de aquarelar a vida. A minha vida.
O balançar dos pés num movimento nada uniforme mas que uniformiza a mente no transcurso de um pensamento obsessivo de sensações afim de serem movimentadas pelos mesmos pés. Numa sala refrigerada mais parecendo um lugar depositário de mortos a vida se faz em movimentos e olhares.
O vai e vém, vai e vém, vai e vém e assim por diante a dias infinitos dias que tomam cores de noite nos devaneios em ruas esburacadas barrentas. Dedos e unhas os vi balançando a poucos metros de distancia.
Deveria tocá-los e brincar com eles, massageá-los até que os mesmos desmaiassem em meu ventre e repousassem por milhões de anos.
Andar a exercitar o aquarelar de minha vida. Desperto e nú. Excitado e vivo. A respirar e sentir o pulsar de meu coração em vossas vulvas quentes.
O suor a escorrer pingando nas rochas transformando-os em solo fértil. Um salve a vida.
Ao acolhimento de todos os corpos e que a quentura destas misturas seja o fermento de novos dias.

Herculano Netto

Desembarque

sexta-feira, abril 22, 2005

quem mesmo?

Embarque


quem sou eu? Grande pergunta.
Que rei sou eu?
Que plebeu tenho sído?
Quantos anos temos?
Quais suas vontades?
O disco riscou?
Cor de cabelo e qual a nossa fome mesmo?
Complicado? Destemporalizado? Desterritorializado?
Que ser tenho sído?
Quão sujo temos sído? Quão fraco?
Alguém aí? Alí? Acolá?
Detrás dos montes?
Quem sou eu?

Herculano Netto

Desembarque

sexta-feira, abril 15, 2005

Oito ou oitenta?

Embarque

Oito ou oitenta?
Rasgo as vestes afim de nú rufar os tambores do inferno.

oitocentos ou oito mil?
Enfio garganta abaixo minhas esperanças.

Oito mil ou oitenta mil?
Ao ácido gástrico não mais existirão.

Oitenta mil ou oito milhões?
Enraizado em mim a lembrança do absoluto.

Oito milhões ou oitenta milhões?
O Absoluto enraizou-me o desespero, a desespero alheio.

Oitenta milhões ou oitocentos milhões?
Um punhão cravado em meu estômago.

Oitocentos milhões ou oito bilhões?
Corro à uma parede de concreto chocando-me à ela o punhão a atravessa-me.

Número, datas, fins, meios, sorte, lingúa, fala, interpretação, matemática, algebra de nossos corpos aflitos por sorte e paz. Um turbilhão de sentimentos enche-se o saco de nossas mentes, ficamos a costurar as situações sozinhos cada qual com seu tecido corpóreo e cada qual com suas linhas de tecer e suplicando pelos dados matemáticos de fundições epidérmicas a somar no grande mar de mal gosto da vida.
Que diferença isso fará daqui a dez anos, quando a maioria de todos nós estivermos satisfeitos com nossas grandes barrigas preenchidas de fezes e felizes por termos tido medo e não enfrentado a grande espada da vida que corta os meandros costurando novas vidas.
Somos inquilinos da pobreza e da miséria, números são números e soam metafisicamente como tal. Números, horas, dias, meses, anos, segundos. Despertar!
Deus! Unte nossas mentes desesperadamente pela felicidade, só assim seremos capazes de ultrapassar o mar da vida. Não à miséria. Nunca a frieza dos números sem rostos, dos dizeres sem face, das situações sem frase.
Prosto-me a frente de todos, afim de desvelar minha ferida. Não mais questão de convenções sociais faço. Como Whitman -meu bom amigo- rufo os tambores pelos deseperados e loucos que se perdem na imensidão do revolto mar de sofrida vida que se transforma em mais vida vivida. Perante a todos a existência deste que vos fala foi mostrada. Cada gesto, frase, situação, sorriso, lágrima. Tudo decomposto evidenciado afim de provar por a + b +c = zhjsksajsks, que o amor tem a função de encarnecer quem afim estiver de ser loucamente rasgado pela vida.
Escrevo e vou assim redigindo um diálogo sozinho, poema, prosa, conto, romance. Que diferença isso faz? Concretismo, dadaísmo, surrealismo, existencialismo, realismo. A conceitos classificatórios não mais perfilarei estas palavras. O movimento da vida é contínuo. O eterno morrer vivendo, ou melhor, o nascer para morrer todos os dias. Sabendo que algo nos tolhi e talha no fim de tudo. Lá no fim da linha estaremos de frente com nossos eu's. E afim de aferir nossa mente choraremos as situações. E que se fodam as convenções. Mostre-me que sua vida valha a pena ao menos passando por cima de mim. Dance sobre meu cadáver, faça dele o piso. Talvez assim possa penetrar-lhe as unhas e mais perto de ti ficar.
Os devaneios fluem como nascentes de rios em furia que se transformam na descida de uma grande monte, esculpido por milhões de anos. Novamente os números. Não tente fugir, encare-os de frente. Sinto-me como uma nascente ainda limpa e vou-me poluindo a toda e qualquer experiência. Prestem atenção! Não digo nunca que puro quero estar, mas sim sujo. Devanear a sujeira das nossas pequenas experiências de vida. Lascar mais tinta nestas anêmicas aquarelas. Isso sim. A cada filamento de meu ser o retiro rasgando de mim um pedaço de carne transformando-o num pincel e aquarelando a sangue as vidas.
À fraqueza. Aos pobres.
Debruçar-se sobre esta mesa com o mesmo arranjo poerento que a anos parece se prostar diante de mim esperando um simples pano molhado a ser passado e assim reecrevendo a história do mundo incluo o meu sofrimento como nunca antes incluído o tenha sído e transformando nossos montes de esterco em alimento para nós mesmo e para os aflitos por vida que cacarejam e gargarejam o catarro verde de suas experiências pobres como os seres intra-ultra terrenos como nós mesmos que nos escondemos por meses como numa hibernação infernal no inverno equinocial solsticial.
O que mais queremos de tudo?
Que mais desejamos destas terras afim de escravizar-nos por infímos objetos cortantes que quando dispusermos contra nós mesmos afiados já estarão e nos rasgarão fazendo-nos chorar e com soluços esconderemos nossas lágrimas e trairemos novamente nossos princípios éticos de boa conduta e verdade afim de mais a ninguém machucar devido ao fato de sermos adultos o suficiente para arcarmos com o peso não explicado do mundo que só cobra cobra cobra cobra e nada dá em volta de troco mesmo e assim ficaremos cacarejando como idiotas palavras frases amores prontos dados referendados pelos mestres da boa convinvência e a este último suspiro do idiota aqui que nem mesmo ascentuação usa.
Bom Adeus!
Presto uma homenagem a Ray Charles que conduziu-me nesta manhã.


