terça-feira, abril 10, 2007


Embarque

If you could read my mind - Johnny Cash

If you could read my mind, love,
What a tale my thoughts could tell.
Just like an old time movie,
'Bout a ghost from a wishing well.
In a castle dark or a fortress strong,
With chains upon my feet.
You know that ghost is me.
And I will never be set free
As long as I'm a ghost that you can't see.

If I could read your mind, love,
What a tale your thoughts could tell.
Just like a paperback novel,
The kind the drugstores sell.
When you reached the part where the heartaches come,
The hero would be me.
But heroes often fail,
And you won't read that book again
Because the ending's just too hard to take!

I'd walk away like a movie star
Who gets burned in a three way script.
Enter number two:
A movie queen to play the scene
Of bringing all the good things out in me.
But for now, love, let's be real;
I never thought I could act this way
And I've got to say that I just don't get it.
I don't know where we went wrong,
But the feeling's gone
And I just can't get it back.

If you could read my mind, love,
What a tale my thoughts could tell.
Just like an old time movie,
'Bout a ghost from a wishing well.
In a castle dark or a fortress strong.
With chains upon my feet.
But stories always end,
And if you read between the lines,
You'll know that I'm just tryin' to understand
The feelin's that you lack.
I never thought I could feel this way
And I've got to say that I just don't get it.
I don't know where we went wrong,
But the feelin's gone
And I just can't get it back!

Desembarque


Minha Ausência

Embarque

“... eu preciso andar um caminho só, vou buscar alguém que eu nem sei quem sou. Eu escrevo e te conto o que eu vi e me mostro de lá pra você. Guarde um sonho pra mim”.
Rodrigo Amarante – Los Hermanos

Voltei. Tinha passado alguns minutos e tão puto que estava com o texto anterior que vou tentar fazer algo que me satisfaça mais. Percebi que às vezes o barulho e tão grande na minha cabeça que não consigo concentrar-me e as lágrimas rolam pelo meu rosto por eu não conseguir organizar meus sentimentos. Tudo pode ser fácil. Veja bem, mas ninguém disse que seria fácil, disse que poderia. Mas por que afinal de contas eu posso afirmar que pode ser fácil. Todo mundo sabe que é uma bosta esse encadeamento de momentos. Alguns momentos destes nos fazem morrer aos poucos ao observar a falsa serenidade alheia. Eu luto pra ver a minha serenidade e me desespero e me aterrorizo ao não conseguir aplacar os meus medos. O tempo vai passando, os encadeamentos dos momentos fogem do meu poder e me sinto descontrolado correndo com a cabeça de uma lembrança a outra sem qualquer organização e corro pra essa porra de cadeira e me observo nos textos, mas não mais me enxergo. Meu coração parece querer pular pela garganta e me abandonar. As malditas lagrimas rolam pelo meu rosto e não consigo controlá-las. Pareço perdido no meio do não-lugar e tento gritar e pulo, sento e arranco o solo do chão. Enegreço minhas unhas urrando de raiva tentando ver alguém que eu conheça. Mas nada. Não conheço mais ninguém, porque não me reconheço. Luto contra minhas memórias e elas vão corroendo pelo que eu era, em contrapartida do que sou. Alem de me sentir ausente e só, não consigo organizar minhas próprias idéias e tudo se perde num mar de lamentação e lágrimas como a água suja que escorreu da pia quando a limpei minutos atrás.
Tenho a impressão de fugir do meu próprio eu, não consigo organizar um pensamento sequer. Ontem ao caminhar pelas ruas, eu ficava extasiado observando os rostos, imaginava a riqueza de detalhes de todos. Hoje eu caminho tão absorto nos meus devaneios que a todo momento sou sugado por elas. Antes eu conseguia compor algo que mesmo pobre tinha um acabamento coerente. Hoje as coisas vêm à cabeça e não consigo organizá-las coerentemente. E não é questão de ser racionalista, mas sim de minimamente conseguir me organizar frente ao mundo que parece querer me engolir.
Antes aquela canção tocava no meu âmago, antes eu seguia minha vida em virtude de outra vida, antes eu chorava ao sentir a ausência. Antes tudo, e hoje me parece que nada. Uma ausência fria me fere os poros. Ausência de mim.
Eu queria poder correr na praia. Se for pra se sentir só que fosse vendo o movimento de idas e vindas da água salgada do mar. Se fosse assim, poderia caminhar de uma ponta a outra da praia. Cansar e sentar na areia e cavar. Fazer castelos de areias e depois destruí-los com ódio, ou deixá-los ao desamor das marés que sobem e descem corroendo todo que está a sua volta. Hoje percebo que o tempo me corroeu. Lavou o meu sentimento e fiquei ainda sentado naquela praça me lamentando. Afogando-me nas próprias lágrimas ao ser iluminado pelos faróis dos carros que passavam. Nesse momento, as responsabilidades parecem se dobrar em mim, e com medo pareço um pequeno jovem que pode não dar conta de um determinado trabalho. A fuga dos meus sentimentos é a decretação de minha derrota enquanto homem. Tudo enrolado, desorganizado. O guia, produção, dor, confusão, cicatrizes, números, símbolos e signos. Sangue, sal, seguro, caminho, merda, arranhão. Projeto, letras, discurso, telefone, vazio.
Eu gostava de ficar quieto e observava os detalhes das coisas, continuava vendo cada curva se fosse uma mulher, ou se fosse uma música cada nota. E se um livro, me afundava em seu discurso. E quando frio minha carne estava, eu rasgava ela pra ver se estava vivo e deixava o sangue escorrer e cair no chão. A previsão que tinha dos meus acontecimentos era que retornaria ao meu normal. Era passageiro o momento.
Hoje meu momento é de desconcerto e vou levando por aqui pra ver até aonde eu chego com a desorganização discursiva. Se pretendo sentir e operacionalizar num sentido mais formal, quero ver aonde chego com esse blá blá blá sem princípio e sem final organizado mais parecendo uma torrente de um rio que desce depois de ser explodida sua represa.
Sabe-se lá um dia aonde e como vou conseguir retornar as coisas e continuar a observar as coisas da mesma forma, ou quem sabe nunca mais volte. Que daqui pra frente será isso. Ausência de mim mesmo.
Qual é a sensação de estar perdido? É não conseguir se organizar e fazer as coisas como antes. Pra mim é desse jeito que se apresenta essa coisa. Antes eu tinha uma tal preocupação com um realce estilístico quando escrevia. Pensava nas palavras. Eu as corroia na minha cabeça. E hoje estou mais pra ejaculação precoce do que nunca, as coisas vêm e assim que chegam vão sendo gorfadas aqui. Achava que tinha de ser reconhecido enquanto sujeito que tentava escrever e organizar meus sentimentos na forma de palavras. Uma do lado da outra são frases, e quanto mais frases um texto e quanto mais texto mais dor.
Não há escapatória, saída, porta de emergência ou coisa do tipo.
Não sei como cheguei aqui, e parece-me que terei de revisar. E vou chegar à mesma definição que já tinha expressado linhas atrás – desorganização. Não consigo mais explicar nada, nem satisfatoriamente me colocar e fazer com que entendam o que está aqui.

