domingo, julho 30, 2006

Refazer

Preguiça.
Reler e refazer o texto abaixo

quinta-feira, julho 27, 2006

O Cúmplice

Embarque

Eu resolvi seguir seus passos, sempre que pela mesma rua passava sentia aquele olhar perturbador, digo o meu. Uma enorme necessidade de saber o que aquele verme estaria fazendo naqueles dias depois de ter-me golpeado por trás. É verdade, eu tinha uma certa sede de saber porque tal fato motivou a ira daquele filho da puta a golpear-me pelas costas. Sabendo disso, eu comecei a seguir seus passos e diariamente percorria o mesmo caminho a fim de alcançá-lo um dia sozinho e proceder com algumas perguntas a ele.
Quando saía de casa sempre pesava a minha consciência as lembranças do gosto de sangue que percorria pela minha boca, e se esvaia por minha garganta. Lembrava de seu sádico sorriso e deus cupinxas ao golpearem minha cabeça. Não consegui de forma alguma esquecer aquele brilho amarelo de seus dentes separados. Pode-se dizer que era um sentimento –por vezes- meio sádico de minha parte a lembrar de certos detalhes, principalmente os de expressão que me reportavam ao fato.
Semanalmente presenciava chegar o ódio a minha maxila e começava a serrar meus dentes. Sempre essa serração chegava com a lembrança dele. Ficava absorto submergido ao lugar que eu presenciara há anos atrás. Num dia, numa rua qualquer de meu bairro de infância o vi, e como a tempos não o via resolvi seguí-lo a passos largos afim de encontrá-lo a algum espaço resumível a meu favor e esbofetear a fuça daquele sujeitinho.
Num certo momento me escondi num arbusto, pois ele parou numa banca de jornal e olho para trás, imaginando – penso- estar sendo seguido, ou mesmo, ele possa ter lembrado daqueles minutos aos quais foi surrado. Será que ele lembraria disso? Pouco importa.
Pensava apenas em encontrar aquele filho da puta e enfiar um garfo torto e enferrujado em sua garganta fazendo-o engolir de forma passar a ele a mesma sensação que engoli há anos.
Ao sair da banca de jornal, ele entrou em seu prédio, ou penso que o fosse. Fiquei por alguns minutos indeciso a porta do prédio, não sabendo o que fazer. Dei a volta a quarteirão e encontrei sua janela, me escondi para que não me observasse.
Que poderia eu fazer numa situação daquelas. Subir a seu apartamento, pedir licença a seus familiares e esmurrá-lo até que sua face se desmanchasse em meus punhos, ou esperaria ele a sair de sua casa fora da visão de sua mãe e o mataria a poucos e certeiros golpes?
Que faria eu? Seria mais covarde que ele? Largaria minha sede de vingança e voltaria a meus trabalhos. Resolvi subir.
Ao observar sua janela tentei ver com mais clareza em qual bloco ele morava. Achei.
Pensava comigo mesmo, como abordaria aquele homem.
E se ele ao abrir a porta, já me lançasse um golpe? Fiquei mais tenso e a boca seca parecia ressecar todo meu corpo, principalmente meus punhos serrados. Decidi subir. Ao passar pelo porteiro disse que iria ver um síndico do condomínio, falei que era de uma revista de anúncios de condôminos, o idiota prontamente indicou-me ao apartamento do tal síndico, mas com meu objetivo intocado resolvi ajeitar a mochila que carregava. Chegando a seu andar, quando ia bater a sua porta voltei e uma súbita falta de ar me acometeu e fui jogado à cegueira por alguns minutos. Cai próximo ao degrau da escada e quando recobrei minha consciência, o referido rapaz ajudava a minha recomposição, e o pior ele nem fazia idéia de quem eu era. Rapidamente buscou um copo com água e o porteiro veio a meu socorro prontamente dizendo que eu tinha me dirigido ao apartamento errado, que o do síndico era um outro. Recostei-me a parede e fui lentamente tentando recobrar meu juízo, meu rosto eles diziam estava branco, perguntaram se tomava algum tipo de medicamento e eu sem pronunciar uma única palavra. Queria na verdade reconstituir minha consciência e sumir daquele lugar sabia que não poderia fazer nada naquele estado. Rapidamente pronunciei algumas palavras dizendo que estava tudo bem, e que teria de retornar a redação da revista a qual nunca trabalhei.