Herculano Netto

Desembarque

Whitman

canto a mim mesmo

(fragmentos)

1

Com música forte eu venho,
com minhas cornetas e meus tambores:
não toco hinos
só para os vencedores consagrados,
toco hinos também
para as pessoas batidas e assassinadas.

Vocês já ouviram dizer
que ganhar o dia é bom?

Pois eu digo que é bom também perder:
batalhas são perdidas
com o mesmo espírito
com que são ganhas.

Eu rufo e bato o tambor pelos mortos
e sopro nas minhas embocaduras
o que de mais alto e mais jubiloso
posso por eles.

Vivas àqueles que levaram a pior!
E àqueles cujos navios de guerra
afundaram no mar!
E a todos os generais
das estratégias perdidas,
que foram todos heróis!
E ao sem número dos heróis maiores
que se conhecem!

2

Quem é que vai por aí
aflito, místico, nu?
Como é que eu tiro energia
da carne de boi que como?

O que é um homem, enfim?
O que é que eu sou?
O que é que vocês são?

Tudo o que eu digo que é meu,
vocês podem dizer que é de vocês:
de outro modo, escutar-me
seria perder tempo.

Não ando pelo mundo a lastimar
o que o mundo lastima em demasia:
que os meses sejam de vácuo
e o chão seja de lama
e podridão.

A gemer e acovardar-se,
cheio de pós para inválidos,
o conformismo pode ficar bem
para os de quarta categoria;
eu ponho o meu chapéu como bem quero,
dentro ou fora de portas.

Por que iria eu rezar?
Por que haveria eu de me curvar
e fazer rapapés?

Tendo até os estratos perquirido,
analisado até um fio de cabelo,
consultado doutores
e feito os cálculos apropriados,
eu não encontro gordura mais doce
do que a inserida em meus próprios ossos.

Em toda pessoa eu vejo a mim mesmo,
nem mais nem menos um grão de mostarda,
e o bem ou mal que falo de mim mesmo
falo dela também.

Sei que sou sólido e são,
para mim num permanente fluir
convergem os objetos do universo;
todos estão escritos para mim
e eu tenho de saber o que significa
o que está escrito.

Sei que sou imortal,
sei que esta minha órbita não pode
ser traçada
pelo compasso de um carpinteiro qualquer.
Sei que não passarei
assim que nem verruga de criança
que à noite se remove
com um alfinete flambado.

Eu sei que sou majestoso,
não vou tirar a paz do meu espírito
para mostrar quanto valho
ou para ser compreendido:
tenho visto que as leis elementares
jamais pedem desculpas.
(Eu reconheço que afinal de contas,
não levo meu orgulho
além do nível a que levo a minha casa.)

Existo como sou,
isso é o que basta:
se ninguém mais no mundo
toma conhecimento,
eu me sento contente;
e se cada um e todos
tomam conhecimento,
eu contente me sento.

Existe um mundo
que toma conhecimento,
e este é o maior para mim:
o mundo de mim mesmo.
Se a mim mesmo eu chegar hoje,
daqui a dez mil ou dez milhões de anos,
posso alcançá-lo agora bem-disposto
ou posso bem-disposto espetar mais.

O lugar de meus pés
está lavrado e ajustado em granito:
rio-me do que dizem ser dissolução
– conheço bem a amplitude do tempo.

3

Eu sou o poeta do Corpo
e sou o poeta da alma,
as delícias do céu
estão em mim
e os horrores do inferno
estão em mim
– o primeiro eu enxerto
e amplio ao meu redor,
o segundo eu traduzo
em nova língua.

Eu sou o poeta da mulher
tanto quanto o do homem
e digo que tanta grandeza existe
no ser mulher
quanta no ser homem,
e digo que não há nada maior
do que uma mãe de homens.

Canto o cântico da expansão e orgulho:
já temos tido o bastante
em esquivanças e súplicas,
eu mostro que tamanho
nada mais é do que desenvolvimento.

você já passou os outros,
já chegou a Presidente?
É pouco: até aí hão de chegar
e irão ainda mais longe.

Eu sou aquele que vai com a noite
tenra e crescente,
e invoco a terra e o mar
que a noite leva pela metade.
Aperte mais, noite de peito nu!
Aperte mais, noite nutriz magnética!
Noite dos ventos do sul,
noite das poucas estrelas grandes!
Noite silenciosa que me acena
– alucinada noite nua de verão!

Sorria, ó terra cheia de volúpia,
de hálito frio!
Terra das árvores líquidas e dormentes!
Terra em que o sol se põe longe,
terra dos montes cobertos de névoa!
Terra do vítreo gotejar da lua cheia
apenas tinta de azul!
Terra do brilho e sombrio encontro
nas enchentes do rio!
Terra do cinza límpido das nuvens,
por meu gosto mais claras e brilhantes!
Terra que faz a curva bem distante,
rica terra de macieiras em flor!
Sorria: o seu amante vem chegando!

