Embarque
Comecei algumas outras linhas e apaguei-as deliberadamente. Eram péssimas. Há tanta coisa pra se escrever, que até me perco. Poderia começar a relatar as impressões dos últimos dias, ou quem sabe alguma experiência do passado. Ou mesmo deliberadamente misturar sonho, com realidade, bater tudo no liquidificador. Beber e vomitar aqui.
Sigamos o meu raciocínio. São tantas coisas...Que só de pensar em tentar escolher alguma coisa já seria uma tarefa por demais trabalhosa. Quem sabe a pobreza pode ser um bom assunto a ser enredado e amarrado. Talvez escolha alguma outra situação. Pensei poder falar de escolhas, mas se não escolhi pelo assunto pobreza porque cargas d`água haveria de falar de escolhas. Ta, mas e daí? Escolhas e mais escolhas na minha mão, e algo resolvido? Muito pelo contrário meu caro leitor. Já se foram algumas boas linhas e o pêndulo vai e vem sem aparente resolução. Acho que por hoje essa sensação do não saber os porquês da vida se abateu sobre mim. Tranqüilamente eu observei o cortejo de ontem, aliás, eu fiz parte desse cortejo. Empurrei-o com louvor e observei as cores das flores e o sol luzia mais forte que nunca. Poderia ter chovido no dia anterior, assim a grama ficaria molhada e mais reluzente aos raios solares.
A vida é uma coisa engraçada, nos reconhecemos em certos períodos tão complicados de nossa existência que chega a ser tragicômico. Reconhecer o obvio e sentir o companheirismo dos ventos que sopram na minha orelha, construindo frases com as formas de choque do vento contra meu rosto. A cumplicidade nesse momento se faz presente, a cada amanhecer e a cada vez que a janela é aberta o mesmo companheiro pronuncia algo. Ao soar nos meus ouvidos suas palavras tomam cores e reluzem ao sol da manhã anêmica de outono. Os tons pastéis, com vozes ásperas e arrastadas, o rio de asfalto azul escuro corre ao fim do mundo pintando a paisagem entregue e absorta. Eu posso sair e caminhar, ver o sorriso anêmico dos presentes e conversar com os ventos que me cercam, e me conduzem ao fim do rio de asfalto, sendo iluminado pelo anêmico sol de abril e maio. Sendo cercado por quilos de folhas mortas que são sopradas pelos ventos na minha retina. Em formato de serras, essas folhas quebradas rasgaram meu globo ocular, e depositando-me ao chão me protejo dessas folhas, a sentir a dor nos olhos. Mas antes, me certifico que ainda enxergo. Os tons estão ainda mais fortes, uma espécie de amarelo morto aguado e um azul que dá ânsia de vomito de tão forte e escuro que é. As serras das folhas ainda estão em meus olhos, mas observo as coisas. A certificação que posso observar os outros e as coisas ao meu redor.
A obviedade do ser se tinge de pobreza quando este outorga da sua felicidade pelo bom andamento do consenso atual da coletividade. Frases, palavras e dor, mais sentenças e encaminhamentos, e quando as malditas serras das folhas rasgavam meus olhos, senti a luz preencher meu estomago e de uma ânsia de vomito ininterrupta que vomitei no rio de asfalto fazendo um caminho de vomito que não parava de sangrar minhas narinas e correndo fui ao farmacêutico com o canto dos ventos aos meus ouvidos sendo cercado de mortos vivos pude ver a maldita luz anêmica desse sol que teima tingir minha pele de amarelo enquanto sofro de dores no estomago ao vomitar os espinhos das folhas serrantes no eterno azul escuro do asfalto.
O mesmo de sempre da mesma forma com os mesmos contornos interpelando os mesmo, de mesmo, pelo mesmo, afeito aos mesmos...A fim de conseguir algo. Do gênero literário pulamos para a fábula medíocre dos tolos e incompreendidos do mundo anêmico que nos rodeia, ou que nos rodeamos. Somos anêmicos, medíocres e entregues. Famélicos e fáceis de usurpar, a fim de sermos estuprados todas as noites enquanto nossas lágrimas irrompem por nossos olhos endireitamos nosso traseiro ao enorme consolo que vai rasgar nosso pobre rabo fraco e vamos chorar calados sem reclamar. Vamos sentir os dentes rasgando nossa pele como os dentes das folhas rasgaram meus olhos. Eu principalmente vou me deitar e pedir, porque sou pobre de espírito e devo me entregar aos pobres e famélicos, fáceis e idiotas, aos vermes, lixos, medíocres, usurpáveis, finitos em existência, tristes e corruptíveis.
Uma insana dança de mortos vivos são vistas nos dias, um bailar idiota e que cheira a bosta. Uma dança idiota com seres idiotas iguais a mim e a você. Iguais a nós. Eu queria esmagar suas cabeças com as minhas mãos. Enfiar um machado nas suas bocas, quem sabe arrancar o maxilar em alguns golpes certeiros, e depois embarcar esses corpos a um incinerador central, e de lá faríamos fogueiras pra nos aquecer e nos lembrar de quão vermes e baixos somos todos. Iria explodir as centrais telefônicas pra que ninguém, nenhum pai ou mãe falasse com seus filhos, que nenhum trabalhador se organizasse e nenhum maldito patrão conseguisse chegar a seu lugar de destino a tempo de vender suas coisas a tempo de lucrar e seu veículo seria invadido por grandes roedores que comeriam até a cartilagem de suas gengivas de tanta fome que sentem. E nós seríamos o prato principal a ser degustado com raiva e apreço pelo ódio de nossos espíritos. Os mortos vivos como nós, seriam entregues numa espécie de fornalha e queimaríamos nossos corpos, ardendo em nossas narinas as chamas nos reduziriam a cinzas, depois essas, seriam espalhadas por aí.
Um comentário:
e ai maloqueiro, gostei do texto, se não soubesse de quem é o blog, julgaria que podria ser seu!!
aquele abraço
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