terça-feira, abril 10, 2007

Minha Ausência

Embarque

“... eu preciso andar um caminho só, vou buscar alguém que eu nem sei quem sou. Eu escrevo e te conto o que eu vi e me mostro de lá pra você. Guarde um sonho pra mim”.
Rodrigo Amarante – Los Hermanos

Voltei. Tinha passado alguns minutos e tão puto que estava com o texto anterior que vou tentar fazer algo que me satisfaça mais. Percebi que às vezes o barulho e tão grande na minha cabeça que não consigo concentrar-me e as lágrimas rolam pelo meu rosto por eu não conseguir organizar meus sentimentos. Tudo pode ser fácil. Veja bem, mas ninguém disse que seria fácil, disse que poderia. Mas por que afinal de contas eu posso afirmar que pode ser fácil. Todo mundo sabe que é uma bosta esse encadeamento de momentos. Alguns momentos destes nos fazem morrer aos poucos ao observar a falsa serenidade alheia. Eu luto pra ver a minha serenidade e me desespero e me aterrorizo ao não conseguir aplacar os meus medos. O tempo vai passando, os encadeamentos dos momentos fogem do meu poder e me sinto descontrolado correndo com a cabeça de uma lembrança a outra sem qualquer organização e corro pra essa porra de cadeira e me observo nos textos, mas não mais me enxergo. Meu coração parece querer pular pela garganta e me abandonar. As malditas lagrimas rolam pelo meu rosto e não consigo controlá-las. Pareço perdido no meio do não-lugar e tento gritar e pulo, sento e arranco o solo do chão. Enegreço minhas unhas urrando de raiva tentando ver alguém que eu conheça. Mas nada. Não conheço mais ninguém, porque não me reconheço. Luto contra minhas memórias e elas vão corroendo pelo que eu era, em contrapartida do que sou. Alem de me sentir ausente e só, não consigo organizar minhas próprias idéias e tudo se perde num mar de lamentação e lágrimas como a água suja que escorreu da pia quando a limpei minutos atrás.
Tenho a impressão de fugir do meu próprio eu, não consigo organizar um pensamento sequer. Ontem ao caminhar pelas ruas, eu ficava extasiado observando os rostos, imaginava a riqueza de detalhes de todos. Hoje eu caminho tão absorto nos meus devaneios que a todo momento sou sugado por elas. Antes eu conseguia compor algo que mesmo pobre tinha um acabamento coerente. Hoje as coisas vêm à cabeça e não consigo organizá-las coerentemente. E não é questão de ser racionalista, mas sim de minimamente conseguir me organizar frente ao mundo que parece querer me engolir.
Antes aquela canção tocava no meu âmago, antes eu seguia minha vida em virtude de outra vida, antes eu chorava ao sentir a ausência. Antes tudo, e hoje me parece que nada. Uma ausência fria me fere os poros. Ausência de mim.
Eu queria poder correr na praia. Se for pra se sentir só que fosse vendo o movimento de idas e vindas da água salgada do mar. Se fosse assim, poderia caminhar de uma ponta a outra da praia. Cansar e sentar na areia e cavar. Fazer castelos de areias e depois destruí-los com ódio, ou deixá-los ao desamor das marés que sobem e descem corroendo todo que está a sua volta. Hoje percebo que o tempo me corroeu. Lavou o meu sentimento e fiquei ainda sentado naquela praça me lamentando. Afogando-me nas próprias lágrimas ao ser iluminado pelos faróis dos carros que passavam. Nesse momento, as responsabilidades parecem se dobrar em mim, e com medo pareço um pequeno jovem que pode não dar conta de um determinado trabalho. A fuga dos meus sentimentos é a decretação de minha derrota enquanto homem. Tudo enrolado, desorganizado. O guia, produção, dor, confusão, cicatrizes, números, símbolos e signos. Sangue, sal, seguro, caminho, merda, arranhão. Projeto, letras, discurso, telefone, vazio.
Eu gostava de ficar quieto e observava os detalhes das coisas, continuava vendo cada curva se fosse uma mulher, ou se fosse uma música cada nota. E se um livro, me afundava em seu discurso. E quando frio minha carne estava, eu rasgava ela pra ver se estava vivo e deixava o sangue escorrer e cair no chão. A previsão que tinha dos meus acontecimentos era que retornaria ao meu normal. Era passageiro o momento.
Hoje meu momento é de desconcerto e vou levando por aqui pra ver até aonde eu chego com a desorganização discursiva. Se pretendo sentir e operacionalizar num sentido mais formal, quero ver aonde chego com esse blá blá blá sem princípio e sem final organizado mais parecendo uma torrente de um rio que desce depois de ser explodida sua represa.
Sabe-se lá um dia aonde e como vou conseguir retornar as coisas e continuar a observar as coisas da mesma forma, ou quem sabe nunca mais volte. Que daqui pra frente será isso. Ausência de mim mesmo.
Qual é a sensação de estar perdido? É não conseguir se organizar e fazer as coisas como antes. Pra mim é desse jeito que se apresenta essa coisa. Antes eu tinha uma tal preocupação com um realce estilístico quando escrevia. Pensava nas palavras. Eu as corroia na minha cabeça. E hoje estou mais pra ejaculação precoce do que nunca, as coisas vêm e assim que chegam vão sendo gorfadas aqui. Achava que tinha de ser reconhecido enquanto sujeito que tentava escrever e organizar meus sentimentos na forma de palavras. Uma do lado da outra são frases, e quanto mais frases um texto e quanto mais texto mais dor.
Não há escapatória, saída, porta de emergência ou coisa do tipo.
Não sei como cheguei aqui, e parece-me que terei de revisar. E vou chegar à mesma definição que já tinha expressado linhas atrás – desorganização. Não consigo mais explicar nada, nem satisfatoriamente me colocar e fazer com que entendam o que está aqui.

Desembarque

2 comentários:

Marcelo Fonseca disse...

Finque as unhas no chão, meu caro. Aqui você disse que a vida não é fácil, que o bailado do tempo corroi o belo e o feio, Heraclito já falou do rio, e vivemos essa metáfora em todos os momentos, cruzando ou não o maldito Tietê. Finque as unhas no chão, com força, cave cada grão, esmiuce cada sedimento de terra, concreto ou asfalto, pois o mesmo tempo que nos mata, é o que nos cura.

força.

Anônimo disse...

A dor que se sente é a mesma que nos lembra que ainda sentimos algo neste mundo feito de concreto e imagem.
Se atenha as palavras.
Tamos aí, vc sabe
T.