Pródiga, amor você tem dado a mim:
o que eu dou a você, por tanto, é amor
– indizível e apaixonado amor!

extraído de "Folhas das Folhas de Relva"

quinta-feira, abril 14, 2005

Sentimental

Embarque

Sentimental
Amarante - Los Hermanos

O quanto eu te falei que isso vai mudar. Motivo eu nunca dei.
Você me avisar, me ensinar, falar do que foi pra você,
não vai me livrar de viver
Quem é mais sentimental que eu?!!...
Eu disse e nem assim se pôde evitar.
De tanto eu te falar você subverteu o que era um sentimento e assim
Fez dele razão... Pra se perder no abismo que é pensar e sentir.
Ela é mais sentimental que eu !!
Então fica bem ... Se eu sofro um pouco mais.

- Eu só aceito a condição de ter você só pra mim.
- Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir... e rir.


Desembarque

quarta-feira, abril 13, 2005

Incluir o fim e a morte no cardápio dos atuais dias

Embarque


Compreender o que é dado é um fardo, sem mais para o momento andando a esmo como um cavalo. Olhando ao chão com medo de tudo, prendendo a atenção no chão. Neurose.
Apatia minha. Desta forma parto do ponto zero, o início do fim. O fim é tudo. Já apreendido.
As dúvidas de vida que anteriormente foram cúspidas são hoje a prova. Sim, a prova. A capacidade da inoperancia. A prova. Eu ví. Não ví? Sim, eu ví
A dúvida, eu a construo como certeza. O sumisso das certezas sem dúvidas se construirão, ou melhor, com um tanto assim ó -grande- de certezas. Doloridas.
Eu vejo, fujo, me prendo a paredes na esperança de fundir-me ao concreto e dalí a fundação e dalí a rocha e dalí a quilômetros de distância de lugares pelos quais cavalgo cegamente a passar invisivelmente por todos.
Compreender o fim, e a ele dizer a sí próprio todos os dias. Do alvorecer ao fim do dia e do amortizamento do dia ao amanhecer. Construindo a cada frase o fim.
Fazendo, sendo, construindo a condição da felicidade e da colocação das peças na situações fínitas. Precisam de sempre algo a se agarrar para se colocarem. O dito pelo não-dito. O feito pelo não-feito. A mim chegam aquarelas que as pintarei como um último suspiro de ar que fazem destes seres pessoas.
Sentar e escrever. Olhando o nú, despindo a vestes deste ser. Colocando-se írrefreavelmente na linha de tiro. Sendo alvejado a todo momento por mim mesmo.
Sentido?
Que sentido tem a vida? As pessoas? O amor? A morte?
Procuro traçar um plano diariamente para saber de onde parti, como estou indo e para onde. Sempre perguntas sem respostas, sempre o silêncio a temperar meus dias. Sempre o que me acostumei a ter em vida. Lembranças.
Assim talvez, possa eu saber para o onde vou. Dias difíceis. Sim. Dizendo a si próprio que é capaz, que tudo passa. Numa infinitude de um diálogo entre eu e eu. Como a luta que dilacéra e rasga as vísceras. Eu e eu. -Como a isso resolver? Tempo! Tempo! Tempo! Tempo! Tempo!
Sentido? Sentido? Sentido? Sentido?
Incluir o fim e a morte no cardápio dos atuais dias. Incluir o fim e a morte no cardápio dos atuais dias. Incluir o fim e a morte no cardápio dos atuais dias. Incluir o fim e a morte no cardápio dos atuais dias. Incluir o fim e a morte no cardápio dos atuais dias. Incluir o fim e a morte no cardápio dos atuais dias. Incluir o fim e a morte no cardápio dos atuais dias.

Acho que é isso. Multiplicarei tais impressões. À todos...adeus.

Desembarque

terça-feira, abril 12, 2005

Vala comum

Embarque


Deitando esperando o pesado sono arrebatar este imundo ser, e corromper minha lucidez por estas difíceis, soturnas e solitárias noites. Vejo o arranjo das situações e nada me compraz a aceitar. -Mas não era exatamente isso que você queria? O fim, diriam a mim. Responderia eu. -Sim, perfilei as provas de todas as situações e as coloquei todas dentro de minha caixola cinzenta a extrair disso tudo a prova mór da impossibilidade, diria eu com outras palavras.
Mesmo assim o filete de vida jaz, e por mais que eu tente cavar e jogando terra emcima deste filete ele sobrevive por infímos meandros.
- Mas afinal o que você quer? A mim foi perguntado. Respondi de supetão como sempre o faço e às vezes até mesmo sem pensar. -O que eu quero? Quero paz, tranquilidade e um pouco de calor.
Isso irei adquirir com o tempo. Já me diziam a muito tempo que o mesmo tempo corrói as coisas. É assim mesmo, se não for, a lógica é a mesma. Eu vejo o arranjo não dito das situações e como um espectador, ou melhor, um telespectador assistindo tudo. Quadro a quadro, passo a passo, segundo a segundo.
A cova foi cavada, esperando apenas o vôo da coisa em si para depois de pesadas pás de terra ser soterrada, e por fim, uma rosa plantada ao monte da cova, a ser a última lembrança de tal vida.
Quão escorregadia é a vida e são as pessoas. Quão viscosa são as situações e filetes em vida se transformam em lembranças a rasgarem cada centímetro do ser que em vão ainda sentado no banco da estação sem nome a esperar o trem sem nome a algum lugar sem nome.
A experiência da vida é única mesmo, quem acreditaria que o homem a lua chegaria sem mesmo conhecer sua vida, os porquês que o fazem navegar, ou mesmo que chama é essa que arde nos peitos afeitos por dor e experiência e que reagem como uma simbiose química de substâncias misturadas num laboratório n'algum canto da terra. Vasta Terra. Imensa. Bilhões!
Ví num filme do Kurosawa uma frase. "Contemple este lugar, que antes foi um reino e que hoje apenas é destruição." Será essa a frase mesmo? Não me lembro.
Acho que tudo já foi feito e as provas à mesa estão. A cova já escavada apenas espera a descida do ser, da coisa. Os montes amontoam-se ao lado. Terra enegrecida a pintar minhas unhas, pois as escavei nas mãos e depositam-se nos caminhos de minha mão a me mostrar, lembrar, talhar em mim as capacidades do amor. De tão funda a vala, -uma vala comum- uma placa ao lado vai fixar a lembrança e um cravo, encravado como este site desencravará da pele de todos os seres cosmocócicos e assim cairá no esquecimento. Será corroído pelos vermes do tempo. Aqui jaz a esperança e o amor. O silêncio é o não. Decodificado a situações são. Imaginadas as dores, dias após dias. Atos, toques, cheiros, textura. Tudo mapeado exemplificado numa idéia do acontecer, acontecendo.
- O que fica? Pergunto.
- A dor. Sim ela. Desta feita mais fácil de ser soterrada. Como num ferimento. Para ser cicatrizada. A soterramos com gaze, merthiolate e esparadrapo. Dias seguirão às dores da alma e a sangrar a ferida ainda está, mas soterrada será. Por gaze ou por toneladas de terra que ainda enegrecerão minhas roupas, olhos, mãos, unhas, lábios, cútis e todo o resto do que resta das sobras da tempestade que amortizará nossas vãs imagens e esperanças de vida em vida na morte.

