terça-feira, outubro 31, 2006

Amarelo Cinza

Embarque

Num dia sombrio, tão soturno quanto o cinza escuro. Enquanto o retrovisor registrava meus olhares em contratempos, e enquanto furtivamente caminhava uma outra pessoa ajustava suas malas a partir para todo o sempre que nos resta. Parece que tinha tempo limitado a convivência com ele, e como limitado que é – se foi - justamente na semana de um ano juntos. Suas poucas vestimentas ficaram espalhadas pela casa como que apregoasse a mim que eu não esquecesse jamais. Ele se foi. Deixou seu reinou e sumiu sabe-se lá para onde.
Dias passaram e ao olhar pela janela nenhum sinal dele. A espera sufoca e mata a esperança de esperar pelos sinais característicos de sua pessoa.
As roladas no chão, os cadarços a serem desamarrados...Tudo foi armazenado como nunca antes tinha sido feito em singular relação. O banho, as reclamações, os espirros de juventude, as roupas largadas pela casa, o seu cochilo em minha cama mordendo meus lençóis. Está tudo guardado. Restaram as lembranças ainda não empoeiradas de suas andanças e chiadas. Suas reclamações cotidianas por atenção e afim de brincadeira. Seu reino continua aqui. Intacto. E meu amor por ele o mesmo. A saudade afoga minhas lágrimas de tristeza e o grito mudo na garganta foge ante a inundação das lembranças.
Levou-se consigo em sua mala um retrato de cada um de nós, em cada moldura uma lembrança a ele diz respeito. Separou suas roupas enquanto eu caminhava… E assim tão rápido ao chegar, pelo medo que tinha por aqui estar e como no passado em meu quarto se escondeu, de minhas andanças sumiu. Não deixou sequer um adeus. Ele se foi num dia sombrio tão soturno quanto o cinza escuro... Se bem que mais triste e soturno é a lembrança e a impossibilidade de sentir seus abraços.

Desembarque

3 comentários:

Ana Gehenna disse...

quase me fez chorar rapaz. pensa assim, assim como uma pessoa não ocupa o lugar de outra... um ser tão querido não pode ser substituído, mas você pode amar a noala, que (lá vou eu piegas) precisa muito de amor.
queria que Amarelo voltasse... acho q a ultima vez que vi ele eu fiquei brigando, depos vc tentou fazer ele miar ao telefone e não funcionou. tô com saudades dele. mesmo... mesmo.

Gustavo disse...

gatos são eternos filhos rebeldes.

Marcelo Fonseca disse...

Eles vão como filhos. Eles morrem como parentes. Eles reclamam como nós.E são muitas as vezes que me pego pensando sem querer pensar.

Temo me ver neles e me vejo. A família diminui e cresce, fato conversado por nós tantas e tantas vezes.

Mirar o horizonte e se fazer incansável é como se abrir a possibilidade. Em breve 2 pivetes correrão por esta casa.

outros tempos, outras sensações.

abraço.