sexta-feira, abril 15, 2005

Oito ou oitenta?

Embarque

Oito ou oitenta?
Rasgo as vestes afim de nú rufar os tambores do inferno.

oitocentos ou oito mil?
Enfio garganta abaixo minhas esperanças.

Oito mil ou oitenta mil?
Ao ácido gástrico não mais existirão.

Oitenta mil ou oito milhões?
Enraizado em mim a lembrança do absoluto.

Oito milhões ou oitenta milhões?
O Absoluto enraizou-me o desespero, a desespero alheio.

Oitenta milhões ou oitocentos milhões?
Um punhão cravado em meu estômago.

Oitocentos milhões ou oito bilhões?
Corro à uma parede de concreto chocando-me à ela o punhão a atravessa-me.

Número, datas, fins, meios, sorte, lingúa, fala, interpretação, matemática, algebra de nossos corpos aflitos por sorte e paz. Um turbilhão de sentimentos enche-se o saco de nossas mentes, ficamos a costurar as situações sozinhos cada qual com seu tecido corpóreo e cada qual com suas linhas de tecer e suplicando pelos dados matemáticos de fundições epidérmicas a somar no grande mar de mal gosto da vida.
Que diferença isso fará daqui a dez anos, quando a maioria de todos nós estivermos satisfeitos com nossas grandes barrigas preenchidas de fezes e felizes por termos tido medo e não enfrentado a grande espada da vida que corta os meandros costurando novas vidas.
Somos inquilinos da pobreza e da miséria, números são números e soam metafisicamente como tal. Números, horas, dias, meses, anos, segundos. Despertar!
Deus! Unte nossas mentes desesperadamente pela felicidade, só assim seremos capazes de ultrapassar o mar da vida. Não à miséria. Nunca a frieza dos números sem rostos, dos dizeres sem face, das situações sem frase.
Prosto-me a frente de todos, afim de desvelar minha ferida. Não mais questão de convenções sociais faço. Como Whitman -meu bom amigo- rufo os tambores pelos deseperados e loucos que se perdem na imensidão do revolto mar de sofrida vida que se transforma em mais vida vivida. Perante a todos a existência deste que vos fala foi mostrada. Cada gesto, frase, situação, sorriso, lágrima. Tudo decomposto evidenciado afim de provar por a + b +c = zhjsksajsks, que o amor tem a função de encarnecer quem afim estiver de ser loucamente rasgado pela vida.
Escrevo e vou assim redigindo um diálogo sozinho, poema, prosa, conto, romance. Que diferença isso faz? Concretismo, dadaísmo, surrealismo, existencialismo, realismo. A conceitos classificatórios não mais perfilarei estas palavras. O movimento da vida é contínuo. O eterno morrer vivendo, ou melhor, o nascer para morrer todos os dias. Sabendo que algo nos tolhi e talha no fim de tudo. Lá no fim da linha estaremos de frente com nossos eu's. E afim de aferir nossa mente choraremos as situações. E que se fodam as convenções. Mostre-me que sua vida valha a pena ao menos passando por cima de mim. Dance sobre meu cadáver, faça dele o piso. Talvez assim possa penetrar-lhe as unhas e mais perto de ti ficar.
Os devaneios fluem como nascentes de rios em furia que se transformam na descida de uma grande monte, esculpido por milhões de anos. Novamente os números. Não tente fugir, encare-os de frente. Sinto-me como uma nascente ainda limpa e vou-me poluindo a toda e qualquer experiência. Prestem atenção! Não digo nunca que puro quero estar, mas sim sujo. Devanear a sujeira das nossas pequenas experiências de vida. Lascar mais tinta nestas anêmicas aquarelas. Isso sim. A cada filamento de meu ser o retiro rasgando de mim um pedaço de carne transformando-o num pincel e aquarelando a sangue as vidas.
À fraqueza. Aos pobres.
Debruçar-se sobre esta mesa com o mesmo arranjo poerento que a anos parece se prostar diante de mim esperando um simples pano molhado a ser passado e assim reecrevendo a história do mundo incluo o meu sofrimento como nunca antes incluído o tenha sído e transformando nossos montes de esterco em alimento para nós mesmo e para os aflitos por vida que cacarejam e gargarejam o catarro verde de suas experiências pobres como os seres intra-ultra terrenos como nós mesmos que nos escondemos por meses como numa hibernação infernal no inverno equinocial solsticial.
O que mais queremos de tudo?
Que mais desejamos destas terras afim de escravizar-nos por infímos objetos cortantes que quando dispusermos contra nós mesmos afiados já estarão e nos rasgarão fazendo-nos chorar e com soluços esconderemos nossas lágrimas e trairemos novamente nossos princípios éticos de boa conduta e verdade afim de mais a ninguém machucar devido ao fato de sermos adultos o suficiente para arcarmos com o peso não explicado do mundo que só cobra cobra cobra cobra e nada dá em volta de troco mesmo e assim ficaremos cacarejando como idiotas palavras frases amores prontos dados referendados pelos mestres da boa convinvência e a este último suspiro do idiota aqui que nem mesmo ascentuação usa.
Bom Adeus!
Presto uma homenagem a Ray Charles que conduziu-me nesta manhã.


Herculano Netto

Desembarque

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