Desembarque

quarta-feira, abril 06, 2005

Durrel e Mars Volta

Embarque

"Buscamos preencher o vazio de nossa individualidade e por um breve instante desfrutamos da ilusão de estarmos completos. Porém, é só uma ilusão: o amor une e depois divide."
(Lawrence Durrel)

A minutos atrás escrito eu tinha uma outra história. Resolvi apagá-la afim de resguardar certas memórias. Estavam soterradas a bons nove ou dez anos. Pelo atual momento o que eu vos traria não seria nada de bom grado imagino. Até porque tenho a impressão de um fardo ser para a vida de alguns. Muito mais do que me dizem, sou um peso a ser carregado. Ou não. Pode ser que tudo tenha mudado e eu com uma certa presunção penso ainda ser este peso.
Caminharei por cheios corredores a tentar passar invisivelmente por todos os olhares. Veja bem por todos. Reduzir-se ao nada, requer uma certa dose de força no sentido da invisibilidade dos olhares. Testemunharei as imagens quadro a quadro e como um pintor da modernidade, tentarei em vão captar a idéia do movimento inserindo-me mais do que nunca no esquecimento.
Dói. Eu sei. Mas afim de melhorar preciso com mais água e sabão me lavar da negra graxa que não consigo tirar de minha pele e há quase noventa dias venho meditando sobre essa sujeira que eu me tornei. Este ser que ainda implora e chora mediante a situações já por assim definidas. Sim! Não nos diga que não. Não há amor em terra seca ou molhada que resisti a intempéries das situações.
Como dito anteriormente. Portas se abrem e outras são demolidas, pois não mais serão usadas.
Numa conversa de bar dias atrás a motivação era a possibilidade de certos caminhos serem hoje usados na tentativa de dissipação de dúvidas. Sim, disso tenho total consciência e também que a profusão destas situações conduziram-me ao fim.
Um sábio diria que se fosse preciso eu teria de ir ao fundo do poço, para de lá sozinho apenas ouvir a minha voz. Sozinho e distante de tudo e de todos. Talvez começe por estes dias a arrumar as malas a este infindável trajeto.
A imperfeição me joga a igualdade a todos. Não sou e nem tenho a pretensão de ser o inimigo da felicidade alheia. Nada disso. Apenas quero o esquecimento. Compartimentarei eu mesmo das lembranças alheias afim de dor nunca mais proporcionar aos outros e a mim mesmo. Talvez seja essa a fórmula do meu reduzimento.
Eu odeio o ocidente, queria ir a Katmandu no Tibet. Passear pelas planícies ao pé do Everest. Comungar com os calmos monges tibetanos. Sumir um pouco. Seria isso um presente dos deuses a mim.
Mas assim fugiria da minha crucificação. Disseram-me ontem que faço tempestade em copo d`água.
Será?
Mars Volta!
"Buscamos preencher o vazio de nossa individualidade e por um breve instante desfrutamos da ilusão de estarmos completos. Porém, é só uma ilusão: o amor une e depois divide."
(Lawrence Durrel)

Desembarque

terça-feira, abril 05, 2005

r.e.m everybody hurts

Embarque

A ouvi ontem. Hoje penso diferente dela, não em todos seus aspectos Mas a mim tocou é ela é linda.



Everybody Hurts - R.E.M.

When your day is long and the night
The night is yours alone
When you're sure you've had enough of this life
Well hang on
Don't let yourself go, 'cause everybody cries
and everybody hurts, sometimes ...

Sometimes everything is wrong,
Now it's time to sing along
When your day is night alone (hold on, hold on)
If you feel like letting go (hold on)
If you think you've had too much of this life
Well hang on

'Cause everybody hurts
Take comfort in your friends
Everybody hurts
Don't throw your hands, oh no
Don't throw your hands
If you feel like you're alone
no, no, no, you're not alone

If you're on your own in this life
The days and nights are long
When you think you've had too much
of this life, to hang on

Well everybody hurts,
sometimes, everybody cries,
And everybody hurts ...
sometimes
But everybody hurts sometimes
So hold on, hold on, hold on, hold on, hold on,
hold on, hold on, hold on, hold on, hold on

Everybody hurts
You're not alone

Tradução

Quando o dia é longo
E a noite, a noite é somente sua,
Quando você tem certeza [que] já teve o bastante desta vida,
Bem, persista...

