quinta-feira, outubro 29, 2009

Mofo

Embarque

Sentado de frente à porta para novas experiências e possibilidades que se desenrolarão nos próximos meses. A tartaruga vai lerda sobre o fardo de relva morta e alfaces recheado de lesmas negras, tão escuras como o céu numa noite fria de Agosto.

Ao substituir os armários por portas recheadas de cadeados eu caminho procurando a chave que possa abrir algumas daquelas porcarias, colocando-me a frente de algum acontecimento importante para essa época ridícula. Minhas calças cheiram a mofo e não me venham encher o saco dizendo que não as lavei. Pois, cavalheiro que sou, lavei elas (as calças) na última semana, mas como a máquina esta emperrada, chuveiro queimado, carpete sujo, boca mal-escovada, cuecas com freadas e mais um tanto de toneladas de coisas a serem arrumadas, lavadas, levadas ao proprietário as calças, sim elas, ficaram de molho por um dia, depois lavei e coloquei pra secar. Resultado. Estou andando com tecidos cheirando a mofo. Posso estar mofado para esses ridículos dias.

Tive algumas idéias e outras a muito custo foram transplantadas de minha cabeça fundida que regurgita numa órbita nada elíptica. Daqui algumas semanas, retorno a casa dos meus pais, e de lá espero mudar um pouco. Claro que não posso entregar meus próximos passos a um determinismo barato. Eleger o retorno como fonte de mudança é um erro, mas quem sabe novas portas se abram, e eu entro nestas salas verificando cada centímetro e os ângulos a que foram jogadas as formas e os telhados, vasos, mesas, cadeiras, espirros, joanetes, bucetas, televisores, discos, chuveiros, livros, provas, piso.

Hoje mais um dia, o café que fiz dá nojo, mas bebo. Não tem pão, não tem sorvete, sem chocolate e muito menos comida japonesa ou pizza. Apenas café, arroz, sardinhas e ovos. O café ficou com gosto de queimado, como se estivesse sido feito no inferno pela luz de satanás que gozou litros de enxofre na cafeteira fazendo dela um hot spot de sêmen diabólico derramando pelo funil da falha de San Andrés e da dorsal meso-oceânica. De lá sai litros e mais litros de café com enxofre e de lá recuo meu olhar para o céu e vejo gotas de chocolate caindo das nuvens negras e observo sanguessugas bebendo sangue coagulado em meu saco escrotal. Andando pelas águas flutuo e afundo, mas não tenho medo de morrer afogado, nestes devaneios, posso morrer que não fará falta. A mim, a morte pode parecer um regresso a imemorialidade de tempos tão soterrados nos acontecimentos do passado que tudo vai se ressignificar em paisagens de sanguessugas, amebas, bactérias, baratas e parasitas comendo e bebendo ao nosso redor litros e quilos de borras de café misturada com água do mar e enxofre.

Eu não reviso mais nada...sai tudo como um peido seco...!

Desembarque

3 comentários:

Thiago Prado disse...

Porra! peguei bem com teus textos, o humor é original como sempre, a critica regada a mta soda cáustica é um deleite para os gozadores sem causa ou com...

nao escrevo com a mesma intensidade mas sinceridade nunca me faltou, dps se puder leia-me..

http://avoid.blig.ig.com.br/

Semente Corporativa: disse...

Que vida infernal essa hein?

Rose Selavy disse...

nem me fale em órbitas nada elípticas...