Embarque
Acalentando o fim dos dias caminho a passos largos ao encontro do enorme desfiladeiro com a garganta seca e os lábios rachados de tanto sol que incide sobre meu cansado corpo. A paisagem é agreste e quente, o sol queima minha retina. Pareço andar no próprio inferno e encontro um íngreme terreno seco e rachado como meu corpo. A expressão interna é vista nesta paisagem os tons amarelados e o gosto de terra na boca, a visão cansada, o corpo ressequido e inerte, sou perseguido pelo sol que não dá paz. Ele torra minha pele e racha meus lábios.
Cansado e sem água não há mais como caminhar, prefiro deitar-me sobre o solo quente a espera de alguma nuvem a quebrar o galho colocando-se a zênite de meu corpo, mas como deus todo poderoso não existe, nuvem alguma nasce e pertenço mais que nunca a este deserto quente e seco. Ao lado de meus pés cabeças de bois secas e a minha mão apenas um graveto que agarrei assim que cai pesado. Pensava quando cai segurar algum tipo de fragmento mais presente que a presença da própria terra amarela.
Uma voz se perde na imensidão da minha memória e também deste deserto. A árvore seca a qual recostei-me dá abrigo, sinto seu corpo morto, rachado e aberto. De vida está gelada, findada pela alta temperatura e pela falta de água, mesmo assim agora ela me serve de algo, protege este cansado corpo. Estou a milhares de quilômetros de algo, perdido e cansado com três companheiros – o sol, a terra quente e a árvore morta – além deste, apenas minha voz. Há também um sopro quente misturado a cristais de rocha que entram no meu olho e cego fico por alguns momentos. Não há mais como prosseguir, deitado espero. Aguardo de alguma forma algum tipo de ajuda, estou tão cansado que as pernas insistentemente tremem e já desisti de controlá-las. Encosto ao podre tronco e espero um milagre...1...2...3...!?
Desembarque
quarta-feira, março 15, 2006
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