Não desista de si mesmo,
Pois todo mundo chora
E todo mundo sofre
Às vezes...

Às vezes tudo está errado,
Nesse momento é hora de cantar junto.
Quando seu dia é noite, sozinho,
(Agüente, agüente)
Se você tiver vontade de desistir
(Agüente....)
Se você achar que teve demais desta vida,
Bem, persista...

Pois todo mundo sofre,
Consiga conforto em seus amigos.
Todo mundo sofre...

Não se resigne,
Oh, não! Não se resigne
Quando você sentir como se estivesse sozinho.
Não, não, não, você não está sozinho...

Se você está por sua própria conta nesta vida,
Os dias e noites são longos,
Quando você sentir [que] teve demais desta vida
Para persistir...

Bem, todo mundo sofre
Às vezes, todo mundo chora.
E todo mundo sofre
Às vezes...

E todo mundo sofre
Às vezes...

Então agüente, agüente...
Agüente, agüente,
Agüente, agüente,
Agüente, agüente...

Todo mundo sofre...

Você não está sozinho...



Desembarque

oportunidades

Embarque

Andando a esmo ainda pelos campos de nossos sonhos disformes a simples procura da razão para a dor, incompreensão.
Palavras, julgamentos, ódio, mágoa, medo. Um turbilhão de sentimentos misturados num rosto cinza, remelento e mal dormido. Mal hálito, indisposição, insegurança.
Apertem os sintos o piloto sumiu e ninguém que possa guiar-me nesta viagem ao fundo do universo vazio e sem sentido do amor. Um constructo de imperfeições. Isso sim. Vejam lá vai ele, sozinho porque assim quis. Um amontoado de defeitos. Sim! Sou eu! Veja! AMONTOADO DE DEFEITOS!
Melhor assim? Mais fácil, diga a verdade. O ódio que brota das entranhas de todos facilita o entendimento razo das situações e abre novas portas para quem não as sabia destrancar. Eu sou sábio mesmo. E até nisso cedo aos caprichos de meu mal humor e dou de presente a possibilidade da saída. A porta esta destrancada. Vá em frente agora. Só depende de ti. Dei-lhe os caminhos. O ódio, raiva, mágoa, enfim o prato está servido à mesa.
Arroz, feijão, ovos fritos, salada, uma grande fatia de bacon assado, frango, patas de siri, camarão fresco, uma infinidade de sobremesas. Tudo a mesa esperando a degustação
Também engulo o que é saboroso, juntamente com as flores que de tão bonitas são venenosas. Engulo tudinho até os galhos espinhosos. Pois é. Servi dos caminhos para que tão aprazível sejam suas próximas experiências. Baixo não?
Sim! Fraco, mesquinho, vulgar, odioso, malévolo. Lembrou-se deste? Eu! Tudo servido agora jantem todos.
A disposição ficarei. E se de algo precisarem ainda para a digestão? Aqui estarei afim de servir-lhes mais.
Jantem todos! Comam a vontade, satisfaçam suas sedes de uma vez por todas. A faca e o queijo na mão já estão dispostos. Basta fatiar e dividir o produto do trabalho baixo e mesquinho que lhes proporcionei.
Andando um dia numa praia tive algo acerca do que poderíamos chamar de visão. Vi uma mulher caminhar até mim e abrir sua boca. Nela havia quilos de areia e montes de siris negros a passearem por sua lingua envolta em areia. Faz tanto tempo isso que acharia que sonho fosse. Ué por que não? Sonhamos sempre. Sempre a idealizar, como ontem dito. É foi um sonho, mas nesta noite lembrei-me de supetão daquela imagem, como há semanas atrás recordei experiências de juventude.
Andei, andei, andei. Rastejei quando preciso e vomitei os siris e a areia que em mim estavam. Com sangue coagulado sairam, substância estranha com gosto de sal e ferro. Rochas moídas pela ação do choque das ondas com experiências de banhos a balde. Formalismos, rachaduras, recortes, impressões, interpretações. Fins de tarde chuvosos, tempestuosos. Finais de semana de solidão e angústia. Informação, desencadeamento, saídas.
Os fins justificam os meios, ou os meios justificam os fins. Tostines é um sucesso por que pisa na cabeça de cem mil trabalhadores ou o sucesso vem da predisposição inata de servidão?
Servidão! Incondicionalidade!
Informações não batem. Uma tela cheia de palavras tem pra si a necessidade da contemplação dos outros? E quando as telas não batem com as situações, como fica?
Mais uma vez envolto nas contradições.
E jurei a mim, não mais lá voltar. Pedi, implorei a mim mesmo por um minuto de silêncio de minha parte, um minuto de luto, mas de tão imperfeito e vil. Lá estava eu. Novamente a choramingar como um bezerro desmamado. A juntar peças e a nada entender. Lendo, lendo, lendo e não conseguindo conjugar as ferramentas.
Olha isso. Um muro das lamentações. Sou melhor que isso! Será que sou mesmo?
Começo a duvidar resolutamente deste edifício.
Sim! Fraco, mesquinho, vulgar, odioso, malévolo. Lembrou-se deste? Eu!
Facilmente assim as portas se abrirão e outras por fim serão destruídas e serão varridas da vastidão dos prados sulinos. Sim este sou eu.
Haverá um dia -distante dia este- que das cinzas algo possa brotar. Não portas, porque até lá não mais caminhos existirão, mas algo que não sei explicar e que não sei do que nascerá, ou melhor, como nascerá.
Desta forma, à todos um grande passar bem. Ao fim da linha cheguei. Não mais meus lampejos ouvirão, e que de quão torturantes são interpretados .
Assim o espero. Assim peço a mim mesmo.
Lembre-se disto pérfido autor.