Sai correndo maldizendo a mim mesmo e querendo mais do que nunca enfiar um cutelo na barriga dele, com a impressão que fiquei por ter sido arremetido por um mal súbito, pensei que o medo tenha me inundado, ao imaginar que mais uma vez teria de ser jogado ao chão e apanhar como um cachorro sem dono na rua e pedir clemência aos céus. Não. Ele vai sentir o peso de meus punhos nem que eu tenha de preparar um plano para isso.
Sabia que agora aonde morava, poderia pular o muro num dia chuvoso e rumar a seu encontro sem tremer, sem mal súbito algum. Isso eu podia.
Dias se passaram, fiquei com uma impressão de medo e rancor que me faziam ter ojeriza da cara daquele sujeito, por isso teria de fazer alguma coisa. Sabia que minha saúde era boa, não das melhores, mas não havia uma causa para que ficasse tão mal como tinha ficado dias atrás.
Meu dia se aproximava, tinha delimitado um certo número de dias para que minha consciência se reconfigurasse e eu marchasse a seu encontro a fim de findar aquele ódio que corroia o estomago, punhos, olhos e maxilares e mais outras tantas partes do meu corpo.
Pensei pegá-lo na saída pela manhã ir a seu percalço até seu trabalho e lá fazer o serviço, que para mim a essa altura já era questão de honra. Como um arquiteto, novamente voltei a segui-lo, pelas manhas desta vez, fazendo o caminho que ele fazia. Ficava a uns cem metros de distância apenas observando seu trajeto e o perfazendo a cada centímetro meu ódio.
A manhã foi escolhida. Na noite anterior, preocupei-me em alimentar-me muito bem. Arroz, feijão, um pedaço de carne, ovos, uma taça de cerveja gelada e um bom cigarro após esta refeição. Ao me deitar refiz em minha cabeça todo o plano, fiquei por duas horas lembrando desde o dia que fui surrado por aquele merda, até pensando em como tal substância digerida em meu estomago pudesse ajudar-me na tarefa de findar a vida daquele ser.
Consegui pegar no sono. Ajustei o relógio para as cinco da matinha, para aproveitar que todos estariam dormindo, para pegar a chave de fenda que seria meu instrumento de trabalho para aquele dia.
As três e meia acordei com uma pequena alteração no paladar e com um pequeno suador no corpo, achava que fosse algo da minha imaginação ou mesmo que fosse minha concentração demasiada nos meios de chegar a meu objetivo.
Dali à uma hora levantei com uma enorme ânsia de vomito, que irrompeu pela minha garganta a jorros de suco gástrico, meu traseiro assava e sentei-me no vaso e um jorro de merda quente como piche se esvaia de meu cu como uma cachoeira, fiquei por quarenta minutos cagando água negra e com a cabeça recostada a pia vomitando. Sabia que algo poderia acontecer, não seria aquele dia que daria cabo do serviço.
E dá-lhe suco gástrico no estomago a me importunar pelos dias que se passaram. O plano estava construído, pegá-lo-ia na saída de casa ainda com o dia a raiar e fazê-lo engolir seu próprio punho.
É amanhã! Pensava comigo mesmo. Na noite anterior resolvi me prevenir e comer apenas arroz, feijão e um pouco de ensopado de frango. Nada de cigarro ou cerveja. Ao deitar, da mesma forma, por volta de duas horas a dormir repensando tudo, do plano ao jantar, de plutão ao astro sol.
Dormi, ao acordar tinha percebido que a pilha do despertador tinha acabado no meio da noite. Não quis prolongar minha ira, me vesti com algumas roupas e sai correndo a seu encontro. Chegando a seu condomínio esperei por alguns minutos e nada, a luz ainda acesa estava e decidi subir. A cada lance de escada que subia sentia a secura atacar novamente, como o porteiro estava cochilando e o portão aberto consegui desvencilhar-me da portaria sem que ninguém soubesse que tinha ali retornado. Frente a frente a sua porta,a luz acesa da janela me dizia que ele ainda estava lá. Três batidas a porta. A campainha não funcionava e ódio me corroia, pensava porque aquele verme não abriria logo a porta, e eu não poderia arrombar seria muito escândalo para aquele horário. Esperando e angustiado a porta se abriu e sua mulher atendeu-me, com um fio de couro a mão ensangüentada e totalmente nua com um olhar fixo de terror. Pediu para que entrasse em seu apartamento. Quando adentrei o recinto ele estava completamente revirado. Meu olhos corriam pelo lugar, e também pelo seu belo corpo. Tinha uma deliciosa bunda branca e grande. Quando sai da sala e entrei no quarto observei o filho da puta com os olhos esbugalhados e com um vergão no pescoço e um