Desembarque

Soluço

Embarque

Às vezes eu ouvia minha voz lá no fundo gritar e mais alto que gritava eu mais tentava abafar aquilo. Quando mais andei, mais abafei essa voz no passado. Estranho dizer, pois sempre queria tudo claro, e quanto mais pedia isso, mais tentava dar também. Em tudo. Clareza, atenção, carinho. Todos esses gestos eram parte e extensão de tudo o que eu sentia de mais perfeito e bonito. É como se eu retornasse aos meus 12 ou 13 anos. Quando às vezes arrumava briga na escola e brigava, batia ou apanhava. De qualquer forma voltava dolorido pra casa. Cansado mesmo. Com meus nervos em frangalhos.
Dores musculares percorriam meu corpo como se eu estivesse sido açoitado, e por assim dizer posso ter sido mesmo. Mesmo que um agente externo não tenha me esbofeteado, eu mesmo o fiz. A dor é correspondente aos passos dados em direção ao nada, ou melhor, sabe-se lá pra onde eu possa estar rumando e a forca vai me sufocando na medida que vou me distanciando.
Fiquei observando meus atos, meus sentimentos, e não cheguei a conclusão alguma, e pode ser que não chegue nunca. Apenas aquela ausência, e de maneira diferente que do passado. As noites têm sido longas, demasiadamente longas, e os pensamentos correm para lá e para cá sem repousarem em nenhum lugar. Diagnósticos e mais levantamentos do passado e do futuro.
Eu nunca fui muito bom em dar conta de certas coisas e acho que continuo sendo um tanto quanto relapso, é verdade. No sentido que meu pai falava em certas ocasiões. Nesse momento a louça esta pra ser lavada. Já tentei três vezes dar conta dela, o banheiro está um lixo e tenho um monte de roupas a passar. Estou acompanhado de meus dois gatos que correm de um lado a outro. Mas eu queria um abraço, um carinho. Por mais que possa parecer estranho me sinto desprotegido e ausente de mim mesmo. Meu pescoço pesa, a respiração é funda e os olhos ardem. A voz embarga e a garganta parece se fechar.
Mais uma vez de um lugar a outro sem percorrer linearmente minhas idéias. Ultimamente escrever tem sido um martírio. Uma vontade louca de destruir tudo ao redor. Explodir com o mundo. Eu já disse isso outras vezes, minha voz é como a de tantos outros e isso me mata.
A saudade, inexperiência, raiva.
Paro com essa bosta de texto por aqui.

Desembarque