terça-feira, junho 07, 2005

Teimosia

Embarque

Suando. Perdendo horário. Dormindo pouco.
Sendo expectador de um assalto. Reluzindo o canhão de aço ao meu lado brilhava insistentemente e assim ainda olhava a aquele tipo de luz.
Montes de lembranças amontoam-se na minha cama quando deito e vejo o firmamento iluminar a minha vida, mesmo numa noite escura que o que brilha é o julgamento dos gatos noturnos, lutando pelos doloridos prazeres.
O ponteiro vermelho enganador olha-me sabendo que logo cedo o estarei observando espumando de raiva, pedindo que logo a morte se abata sobre este que vos fala. Não como saída, mas paz, silêncio. Solidão.
Multivisões num diapasão noturno. Estado no qual expomos nossas vãs experiências.
Um desenho animado de criança. Olhos sendo insistentemente arranhados por pó. Um cachorro carrega um carrinho pelas pálpebras.
A mesma coisa de sempre. O mesmo cansaço. A mesma indiferença.
Subindo as escadas vejo os olhos reluzindo de esperança. Cuspo nas faces da ignorância e ânsia de vômito permeia os sentimentos e os vapores.
Álcool?
Não senhores!
Silêncio, caixa verde, livros, lápis, discos, fitas, gavetas.
Gavetas! Engavetaram nossas felicidades, dentro dela reluz, além do revólver do indivíduo desta manha, cartas, fotos, cheiros, texturas, significados.
Uma geladeira num necrotério frio e convidativo a solidificarmos um outro reino.
Cá estamos nós, sozinhos, cansados mas vivos. Latejando em vida sempre. Perceba a grandiosidade da persistência pela vida.
Teimosia.

Desembarque

Herculano Netto

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