gordo fio de sangue que saia de sua boca pingando no chão. Ela pegou na minha mão e recostou sobre sua boceta molhada e também ensangüentada. Começou a morder-me o pescoço e o lóbulo de minha orelha direita, acintosamente pedia com seu gestual que eu massageasse sua enorme e molhada boceta, o fiz e ela agarrou meu pau que pulou pra fora da calça num supetão. Aos olhos do morto começamos a trepar como cachorros no cio, ela envolvia o fio ainda sujo em seu pescoço enquanto eu a penetrava ferozmente e a cada estocada percebia que meu pênis a ela parecia uma faca que rasgava suas tenras carnes. Ao manipulá-la quando cavalgava em meu membro sentia seu apertando cu a mastigar meus dedos. Besuntei meus dedos e afundei naquela apertada válvula, e quanto mais apertava ela se retorcia mais e mais e ia apertando o fio ainda mais a seu pescoço. Eu mamando em suas grandes tetas parecia querer suturar o bico de seus seios a minha língua.
No sofá joguei-a de costas besuntei seu cu e enfiei, quando a apertada válvula se abriu sentir um esgar de sua parte ao compasso que ia me despejando mais e mais a seu corpo, sendo observado pelos pés de seu marido morto, pés estes que estavam para fora de seu quarto.
Quando ia gozar parava por alguns minutos e apertava mais o fio a seus pedidos e enfiando mais a mão em seus túneis fazia com que ela uivasse em silêncio. Me introduzi totalmente em seu cu, sentimento minhas estocadas percebia que ela olhava ao morto como que dizendo que ela sabia que eu tinha ido a matar-lhe e que mais valeria a pena, ela o matar e esperar para que eu a brindasse com um banho de porra. Banho este que foi dado em sua válvula e também em suas costas.
Quando estava me limpando ela enojada de si, imagino pegou uma faca e enfio em sua boceta ainda úmida, fiquei completamente aterrorizado ao observar aquele ato de selvageria com seu próprio corpo. Ela enfiava mais e girava dentro de si, chorando e rindo ao mesmo tempo.
A loucura daquela fêmea tinha atingido seu andar mais alucinado quando começou a pedir que eu a penetrasse por trás, a faca ainda introduzida a sua ensangüentada boceta preenchia a minha visão com um espetáculo de horror e tesão ao mesmo tempo, sentia um comichão correr meu corpo. Ela enfiava a faca até o cabo e retirava ela banhada de sangue grosso, de repente começou a voltear-se sobre si parecia tonta, quando ia cair a peguei e ela pedia que eu a enforcasse com fio que a essa altura já tinha caído ficando muito próximo ao senhor filho da puta a quem achava eu seria seu marido. Peguei o fio negro dei uma volta no seu pescoço e comecei a estrangulá-la. Percebia seus seios de enrijecerem, e movendo minha mão a sua boceta ensangüentada apertava contra sua falha em frangalhos de carne viva. Percebi que ia amanhecer e teria de fugir dali rapidamente se não quisesse ter de dar explicações aos senhores da lei. De um rápido movimento desloquei seu pescoço fazendo com que suas articulações se despedaçassem e ela rapidamente repousou em meus braços. Retirei o fio em volta de seu pescoço, eu o levaria para que nenhuma pista minha fosse possível de ser encontrada. Meu problema a essa altura seria sair do prédio sem que ninguém me visse.
Dei uma rápida e sorrateira afastada na cortina. O porteiro já havia sido despertado de seu cochilo. Teria de trocar de camisa, pois a minha estava suja de sangue, entrei no quarto deles vendo o corpo do verme estendido na cama, dei uma cusparada gorda em sua cara, ao lado havia uma pilha de roupas. Peguei uma camiseta branca. Retirei a minha camisa, dobrei-a e coloquei em meu bolso, vesti a outra e minha atenção novamente se prostrava a quais possibilidade de saída daquele apartamento eu teria sem que fosse avistado.
Enrolei o fio, joguei no outro bolso e fiquei observando ao lindo corpo ensangüentado daquela mulher e pensando como faria pra me livrar daquele grande sanduíche de merda que eu tinha participado. Uma boa possibilidade seria pular pela janela, pensava. Mas se eu caísse e rompesse com os ligamentos do joelho seria a prova cabal de que eu estava metido até o pescoço com aquilo, mas também haveria a possibilidade de me dar bem, ou seja, pular cair e ninguém reparar em nada.
- São sete da manhã. Falei comigo mesmo.
- Que faço agora?