Desembarque

segunda-feira, abril 04, 2005

morte e silêncio

Embarque

O relógio teria parado naquele momento se não fosse a minha força de erguer a cabeça e esquecer o quão diferenciado são as situações. Únicas em vida!
Mas o que é que tento em vão expressar e a quem tento enganar?
Alguém vivo a me escutar? Não!
Um sufocante calor que faz brotar de meus póros o suco da dor, meu suor escorre e mistura-se a lágrimas mais salgadas que nunca. A possibilidade da mudança vem da chance de utilizar as situações como pontuação a ser conferida aos participantes. Mas que merda é essa de vida que se conjuga dessa forma idiota de princípios? Pega-se o bonde apenas na impossibilidade de a outro lugar rumar. Sempre no não, na negatividade. Não na propositividade. Na semelhança das almas, mas na pobreza argumental de que os ponteiros vão andando a esmo e o vácuo é um sintoma deste mal.
Tudo a cargo de milhares interpretações. Todas a espera do que mesmo? Sim! Uma porta a ser aberta apenas no crítico e por assim hipócrita momento da saída utilizando as mesmas armas que se predispôs a usar de antemão...O que mesmo? Não preciso aqui conferenciar que armas são essas.
A desintonia é clara, já diagnosticada há muitos milênios. Saberia eu aferir novamente isso num outro lugar? Carregaria eu, a possibilidade de apreender por quais terrenos devo caminhar e a que modos faria isso?
Um não cuspido por anos, faz diferença.
Idealizar. A palavra da vez é esta. Vamos ao grande livro.
Idealizar. 1, Dar caráter, perfeição, ideal. 2. Planejar, projetar, conceber. 3. Criar na imaginação, imaginar, fantasiar.
Taí esta última. Criar na imaginação, imaginar, fantasiar. O que disso não confere a mim? Minto a mim mesmo sobre mim e sobre minhas fantasias, idealizações enfim...Sobre este que vos escreve. Tão pequeno e sórdido hermitão da esperança e da idealização. Da minha mentira.
Ora bolas é isso. Um espelho de mil faces, que sempre pego as mesmas imagens. As paraliso e começo a pintá-las. Pequeno ser tão nojento e vil.
Nojo e angústia por mim mesmo, isso sou eu. Em constante processo de vivificação. De luta. Humano demasiado humano entregando-se aos defeitos mais baixos.
Baixeza. Este é sim um dos adjetivos deste que vos fala.
Tenho asco e não nos socorram afim de ajudar-nos. Como há milênios já foi exemplificado, não há barcos salva-vidas para todos. Alguns sim salvarão suas sujas carnes.
E não quero ser salvo. Apenas mudar. Esquecer. Viver.
Tinha terminado aqui. Na linha acima, mas tive de reiniciar.
-Deligue-se de voçe mesmo, eu sempre digo a mim.
Merda é ter de ser classificado como num sorrateiro fim de semana. Ou numa situação louca acontecida. Como mostrar que meses corromperam com o que dê mais puro e lindo eu tive. Falar, falar, falar e falar já não cabe mas nisso aqui. E o jogo foi aberto. Afinal de contas as impressões tiradas mesmo as minhas podem ser equívocos, sim sei. Mas o vácuo é o maior sintoma que os equívocos possam ter se multiplicado na forma de silêncio. Esperar pelo que é dado como certo pra mim já é coisa do passado. Costumeiramente isso a mim já apreendi ao meus ossos e vísceras. Isso sim foi e é o grande saldo de toda essa amálgama. O diagnóstico de que preciso de ações mais do que palavras. Palavras sem a expressão nas ações cotidianas apenas são omissões da mesma vida cotidiana vivida.
Engraçado mesmo são as saídas e como são usadas. Utilizadas a esmo como portas de fulga num incêndio emocional e capturadas a partir do mesmo vácuo. Engraçado não? Sabem como as utilizar as manipulam tão familiarmente que dão impressão de fazerem parte dela mesmo. Se fundem juntando as peças num grande mosaico de quebra-cabeça. Instrutivo toda e qualquer experiência e o fim vai ser dado por mim. Explicarei pontualmente às crianças como delimitar o terreno. Afinal de contas não sou um geográfo em formação? Então assim delimitaremos a territorialidade de nossas vidas afim de fugir do imenso monstro abissal construidos meses a fio afim de gozá-los ao final da vida.
Se o fim a todos não sabem construir. Eu o construirei afim de ensinar. Quão pobre e baixo sou.
Infinitamente situações se colocam aos presentes, afim de instruir. Percebam todos a loucura que produzi, como um cão a ladrar, ladrar, ladrar e uma criança a chorar, chorar, chorar, chorar.
Ponto de partida é o silêncio -raciocínio lógico foi desligado- e partindo disso tudo á parte para a argumentação. Chore se puder até mesmo finja se culhões possuir. Mas a lógica é esta.
Definir a partir da morte. Definições a partir do nada. Imprevisibilidade?
Não claro que não. Apenas um pouco de morte oral para temperar nossas vidas. Nada disso fará mal.
Morte! Eu vi nos olhos, não deveria assim me balançar é morte. Milhares morrem todos os dias. O papa morreu e tá calado. Veja é claro está calado. Ponto de partida novamente a morte.
Está tudo claro, mais claro que mil litros d'água jorrando das mais limpídas nascentes dos andes.
A morte! Não! Ou melhor o silêncio. Sim, esse sim deve ser captado por mim. Devo a partir dele construir o que de resto sobrou do tsunami.
Engraçado que a outros o silêncio nada parece e as atitudes sim parecem o dado inicial. Mas o que fazer. Se de morte falamos, esperar o que senão morte e silêncio como ponto de partida de um método nobre. Parabéns à todos!
Dá próxima vez estarei apto a manipular todo este ferramental silencioso e mortal. Se assim conseguir compreender os seus meios e fins. Acho difícil a mim. Teimoso que sou, ainda fico aguardando no caís a próxima partida de minha embarcação. Sei que para o "lá" não vou mais. Agora espero outro barco, e de repente, pode o mesmo naufragar e no fundo do mar possa eu encontrar meu lugar.

