quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Embarque

Dias e mais dias se passam, rostos e mais rostos a minha retina captura e dispensa sem ao menos uma investigação mais apurada.
Dias difíceis! Que nos quais rompi com uma série de acontecimentos e situações que atingindo a este cansado corpo, derrubava minha vontade de respirar.
Muitos espasmos ainda consomem meu corpo, mas sei o que quero, e apenas eu sei o que sinto, como e quando. Dificilmente sairei ileso de uma condição de desespero que se prosta diante de mim, mas a vida é isso e nada mais. Talhos, marcas, cicatrizes, ferimentos, pus, dor, lágrimas, insônia, espasmos, vontades. É tudo isto e mais um pouco! É buceta, rola, braços, mãos e pernas. É um pancreas, figados, coração, pulmões, estomago, intestinno, bexiga, próstata, espinha, bílis, ânus, dedos, lingua, lábios, saliva e tudo mais que compoem esta carcaça viva que circula por ruas afim de fugir de seu próprio algoz. Seu próprio coração. Amar!
Reuna todos estes instrumentos acima citados, cole-os um a um e terá um corpo. Perfeito, pronto para ser introduzido na maquina louca dos dias atuais, a cumprir todas as convenções que todos cumprem todos os dias. Está pronto para ser mais um, igual a todos. A fazer parte do grande exército de formigas escravizadas pelo medo. E de suas próprias angústias reina seu oxigênio. Pobres, ou melhor, miseráveis de espírito. Perfeito como o grande senhor o planejou.
E com uma vontade imensa de ser mais um. De não fazer diferença, de seguir o fluxo maquinal que todos seguem.
Está pronto, agora vá adiante. Alinhe-se na fileira, seu número já foi separado e suas vestes de estopa estão indiscutivelmente em cima de suas formas.
A perfeição da vida é ser a morte transvestida de movimento.
Raiva? Não! Necessidade de oxigênio.

Desembarque

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