Decidi abrir a janela e visualizar a área detrás do edifício. Poderia cair nessa área, ir pelo estacionamento e pular rapidamente o muro, lembrando que nenhum vestígio posso deixar aqui, ou cair de meus bolsos.
- É o que farei. Pensava com meus botões. Pulo e saio correndo de espreita.
Ao pular teria de ser muito rápido, passar por um jardim e chegar ao estacionamento para assim chegar ao muro e dali fim dos problemas. E foi o que fiz. Como eles moravam no terceiro andar do prédio enfiei-me pra fora da janela sem que fosse avistado, fui escorrendo e me segurando a parede até o que possamos chamar de segundo andar e meio.
De lá soltei meu corpo, parecia um vôo. Um vôo a liberdade, e chegando ao chão correndo ao encontro do muro tropecei, mas nenhuma das provas caíram. Pulei rapidamente o muro e já estava a outro terreno contíguo ao prédio. Fui calmamente caminhando ao supermercado mais próximo a fim de comprar álcool e fósforos e foi o que fiz. De lá a um terreno baldio a algumas quadras da minha casa.
Sentei num tronco queimado e lavado pelos anos, um pedaço grosso de tronco que ninguém conseguia retirá-lo dali e o queimavam sempre que pudessem. Retirei os pertences de meus bolsos, esvaziei-os para que não restassem dúvidas de minha idoneidade.
Abri a embalagem de álcool os lavei como também a minha mão e lancei os palitos acesos de fósforos. As chamas comeram a minha camisa e retorciam o fio. Fiquei ali observando aqueles pertences minha camisa sendo devorada pelas chamas e o fio, o instrumento do primeiro assassinato imaginava eu.
Olhava os espaços de meus dedos ainda avermelhados pelo sangue da boceta daquela gostosa assassina. Quando me deparei com um fato. Estava eu vestido com a camisa dele, com a camisa daquele que parecia ser o meu fantasma de infância, será que com ela ele me vergastou naquela manhã de anos atrás?
Tentei lembrar, mas de nada adiantava a aquela altura do campeonato. Adiantava apenas me livrar daquelas coisas e me lembrar que ela -sim ela- aquela proprietária daquele corpo santo que lavou minha mão com seu sangue quente, ela a quem desloquei seu pescoço tinha dado cabo do filho da puta.