Desembarque

Drummond

Liberdade

O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas livre, bem livre,
é mesmo estar morto.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, abril 02, 2005

O Rochedo Feliz

Embarque


Dançando, o estrobo paralisa a minha esperiência daquele momento com o lugar que estou naturalizando. Passo a passo de corpos dançando vagarosamente todos a procura de seus passos mais pessoais. Mas danço sozinho! O ventilador que nada ventila parece parado ou girando. Estrobo! Estrobo! Paralisando e deixando-me tonto no meio da pista de dança cheia.
De repente no meio daquele caos de imagens tenho um acesso de tosse devido a fumaça de cigarros e fico a pigarrear mesmo dançando e cambaleando tentando expelir o catarro que ainda se esconde em minha garganta.
Projeções, corpos, luzes, olhares, pessoas.
Abre-se um portão cosmológico e eis que aparece a criatura que conheci a anos. Fico a olhar para este indivíduo a esperar alguma reação. Ele apenas a olhar-me a perguntar -penso eu- a si mesmo as razões de meus olhares. Mas conheço aqueles olhos e aqueles contornos tristes que enrelevam seu rosto e me trazem lembranças à mente de palavras vociferadas com tanta dor e propriedade por tal pessoa.
Este sim se entregou. Percebo nele toda a dor do mundo e a insatisfação de sofrer traz consigo a satisfação de escolhas e a propriedade de rasgar várias vezes seu corpo.
Sempre lembrava dessa pessoa, mas hoje parece que mais do que nunca com ele eu diálogo todas as noites, tardes, manhãs, madrugadas e por fim de fios de cabelos percebo sua importância na minha vida. Eu o encontro quando quero e sempre tive a impressão de ser o que ele mesmo nos disse a muitos milhões de anos atrás. Ser o Rochedo Feliz. Sempre o via desta maneira e engraçado como eu me pareço com ele. Nos defeitos é claro. Nas virtudes seria de muita presunção dizer que este indivíduo comigo se parece.
Henry Miller! Meu amigo como me ajudas a ultrapassar meus próprios limites. Não tens nem idéia de como és para mim um porto seguro. Importante porto onde desembarco todos os dias a pacificar meu espírito tão espezinhado pelas minhas próprias mãos.
Sempre que a ti encontro, não faz nem a idéia da felicidade que sinto de encontrá-lo n'alguma banca de livros ou sebo a um preço que posso dispor com muito suor. Abrir este exemplar e passear por suas dolorosas experiências.
Ai ai ai ai! Amigo. Não tens nem a idéia de como talhou em mim algo que tento ser a todo momento como a ti é. O rochedo feliz!
Inclusive amigo devo a ti royaltes literários, pois o copio indiscriminadamente, mas a um jovem como eu ler a linhas que colocarei mais a frente abona qualquer atitude pela vida que você mesmo provou. Muito obrigado por existir amigo. No meio da multidão nunca me senti tão bem acompanhado nestes últimos tempos. Não quero o elevar status de um gênio, nada disso. Apenas acho que você querido amigo, é uma pessoa sensível como eu. Nisto penso poder dizer que somos iguais. E olha só, quantas vezes em teu lugar me coloquei rapaz. Nem imaginas como fortaleceu este indivíduo que aqui esboça algumas linhas de muito obrigado. Apaxonei-me por ti a muito é bem verdade. Passeei por ti noutros momentos mas nunca como nos dias de hoje a mim tem sido tão importante. Sempre o foi. Pela entrega que sentia fazer parte da Sua vida, e como método adotei a mim, pouco importando os fiapos de madeira que em nossas mãos entram ao pegarmos um pedaço de madeira mal cortado.
Sinceramente aqui está um sujeito que não tem medo das emoções. Sim velho Bukowski! John Fante também, mas não esqueça do velho Henry. Ao menos assim eu o reivindico.
Amigo, suas enormes descrições. Ah! Como são apaixonantes. As mulheres, a fome, dor, iniquidade, pobreza, comida enfim...O sexo, como pude me esquecer de tais situações. O seu sexo descrevido pormenorizadamente como uma paixão pelo prazer que indisfarçavelmente tomo para mim. Sou assim também e pode ser um defeito. Penso que me igualo às vezes a ti pelos defeitos. Seus cíumes, raivas, dores. Humano demasiado humano. Gostaria de ter a possibilidade de passar um dia contigo, para vagaorosamente avançar num deliciso desjejum da manhã, depois uma de suas caminhadas e ficaríamos a conversar. Eu exporia a ti minhas experiências e ouviria com todos ouvidos as suas. Depois um longo almoço com algum vinho francês que você tão adora e depois uma sonolenta tarde de algumas bebidas diremos assim um pouco mais pesada para ajudar na fluição de nossas engrenagens perceptórias.
É amigo! Talhou em mim o amor por ti. O Rochedo feliz.
De sua boca as linhas que se seguirão, eu as ouvi serem pronunciadas de sua boca.
Abraços Homem!

