terça-feira, agosto 01, 2006

Visões

Embarque

Sempre me perguntei se um dia conseguiria escrever algo que fosse mais coerente, ou literalmente falando, mais alinhado a uma determinada corrente política qualquer. E sempre que terminava tal escrito saia frustrado em todas as extremidades de meu ser. Se é que isso é possível.
Nos diversos vai e vem do dia-a-dia vários insights me apregoavam a possibilidade de alcançar este singelo objetivo. A cada possibilidade não externada, ou a cada idéia esquecida, ficava completamente emputecido pela incapacidade a pregar cada idéia a uma folha de papel. Ou não tinha papel à vista, ou tentava fincar esta na massa cinzenta deste que vos expele seus pensamentos.
Aos passos dados idéias brotavam como se eu estivesse visualizando uma nascente de água, e tudo corria tão rapidamente que não conseguia segurar nada, ia andando e as palavras brotando em minha mente como cogumelos que nascem da merda bovina. Em conjunto a estas, logicamente vinha a frustração de não conseguí-las traduzir a mim mesmo, ou melhor articulá-las.

A cada estação vencida do metrô, a cachoeira de idéias vinha como um furacão de água e como tão rápido vinham, mais rápido iam ao nada, ao enorme fosse negro do total esquecimento. E como de costume. Raiva acoplada a essas experiências.
Certo dia saí da estação de trem mais próxima da casa de meus pais, impregnado de palavras, idéias, enfim mergulhado nas minhas visões. Crente que quando abrisse a tela do computador estas brotariam como uma tempestade em dias de verão, daqueles que caem como balas de rifles disparadas por um maníaco. A cada rua ultrapassada sentia que minhas palavras se esvaziavam do meu couro e acertava mais o passo e mais rápido andava afim de logo chegar em casa. Faltavam vencer ainda algumas boas quadras e andava tão rápido que decidi correr. Se ao menos tivesse algumas sujas folhas de papel poderia sentar em algum banco sujo e lá depositar estas visões, mas como Deus, esse todo poderoso velho filho da puta não da asa a um anjo sujo como eu e nem a cobra, eu corria, e como corria. Tentava perfilar todas as idéias, do começo ao fim. E quanto mais me prendia a não perde-las, mais elas escoavam de minhas pobres mãos como um rio que desce rumo as suas planícies. Venceria a última rua e tentei tatuar estas idéias na minha cabeça, e mais pensava em abrir logo o portão, vencer as escadas sem que ninguém viesse a ter comigo um diálogo besta como sempre teriam a protagonizar. Avistando a rua de casa, uma imensa alegria preenchia meu corpo. Quando lá chegar poderia me esvaziar como uma grande represa explodida. Mais parecia querer cagar de tão estranho e rápido que caminhava. Estava similar a um idiota que com o buxo cheio de bosta teria de defecar tão rápido que de tão rápido que caminhava o bolo fecal parecia telegrafar minha cueca. Vencido o portão, a escada, a porta de casa faltava rumar ao computador e lá depositar meu enorme bolo fecal constituído de várias idéias.
Adentrando a casa e adrenado, faltava ligar a maquina, depositar meus pertences n`algum lugar, tomar um bom gole d`água e esperar o sistema operacional iniciar a maldita maquina e comecar. Sentado a espera do ritual de iniciação de mais alguns textos
E lá vem, abre-se o editor de texto. Caga-se se come parágrafos e nada que preste.
A raiva começava a comer o sistema digestivo deste. Pensava nos grandes, a minha mente corria por Miller, Dostoiéveski, Kafka, Camus, Hemingway, o velho Buk, Niestche, Ginsberg, e muitos que me acompanharam nestes anos, e o que estes demônios fariam no meu lugar. E as porras dos parágrafos não se constituíam não se reproduziam e eu como um mobral catando milho das idéias e tentando achar as espigas que me haviam inundado.
Mas pra variar, porra nenhuma.
Saia do quarto ia a sala, tomava um gole de um JB de meu pai para tentar aclarar visões, mas apenas um bolo no estomago depois de alguns tragos. E voltava a maquina que comia minhas idéias e começava a esmurrar o teclado com raiva a fim de achar algum parágrafo que fosse algo de um pouco de qualidade, um “que” de palavras juntas que púdesse me contemplar. Mas zero. Um enorme zero à esquerda apenas isso. E quando pensava ter escrito algo da qualidade de uma cerveja barata mais frustrado ficava e nem revisava a merda do escrito, aliás, preciso obter essa qualidade a de um revisor de meus escritos.
E quanto mais afundava em parágrafos infundados mais mentia a mim mesmo, pois sabia que as malditas idéias que tinham vindo há horas passadas em algum lugar tinham se esvaído no mar de lamentações, correria, atenção, enfim tudo tinha ído por água abaixo completamente.
Pois é. É assim que as coisas caminham, ou teimam caminhar. Pode ser uma espécie de tarefa a ser trabalhada num outro momento.
Hoje as coisas caminharam mais ou menos da mesma forma. Só que diferentemente do passado não saí correndo pelas escorregadias ruas, com medo das escorregadelas de minha memória. Relaxei. Deixei pensamentos vir e ir, passando minha retina pelas paisagens da grande cidade tentando relacionar estas idéias com alguma coisa que valha.
Relaxei. Apenas isso.
Revisar? Reler isso aqui?
E a tal história do diamante bruto, que quanto mais bruto, menos brilha. Ou que quanto mais lapidado mais pode mentir.
Sofisticação. Com isso não me preocupo.

Desembarque

3 comentários:

amor-fati disse...

caralho alessandro,
não posso ficar vendo essas coisas aqui na FFLCH. caraca....

Felipe Nascimento disse...

miserê!

la lumière disse...

Muito bom o seu texto, consegui exprimir de uma certa maneira o que eu sinto tambem em escrever um texto, nunca achando palavras certas, mas ao mesmo tempo não conseguindo revisa-los por achar que não vale apena!
Parabéns .