Desembarque

sexta-feira, julho 21, 2006

Palavras

Embarque

A espera de alguma situação que configurasse a possibilidade de uma escrita acabada. Mesmo sentindo um ódio imenso às vezes pela impossibilidade da imposição na forma textual de minhas idéias, ainda assim retorno a este corpo a dar sempre meus últimos suspiros e que na verdade não serão finalizados tão cedo – assim imagino.
Quando se começa a expor as coisas dessa maneira, parece que um verme que rasteja em nosso corpo nos obriga a sempre retorna, como uma visita a uma lápide não acabada. Sempre, ou melhor, desde minha primeira aparição ao mundo das palavras assim tem sido. Posso não escrever textos primorosos e saio da frente do computador querendo –às vezes- esmurrar o teclado, ou minhas idéias, qualquer coisa que valha.
Fico enfastiado. E o pior, já saio explanando a minhas próprias orelhas novas formas de armazenamento de minhas idéias para melhor aproveitamento destas num futuro não muito distante. O artifício da escrita assim me parece um exercício viciante. Pior que narcóticos, álcool, enfim destas coisas que citei, a escrita imprime uma tatuagem em nossa caixola a cada novo bolo textual enxertado no mundo.
A cumplicidade entre as imagens guardadas na minha caixola e articulação da mesma no exercício peristáltico da introdução destas memórias no mundo dito real, me causa espanto. O não controle da memória por soltar, ou o esconder imagens me frustra, tal qual os erros gramaticais que cago no mundo. Atualizo diariamente os temas que serão abordados por mim, e edito passagens recortando o que entraria ou não nestes, mas tudo isso num passe muito rápido. E essa edição foge a meus dedos ao ser atraído por alguma imagem qualquer. Os olhos são mais rápidos que os dedos e não consigo condicionar tão rapidamente em escritos o que minha mente capta por milésimos de segundos, e isso me enfurece de sobremaneira.
O vagar de minha lembrança me faz adquirir fórmulas só por mim testadas na vã possibilidade de um certo aprendizado mais regrado nestes campos da escrita, mas tudo por água abaixo, pois dali a segundos, estou mais preocupado com quais palavras que usarei para expressar de forma mais encarnecidada tal fato e isso me faz carregar de um lado a outro um trilhão de idéias, mas sem possibilidade de exercício algum por parte destas lembranças na transformação de idéias em texto.
Tento um trabalho que tem de ser mediado pela escrita. Uma tarefa difícil e por algumas vezes chatas a cumprir nestas próximas semanas. Não posso falhar de maneira alguma, e as palavras agora precisam me ajudar.
Por vezes as xinguei de tão raiva que sentia por não achá-las, fiz quilos de arquivos de palavras em minha cabeça, as escrevia de forma tão usual que pouco a pouco passei a arquivá-las em linhas de papel que mais pareciam receituários de ódio.
Agora preciso me desculpar com as palavras, pedir seu perdão, retorna ao núcleo desta, como se fosse a primeira coisa que fizesse ao nascer. Desculpem-me palavras todas unívocas. Peço perdão a todas vocês pelo descalabro de anos e pelo mau uso de eras. Agora preciso de sua ajuda.
E não sumam de meu horizonte, bastardas!

