terça-feira, maio 31, 2005

Arthur Rimbaud

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem?
A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

domingo, maio 29, 2005

impossível, fumaça, pigarro.

Embarque

A temperatura exterior caindo e a interior subindo num rompante indescritível por toques.Mas mesmo assim ainda certa solidão perdura, mesmo podendo por mil abraços estarmos envolvidos o silêncio ainda permeia o horizonte gélido da vida.Num final de semana buscamos experiências, ok? Sim. Isto posto, transparente como água. Lutamos afim de encontrar algo que valha a pena. De bar em bar, rua a rua, em suma destilando olhares na arte da própria projeção do ego.Afinal do que é que estou a falar?Sobre impossibilidades apenas isso. Assim nos apresenta a vida. O mundo das impossibilidades e quando tentamos insistentemente quebrá-las, nos machucamos profundamente.Tente para ver no que dá! Mas coloque-se. Expresse a tentativa na sua vida. Não em rompantes regados ao vapores do álcool somente. Também. Mas faça de suas tentativas as possibilidades da felicidade instantânea.A não ser que o medo ainda nos permeie, sendo assim, retorne ao infinito campo da comiseração e da própria sorte.Tenhamos pena de nós mesmos! Por medo ou insatisfação não conseguimos rasgar as amarras da vida.Construir sempre. Bloco a bloco. Assentando o terreno, dia após dia. Velando a vida juntamente com a terra adubada.Nada perdurará sem o jardineiro. Um jardim sem jardineiro não existe. Idealismo. Metafísica.Despregar-se das categorias da vida. Da sujeição as situação elevando ao absoluto o que é sempre construido.Tá frio e sou um forno esperando a lenha. Sempre serei. Sou quente por natureza, por substancia. Por ser o que sou, tudo sou neste que vive. Nada mais, nada menos.Obrigações não as consegui vencer, dias e mais dias se passaram e não consegui dar cabo de certos labores que a mim são depositados. E ligo quanto a isto? Não.A vida se extende muito mais que momentos de insistentes tentativas laborais afim terminar com tais obrigações.O preço é sempre alto. Que elevamos o nosso preço então.Que tudo ao alto seja jogado, e presentemente visto quando ao chão ser beijado.
Desconexo.

Desembarque, destravem-se, desandem, destoem, despir-se.

domingo, maio 22, 2005

Horas e dias são apenas alguns minutos. Nada mais que isso.

Embarque


5h15
8 vezes 40 é igual a quanto mesmo? Hmmmm. 320? Sim isso.
Trezentas e vinte pessoas numa rápida passada de olho em todos os olhos que nos olham esperançosamente por alguma coisa. Falar, falar e falar.
Encher um quadro de informações e falar, falar e falar. Vendo o quadro de bocejos e dentes amarelados e acariados pelo tempo de vida.
Engraçadinhos transvestidos de força e rigidez comportamental.
Não tentemos entender!
O giz tingi minha roupa a cada entrada em salões da desesperança.
Um par de seios tingidos por sardas a serem imaginativamente desgustados pela minha lingua. Apesar da amargura da tal proprietária e de sua rigidez falsamente trabalhada atrás de uma mesa de mogno escuro.
Um senhor com olhos pequenos, que de tão pequenos os faz ser um dos mais idiotas que já vi em minha vida. Por esse fato não deve enchergar direito.
Silêncio ainda? Sim! E por sempre para sempre.
Uma fileira de perdigotos lançados em segundos e um olhar penetrante. Recados, risadas.
O gestual é colérico. Alguém nos entende?
Entender pra que? Nós fazemos as mesmas perguntas sempre e sempre as mesmas meia respostas e digam-me para que tudo isso?
Eu sei ninguém responderá. Sei que sou teimoso, insistente e disso retiro as melhores faculdades deste ser que aqui escreve. A categoria de sempre ir além.
Segurança, propriedade e responsabilidade. Não confunda com um materialismo vulgar.
Será que eles entenderiam?
Nem mesmo a própria condição entendem.
Alienados.
Intervalo = Inferno. Trinta minutos a ter de compartilhar com todos eles. O par de sacolas de carne tingidas de sardas às vezes aparece e some em seguida com seu andar malediciente.
Retorno à cela. Os presos pulam, algazarram e gritam a plenos pulmões como se cada um deles estivessem tomado uma grande carga de cocaína pura a fazer dos mesmos macaquinhos loucos na jaula.
Vagarosamente observo os movimentos de tão superficial riu com eles. Todos tão pequeninos e tão tristes. Ainda devagar abro o espectro das nossas histórias alienantes afim de mais perdigotos pularem.
Ufa
12h20.
Reúno os documentos, cansado e suando a picas pelos cotovelos retorno a caverna escura e lá todos estão a ruminarem suas vãs experiencias.
Um dia, uma hora, alguns minutos sozinho.
Horas e dias são apenas alguns minutos. Nada mais que isso.

