sexta-feira, julho 21, 2006

Palavras

Embarque

A espera de alguma situação que configurasse a possibilidade de uma escrita acabada. Mesmo sentindo um ódio imenso às vezes pela impossibilidade da imposição na forma textual de minhas idéias, ainda assim retorno a este corpo a dar sempre meus últimos suspiros e que na verdade não serão finalizados tão cedo – assim imagino.
Quando se começa a expor as coisas dessa maneira, parece que um verme que rasteja em nosso corpo nos obriga a sempre retorna, como uma visita a uma lápide não acabada. Sempre, ou melhor, desde minha primeira aparição ao mundo das palavras assim tem sido. Posso não escrever textos primorosos e saio da frente do computador querendo –às vezes- esmurrar o teclado, ou minhas idéias, qualquer coisa que valha.
Fico enfastiado. E o pior, já saio explanando a minhas próprias orelhas novas formas de armazenamento de minhas idéias para melhor aproveitamento destas num futuro não muito distante. O artifício da escrita assim me parece um exercício viciante. Pior que narcóticos, álcool, enfim destas coisas que citei, a escrita imprime uma tatuagem em nossa caixola a cada novo bolo textual enxertado no mundo.
A cumplicidade entre as imagens guardadas na minha caixola e articulação da mesma no exercício peristáltico da introdução destas memórias no mundo dito real, me causa espanto. O não controle da memória por soltar, ou o esconder imagens me frustra, tal qual os erros gramaticais que cago no mundo. Atualizo diariamente os temas que serão abordados por mim, e edito passagens recortando o que entraria ou não nestes, mas tudo isso num passe muito rápido. E essa edição foge a meus dedos ao ser atraído por alguma imagem qualquer. Os olhos são mais rápidos que os dedos e não consigo condicionar tão rapidamente em escritos o que minha mente capta por milésimos de segundos, e isso me enfurece de sobremaneira.
O vagar de minha lembrança me faz adquirir fórmulas só por mim testadas na vã possibilidade de um certo aprendizado mais regrado nestes campos da escrita, mas tudo por água abaixo, pois dali a segundos, estou mais preocupado com quais palavras que usarei para expressar de forma mais encarnecidada tal fato e isso me faz carregar de um lado a outro um trilhão de idéias, mas sem possibilidade de exercício algum por parte destas lembranças na transformação de idéias em texto.
Tento um trabalho que tem de ser mediado pela escrita. Uma tarefa difícil e por algumas vezes chatas a cumprir nestas próximas semanas. Não posso falhar de maneira alguma, e as palavras agora precisam me ajudar.
Por vezes as xinguei de tão raiva que sentia por não achá-las, fiz quilos de arquivos de palavras em minha cabeça, as escrevia de forma tão usual que pouco a pouco passei a arquivá-las em linhas de papel que mais pareciam receituários de ódio.
Agora preciso me desculpar com as palavras, pedir seu perdão, retorna ao núcleo desta, como se fosse a primeira coisa que fizesse ao nascer. Desculpem-me palavras todas unívocas. Peço perdão a todas vocês pelo descalabro de anos e pelo mau uso de eras. Agora preciso de sua ajuda.
E não sumam de meu horizonte, bastardas!

Desembarque

Um comentário:

Anônimo disse...

I like it! Good job. Go on.
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