Desembarque

terça-feira, julho 18, 2006

Cortiço

Embarque

Eu tinha tantas coisas organizadas nas gavetas da minha caixola que estas tantas coisas estavam dispostas a servirem de acordo com os usos que fossem quais fossem as necessidades lançaria mãos a estas lembranças que vagueavam como naus no infinito mar.
Ao ser lançado nas correntes revoltas dos meus pensamentos visualizava imagens de minha infância e juventude, e como estas tinham marcado em mim uma memória avessa a que tinha sido construída através dos reveses de nossas vidas. Recordo-me de diversos fatos e como estas foram cindidos em meu corpo.
Atravessando este imenso aterro de impressões, reportando e recortando muitas das minhas viagens ao centro do meu ser, lembro-me de um dia destes, enquanto visualizava o matraquear verborrágico de um circulante no centro da cidade como minha cabeça viajava pelos confins da minha memória.
Grandes merdas tudo isso...
De que importa este paupérrimo texto...que vai do nada ao lugar nenhum. Tenho quilos, caralhadas, montanhas, toneladas, litros de textos a ler.
Umas parcas semanas a dar conta de estudo, e voltar ao trabalho. Mas que penso dessa vida medíocre e chata.
O vai e vem de sempre, e eu tentando a todos enganar, ou com sorrisinhos amarelados falsos, ou com um pretexto de diamante verbal localizado a este endereço, tão pobre e idiota quanto eu.
A raiva que sinto de ter-me apercebido do quão igual a um escaravelho rola bosta que sou, que tive de recompor a uma idéia do que ia escrever arquitetando e organizando na cabeça, tudo nos seus mínimos detalhes tal qual um vira merda que vai rolando na terra com um borrão de bosta.
Acho que nunca usei de tantos palavrões pra me expor aqui. Isso é triste, me refugio ao lugar comum, perdi, zero, vazio. Escoltado ainda pelas memórias e agora pela raiva.
A incapacidade do ser. O porvir, devir, sorrir, fingir. Fingir.

Desembarque

quarta-feira, julho 05, 2006

O orvalho que lava feito lava

Embarque

O olhar se apresenta aos tons azuis cintilantes do alvorecer, e meus olhos remelentos e lentos ainda que estão num zunido de sono se fecham a lutar por mais sono. Todo dia assim tem sido. E forço a pupila abrir ao mundo, feio por ser cedo é verdade. Mas a maré caminha desse jeito, e já que esse barco ruma deslizando ao porvir me aprumo e vou adiante, deixando o útero da minha quente cama pelas nuas calçadas banhadas pelo orvalho da noite que escorre das janelas das casas.
São tantas coisas a amarrar a atenção que o sono se esvai, juntamente aos passos deixados a metros atrás, segundos passados, memórias trocadas e pensamentos salvos. Adentro a esfera lúgubre do diversos caminhos às diferentes localidades, e exercendo o caminhar dirijo-me a estaca zero do amortecimento corpóreo a prostrar-me num gélido banco, o sono me traz de volta a sensação do útero quente. Mas é passageiro e sou também passageiro. Sentado e sem encosto para minhas costas, espero o navio que me conduzirá sem volta ao raiar do dia.
A fila de escravos se compromete a luta por assentos no navio, observo os sorrisos que brilham sem sol, e me pergunto como conseguem. Mas isso até ser conduzido a minha passageira cela de trinta minutos. Já devidamente encarcerado persigo o resto de sono que ainda parecia vivo, mas como de costume, as pupilas já estão salientemente abertas demais para que seja novamente decretado o cochilo. As paisagens começam a dançar, umas corretamente perfiladas a outras num encadeamento chatíssimo pra serem lidas tão cedo. Outros navios passam, outros portos, outros escravos, outros cansados, outros olhos remelentos, outros lentos. O balanço desta embarcação faz com que muitos vomitem, e lá vem de tudo que possamos imaginar. É um vômito meio seco, que escorre como pasta de dente das cloacas verborrágicas, e depositam-se sobre fendas na minha memória e vão concretando minha atenção a esta suja substância.
Meu porto de desembarque se aproxima. Tenho de esforçar-me para que meu corpo se desprenda de minha cela. Uma vez solto, rumo ao fim da embarcação. Sacudo a sinaleta ao comandante, que tangenciando no mar dos porcos vivos e mortos, deposita minha sonolenta carcaça ao porto de destino. Agora tenho de subir a passos largos a fenda chamada rua. Entrando nesta definitivamente a lembrança do útero quente vai ficando para trás.
O que sobra são apenas as visões. Um infinito emaranhado de sensações delegadas pelo sono.
O que resta são das diversas possibilidades do resto do dia. Dentre estas, certamente o cansaço reina.
Infinito, vivo e reinante delimitador vír-a-ser...Cansado que seja...Vír-a-ser cansaço no útero cansado do cotidiano

Desembarque