quarta-feira, outubro 24, 2007

Atrito

Embarque

O pendulo das horas vai e volta, tateio a língua no céu da boca e observo o caminhar dos transeuntes pelas calçadas encharcadas de sangue. Não me sinto pertencido ao vai e vem da rotina angustiante que me sufoca a cada dia.
Vou cambaleando de esquina a esquina esperando um sopro de vida libertador que me faça voar ao infinito dessa maldita vida medíocre que levo e que me faz rodar atrás do meu próprio rabo insistentemente sem fim incitando minha mente a pedir por paz e liberdade.
Todo santo dia acordo à espera de uma alegria efusivamente cheia de pertences ociosos, para que eu possa cambalear sozinho sem ter horário ou demais funções a cobrir. Há dias venho pensando. Todos nós nos conhecemos muito bem. Mas não a si próprios.
Uma luta infindável na minha cabeça se ergue sem que eu possa me erguer e obstruir isso. Meu espírito quer liberdade, eu preciso repousar minha retina no teto sem ter ocupações ou fichas cadastrais para preencher, preciso de tempo para mim, preciso conhecer-me como nunca tenha estudado. Falo de tempo. De eras a pensar para fé, sugestão e vida. Falo do sopro que acalenta nossa alma, que nos faz gozar de pé juntos e contorcidos, ou para outros abertos e esticados. Eu falo, grito de liberdade.
Poderia observar os grandes feitos da nossa inútil sociedade industrial e observar com liberdade, tempo e cautela cada produto desses titãs dos dias passados e atuais.
Eu, ou melhor, nós todos. Deveríamos parar. Sentar e observar o vai e vem da poeira e da areia que nos cega os olhos por alguns segundos e deixar as lágrimas rolarem pelo rosto. Deveríamos deixar o pé no acelerador eternamente na estrada romper os caminhos ir ao final sem tempo a nos impedir.
Eu cansei do matraquear mentiroso da cidade, do seu processo envolvente e apaixonante, se pudesse ficaria sentado observando o caminho das formigas, que caminham e andam de lá para cá. Mas nós ficaríamos apenas observando.
Depois, quem sabe, sairíamos por aí a conversar sobre a força de tais organismos.
Será que um dia isso muda? E a paz? Para produzir calmamente. Esse furduncio danado é contraproducente... pombas!

Desembarque

2 comentários:

Lucas Lutero disse...

Os dias não nos pertencem mais meu caro. Somos marionetes ou pelo menos parecemos ser. O que mais me incomoda é que nem mesmo dentro do meu mundo particular eu consigo esquecer isto. Belo texto!

o tempo é um idiota com um banjo na mao disse...

Não nos conheceremos até a morte.
e quanto ao tempo..os relógios estão bem perto de pararem. Apocalipse meu caro.

o jeito é disfarçar e chorar.
*boni