quarta-feira, novembro 30, 2005

Vezes porém eu espero, vezes porém eu fujo...

Embarque

Entre entreveros e empurrões os olhos se foram para o ralo, agora só resta um borrão negro na face solitária deste imundo e intransigente homem.
Hoje pessoas, amanhã o silêncio. O completo silêncio. Mãos dadas no meio do turbilhão e uma inexpressiva esperança. A mesma? Outras? Esperanças. Esperanças e mais esperas.
Por muito tempo fugi de mim mesmo na pobre possibilidade de encontrar um outro eu. Mas o que quero mesmo é poder amar, me entregar de carne e espírito a alguém. Pecar por isto?
Sabe, talvez sim. Hoje não mais amor preenche os caminhos de todos e sim outras situações. Eu me zerei, fui ao fundo onde antes não tinha chegado nunca, e esse ano vai se encerrando e chego no limiar. No fim, no limite. E um despenhadeiro afim de jogar-me mais uma vez só. Novamente com outros me encontro no descompasso da vida, e por que queria que fosse diferente?
Quais são as minhas vontade de vida? Sexo? Apenas isso?
Hoje mais do que nunca a imensidão das possibilidades se apresentam a mim. A urbe e a possibilidade de ir além, mesmo sabendo que chegaremos num novo limiar.
Fim de mais um ano. Lembro dos outros fins, confins, afins, serafins. E retorno minha atenção para as responsabilidades do dia-a-dia, alguns diriam que fujo assim, mas a realidade apresenta-se assim. Que fazer?
Mas algo novo brota, um novo lugar e pessoas que ajudaram-me neste ano de bosta. Permeado por lágrimas e envolto em braços cai num sono profundo, sonhei, tive pesadelos escuros e úmidos, meus pés doíam com o número do sapato que calçava. Eram uns três números a menos do que estou acostumado a usar e com a umidade ia rasgando a pele de meus cansados pés. O couro quando secava diminuía de tamanho e ia apertando até eu gritar. Esmurrar o vento imaginando um adversário mais forte que eu e quando ele me esmurrava eu gozava, mas não deixava por menos. O esmurava de volta a engastar meus punhos naquela imunda face.
Uma embassidão na vista, manchas. Pareço mais que nunca um trapo, mas vou construindo meu conceito de sorte, amor, liberdade, vida. Cerveja, cigarros, café, arroz e feijão, sal, alho, cebola, bife acebolado com fritas, pinga, suor. Pessoas que reaparecem depois de anos sumidas e num espaço de tempo retornam com um "alo".
Nada além de impressões e sugestões. Caminhar ainda. Hoje e sempre.
Correr é preciso.
Por hoje basta. Texto, anti-inflamatório, discussões, frases encarceradas na garganta e uma imensa vontade de gritá-las ao ar.
Mais uma vez deixado ao léu de toda as situações. Mais uma vez esperando no banco da estação de trem. Mais uma vez meu fígado espera para ser transplantado,. Mais uma vez, mais uma vez.
Vezes porém eu espero, vezes porém eu fujo. Todos os dias eu cuspo na própria face, e usualmente eu tento cumprir minhas tarefas, diariamente eu tento e tento e até arrisco a dizer que consigo fugir, e vou ao encontro dos meus próprios testículos.
A quilômetros de distancia das exasperativas situações, a metros do que poderíamos dizer...Um novo homem.
Tarefas

Desembarque

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