Herculano Netto
Desembarque

sexta-feira, maio 13, 2005

Cedam!

Embarque


A diferença de choque que alguns minutos de vento na face faz é imensa. E a observação da paisagem seja ela qualquer. Desde uma pequenina sala até um par de ancas sacudindo-se num bailar erótico temperando as lúgubres ruas.
A voz é mesma. A pessoa. O protagonista faz e refaz seu caminho buscando sentidos. Outrora o desespero e o caos. Hoje o silêncio do não dito.
Apenas a lembrança de horas de sensações lascivas. A canção dos corpos se debatendo quais enguias fora d'água felicitando seus orgãos genitais pela presença do outro. A alteridade é construída na junção dos fluídos que antes temperavam as ruas e noutro momento a temperar nossas entranhas e a sede que sentimos é infinita.
Sempre mais e mais. Não fujam jamais de seus destinos. O mundo gira, como um amigo disse-me, pelo movimento das estocadas de nossos mastros na morada quente e molhada do canal da felicidade instantãnea.
A cada feroz estocada o movimento de rotação se perfaz num ritmo novo e o mundo procura se estocar e ser estocado, numa aritmia que de movimentos incertos mas certeiros no fundo das bocas úterinas.
Cedam todos! Aos nossos orgamos procuramos em todos os caminhos de nossas medíocres vidas. E o que sobra é apenas alguns momentos de lembranças na solidão de uma cama vazia e uma mente abarrotada de imagens de uma foda instantânea e feliz.
Fodemos todos! Fodemos com nossos devaneios solitários de experiências loucas em situações não antes experencializadas. Fodemos todos! Pela vida terrena e pelo fim da procura pela salvação que nunca virá. Já ouvi isso antes. Não haverá barcos salva-vidas para todos. Entreguem-se aos desejos mais sujos que passeiam por nossas mentes quando aquele par de ancas se misturam a nossa visão.
A coisa pulsa no meio de todas as pernas. Enerva-se se não consegue uma morada e cospe em todos num sonho vazio. Numa cama vazia provamos do que não somos capazes.
O mosaico da vida se junta num grande suporte branco. Tintas, pincéis e todo material necessário ao aquarelamento de certas figuras. Uma grande folha branca esperando a tinta cair e assim a tonalizá-la de várias formas. Situações vividas ou não? De que importa, se pobres somos na entrega a outros corpos.
Dedos, Unhas, pinto, buceta, mãos, lava, corrimentos, muco, cu, gosto, lábios, vasos, veias, lingua, dentes, quentura, amor, sexo, saco, ovos, olhos, sombrancelha, orgasmo, esperma, boca. Fuga.
Me entrego a fuga de meu corpo por mais corpos e por mais texturas, gostos, gestos enfim...por mais e mais e sempre mais pessoas.
Novas, velhas, conhecidas, desconhecidas, juntas ou separadas. Afim estão? Da entrega total por horas numa cama qualquer mesmo com pulgas, pregas, pintos, pegadas, pulsação e paulatinamente a introduzir em nossas mentes novas formas de amar fodendo com o que se espera.
A mesma voz em movimento não parece ser reconhecível, pois o movimento modifica e a vida não pára.
Um salve! A estocadas. Rotação e Translação.
Caos! Esperando pela ordenação.

Herculano Netto

Desembarque

terça-feira, maio 03, 2005

Sobre jardins e jardineiros

Embarque

"O que é que se encontra no ínicio? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo o pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro"
Rubem Alves

Desembarque