Extraído de Plexus
"Em cada período crítico da minha vida pareço haver tropeçado num grande autor capaz de amparar-me. Nietzsche, Dostoiévski, Faure, Spengler: que quarteto! Houve outros, naturalmente, também importantes em certos momentos, mas nunca possuíram a amplitude, a grandeza dos quatro. Os quatro cavaleiros de meu Apocalipse partícular! Cada um expressando inteiramente sua qualidade específica: Nietzsche, o iconoclasta; Dostoiévski, o grande inquisidor; Faure, o mágico; Spengler, o modelador. Que fundação!
Nos dias do porvir, quando eu parecer sepultado, quando o firmamento ameaçar a cair sobre minha cabeça, serei forçado a abandonar tudo, exceto o que esses espíritos em mim implantaram. Serei esmagado, aviltado, humilhado. Serei frustrado em todas as fibras do meu ser. Posso até ser levado a uivar como um cão. Mas não estarei completamente perdido! Raiará o dia em que, repassando a vida como se ela fosse uma história ou a história, poderei nela detectar uma forma, um modelo, um significado. Daí em diante a palavra derrota se tornará inexpressiva. Será impossível uma reincidência.
Desse dia em diante, eu me torno e permaneço fiel à minha criação.
Um outro dia, numa terra estrangeira, aparecerá diante de mim um jovem que, consciente da mundança que em mim se processou, me alcunhará de "O Rochedo Feliz". Este o apelido que darei quando grande Cosmocriador perguntar "Quem és?"
Sim, sem sombra de dúvida, eu responderei: "O Rochedo Feliz!"
E se me for perguntado: "Apreciaste tua estada na terra?" eu responderei: "Minha vida foi uma longa crucificação encarnada".
Quanto à significação disso, se ainda não está claro, será elucidada. Quero ser um cão na manjedoura, se falhar.
Uma ocasião, pensei ter sofrido o que nenhum outro homem sofreu. Por me sentir assim, fiz o voto de escrever este livro. Mas, muito antes de iniciar o livro, a ferida cicatrizara. Tendo jurado cumprir a promessa, reabri a horrível ferida.
Permitam-me outra expressão...Talvez, ao abrir a ferida, minha própria ferida, eu fechasse outras feridas, as chagas de outra pessoa. Algo morre e refloresce. Sofrer na ignorância é horrível. Sofrer deliberadamente a fim de compreender a natureza do sofrimento e aboli-lo para sempre, é outra questão inteiramente diversa. Buda teve um pensamento fixo a vida inteira, como sabemos. era eliminar o sofrimento humano.
Sofrer é desnecessário. Mas temos de sofrer antes de sermos capazes perceber que isso é assim mesmo. Somente então o verdadeiro significado do sofrimento humano fica claro. No último momento desesperado - quando já não podemos sofrer mais! -, algo acontece, da natureza de um milagre. A grande ferida aberta, que vertia o sangue da vida, se fecha, o organismo floresce como uma roseira. Estamos "livres" por fim, e não "com saudades da Rússia", mas com a ânsia de mais liberdade, de mais felicidade. A árvore da vida é mantida viva não por meio de lágrimas, mas pelo conhecimento de que a liberdade é real e perpétua."

Henry Miller


Desembarque

sexta-feira, abril 01, 2005

investigações

Embarque


Novamente aqui - a sentar na mesma cadeira- com a mesma paisagem a ser vista uma desordenação territorial de dar inveja a qualquer desordenador. 10h25.
Hoje não apenas o pó se espraia pelas mesas como todas as minhas coisas ficam a disposição de críticas, perguntas especulações, e o que é pior uma certa investigação de caráter comprometedor sobre posturas e situações. Era só o que me faltava a essa altura do campeonato. Mas já se tem um histórico de uso de tais coisas. Espaço também é dado. Ao inquirir de forma ascintosa devia ter pensando e utilizado uma saída mais elegante e inteligente. Mas em tais horas não penso e vocifero o que a minha caixola vazia aparece e fico a rugir de raiva mediante a pobreza argumental que colocam-me a dúvida.
Let it be!
Algumas posições já cansei de marcar e pedir voz, mas ninguém ouve e ficam sempre com as mesmas impressões produzidas por quem quer pensar por eles. Aí é só esperar as mesmas perguntas, colocações, mitos e todo arsenal pré-fabricado de sentenças toda uma lógica construída como construído foi este lugar. Dá no saco isso. Ah!
Hmmmm. Ao ganhar um presente de um amigo abre-se o mais que medíocre precedente a comiseração familiar sobre o futuro de algumas pessoas e porque não dizer da humanidade. Descendo morro abaixo as mesmas questões. Não! Para mim não mais tudo isso.
Eu sou mais, não menos. Ou melhor não sou mais nem menos. Sou aquele que incendeia a pequena centelha de vida que jaz nos corpos humanos que necessitam juntar-se ao universo numa irrefreada busca pelo indigesto mas glorificante sabor de vida aos ventos uivantes de mar de morros verdejantes e que possuem todos formas de bundas e seios a serem imaginamente chupados como os foram a meses atrás numa praia do litoral tendo uma visão surreal e imaginando tudo e nada ao mesmo tempo.
Uma fuga janela porta escadaria correndo à dispensa afim de resgatar o último saco de feijão para alimentar-nos afim de fugir de alguns algozes que me perseguem em sonho porque sonho fraco e feijão é ferro fazendo de tais devaneios caminhos por onde não precise mais circular por não haver mais frutos neste momento a ser pego no pé ou numa mangueira jaqueira goiabeira e assim por diante n'algum pé desses frutos tropicais. As vergastadas das matas a sangrarem minhas costas talhando uma picada no meio de um arvoredo a responder com fortes caídas de cipós em costas de todos nós rasgando seus fios e deixando lascas a serem retiradas por nossos pequenos filhos de olhos grandes e bocas nervosas a perguntarem irrefreadamente por que a vida é deste jeito e não daquela maneira exposta num desenho de Gorki, Dalí ou Picasso.
Estou inchando de conhecimento para correr e desaguar chorando minhas impressões sobre os acontecimentos e vergastando os próprios cipós imaginários em meu corpo assim podendo já acostumar-me com a falta da proteína ferro em sonhos sonhados chorados de uma infância perdida entre algumas drogas mulheres e brigas mentiras ganhos e viagens em quartos minúsculos com potes de esmalte a vergastar minha mente aos treze ou quatorze anos e num final de semana subsequente cair devido ao enchame dos vapores do alcóol. Afinal de contas tinha apenas algumas primaveras nas costas.

Desembarque