quinta-feira, novembro 24, 2005

Ritual

Embarque


O ritual é o mesmo. Sentar e fingir pairar sobre minhas visões de mundo e da vida miserável que todos levamos com exceção ao sexo. Em se tratando de sexo, sei que não finjo.
Pode ser numa taberna escura, num ônibus num dia cinza, como as cinzas que um dia irão nos compor, ou num dia de calor estafante, num bar, banheiro, cozinha, cinema, parque, enfim, em todos e muitos outros lugares sento e finjo repousar meu corpo nas minhas lembranças. Estas últimas compreendo às vezes muito mais quando minto, ou seja, quando manipulo tais experiências na forma de um pobre texto como este.
Dias desse me parei pensando se não deveria escrever sobre isto ou aquilo, tentando criar um mosaico de alguma coisa que valha a pena e me contemple como um principiante na arte de escrever.
Como dito anteriormente, navego pelo mar dos estilos a não achar o meu estilo. E será que o acharei? Pouco importa!
A este altura do campeonato o tiro de largada já foi dado e espero impacientemente os vencedores chegarem ao final do percurso felizes por suas vitorias.
E todo momento de total introspecção mergulho nas lembranças e me deparo com o mesmo problema – a extensão da coisa. Tal como prolongar o coito na felação. E falando em coito...nossa que vontade.
E já vou cercando o assunto, dando voltas, girando em torno dele e me encontro novamente extenuado e insatisfeito. Mas já que o cerco vamos destrinchar o mesmo, tática de jack – o estripador. Parte por partes., compondo o todo.
Falava anteriormente em estender o tal do texto de forma que não soasse chato, nem pedante, mas um pouco cativante.
Isso?
Sim era isso...não a vocês mas a mim que pensava sobre as diversas maneiras de preparo do espírito ao ato da exposição textual.
E quando vou-me afundando nas tais formas e nos conteúdos que foram programados, penso no ato sexual...já que assim é vamos a ele e não mais a nada.
O que nos resta nesta a não ser um par de lindas tetas e pernas, uma voluptuosa e simpática bunda? O que resta nessa vida?
Para mim aquele momento que me deposito dentro de uma vulva quente, seja lá com mãos, pés, falo, língua, dedos, enfim quando entro e me enterro no espectro mais incompreensível e incomensurável do homem. O ato sexual.
Sou um amante disto, recorro ao sexo para viver como um sujeito pulsante em todas as formas do próprio ser. Do meu ser, do meu viver.
Carregado ou não de significados, pouco importa. E é nisso que a coisa esquenta, pois por dia vasculho em todos os lugares os diversos animais que compõem a flora humana e assim os penso relinchando quando estão nús. Mulheres!
As mulheres são como as formigas que trabalham insistentemente. As vejo carregando pastas, malas, bolsas, cadernos, folhas. Uma infinidade de papéis, relógios, tralhas, badulaques...tralhas mesmo por assim dizer. A todas que consigo ver, caminho por elas. Persigo seu andar por suas formas, de forma a brincar com minhas imaginações na possibilidade de passear minha língua por tais lugares. Não as vejo como pedaços de carne num frigorífico, se fores me acusar de machista o façam. Não me importo. Me importo sim com elas, todas elas dispostas como estátuas lindas e vivas, lógico que vivo como animais que são e felizes por respirarem e por cagarem como todos cagamos e felizes que somos, pulamos e uivamos de alegria à porta de mais um orgasmo.
Relinchar como cavalos que com seus grandes falos introduzem em grandes vulvas, criando a vida e o prazer a todos que pedem por vida.
Mulheres!
As amo de forma tão incondicional que percebo em seu bailar se estas podem levar jeito para a coisa, ou não. Se é que me entendem.
Uma vez a muito tempo, um amigo assaltante disse que roubavam no centro da cidade, mas que percebiam a quem iriam abordar a partir do ato de andar. O princípio é o mesmo. Observar.
Observo cada gesto, cada toque, cada passada de perna e traço minhas idealizações, achando se esta ou aquela garota é afeita à entrega total.
É lógico que tudo isso é por demais superficial para traçar um paralelo entre o ato de andar e o ato sexual em si. Mas quem se importa com isso?
Tudo não deixa de ser idealização e devaneios. Mas que faço, sim isso eu faço.
Colho cada centímetro de quem me chama a atenção e fico a brincar com meus miolos na vã possibilidade de saber o que se passa naquele corpo nu. Dias desses passava pela praça da República e vi. Caralho! Que jeito de andar. Parecia esmagar todos os homens da face desta pobre terra com aquele suave, mas delicioso andar. Estava sentado comendo um acarajé e a linda mulher passou pelas minhas costas. Séria como estava e bem vestida poderia ser alguma sei lá o que de algum escritório das redondezas...E como era redonda aquela bunda, e as pernas roliças tolhiam a todos. Uma beleza ímpar. Fiquei observando extasiado a figura daquela mulher. Ao passar pelas minhas costas observei seus olhos penetrantes. Não preciso nem dizer que não se penetravam em mim, mas penso que deveriam penetrar nalgum problema cotidiano que ela deveria ou resolver.
Pensei em Ter um dia um particular com a tal. Destes particulares, mas bem particulares mesmo. Ela parecia um grande tanque deste de guerra que saem de algum pântano lamacento como se tivessem passado por um mar de rosas. Como era estrategicamente bélico seu andar, parecia atiçar a guerra com aquele certo molejo. O mais impressionante talvez fosse que a mesma não se percebia de tal poder, tão inserida num qualquer problema que daria cabo. E foi-se...sumiu no mar de gente que se aglutinava para ver um senhor de grande barba que esmurrava a bíblia e dizia frases satânicas a socar seu enorme punho na capa do livro sagrado.
O que escreveria mesmo?
Esqueçamos isso. Amanhã é um novo dia.


Desembarque

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