terça-feira, abril 05, 2005

oportunidades

Embarque

Andando a esmo ainda pelos campos de nossos sonhos disformes a simples procura da razão para a dor, incompreensão.
Palavras, julgamentos, ódio, mágoa, medo. Um turbilhão de sentimentos misturados num rosto cinza, remelento e mal dormido. Mal hálito, indisposição, insegurança.
Apertem os sintos o piloto sumiu e ninguém que possa guiar-me nesta viagem ao fundo do universo vazio e sem sentido do amor. Um constructo de imperfeições. Isso sim. Vejam lá vai ele, sozinho porque assim quis. Um amontoado de defeitos. Sim! Sou eu! Veja! AMONTOADO DE DEFEITOS!
Melhor assim? Mais fácil, diga a verdade. O ódio que brota das entranhas de todos facilita o entendimento razo das situações e abre novas portas para quem não as sabia destrancar. Eu sou sábio mesmo. E até nisso cedo aos caprichos de meu mal humor e dou de presente a possibilidade da saída. A porta esta destrancada. Vá em frente agora. Só depende de ti. Dei-lhe os caminhos. O ódio, raiva, mágoa, enfim o prato está servido à mesa.
Arroz, feijão, ovos fritos, salada, uma grande fatia de bacon assado, frango, patas de siri, camarão fresco, uma infinidade de sobremesas. Tudo a mesa esperando a degustação
Também engulo o que é saboroso, juntamente com as flores que de tão bonitas são venenosas. Engulo tudinho até os galhos espinhosos. Pois é. Servi dos caminhos para que tão aprazível sejam suas próximas experiências. Baixo não?
Sim! Fraco, mesquinho, vulgar, odioso, malévolo. Lembrou-se deste? Eu! Tudo servido agora jantem todos.
A disposição ficarei. E se de algo precisarem ainda para a digestão? Aqui estarei afim de servir-lhes mais.
Jantem todos! Comam a vontade, satisfaçam suas sedes de uma vez por todas. A faca e o queijo na mão já estão dispostos. Basta fatiar e dividir o produto do trabalho baixo e mesquinho que lhes proporcionei.
Andando um dia numa praia tive algo acerca do que poderíamos chamar de visão. Vi uma mulher caminhar até mim e abrir sua boca. Nela havia quilos de areia e montes de siris negros a passearem por sua lingua envolta em areia. Faz tanto tempo isso que acharia que sonho fosse. Ué por que não? Sonhamos sempre. Sempre a idealizar, como ontem dito. É foi um sonho, mas nesta noite lembrei-me de supetão daquela imagem, como há semanas atrás recordei experiências de juventude.
Andei, andei, andei. Rastejei quando preciso e vomitei os siris e a areia que em mim estavam. Com sangue coagulado sairam, substância estranha com gosto de sal e ferro. Rochas moídas pela ação do choque das ondas com experiências de banhos a balde. Formalismos, rachaduras, recortes, impressões, interpretações. Fins de tarde chuvosos, tempestuosos. Finais de semana de solidão e angústia. Informação, desencadeamento, saídas.
Os fins justificam os meios, ou os meios justificam os fins. Tostines é um sucesso por que pisa na cabeça de cem mil trabalhadores ou o sucesso vem da predisposição inata de servidão?
Servidão! Incondicionalidade!
Informações não batem. Uma tela cheia de palavras tem pra si a necessidade da contemplação dos outros? E quando as telas não batem com as situações, como fica?
Mais uma vez envolto nas contradições.
E jurei a mim, não mais lá voltar. Pedi, implorei a mim mesmo por um minuto de silêncio de minha parte, um minuto de luto, mas de tão imperfeito e vil. Lá estava eu. Novamente a choramingar como um bezerro desmamado. A juntar peças e a nada entender. Lendo, lendo, lendo e não conseguindo conjugar as ferramentas.
Olha isso. Um muro das lamentações. Sou melhor que isso! Será que sou mesmo?
Começo a duvidar resolutamente deste edifício.
Sim! Fraco, mesquinho, vulgar, odioso, malévolo. Lembrou-se deste? Eu!
Facilmente assim as portas se abrirão e outras por fim serão destruídas e serão varridas da vastidão dos prados sulinos. Sim este sou eu.
Haverá um dia -distante dia este- que das cinzas algo possa brotar. Não portas, porque até lá não mais caminhos existirão, mas algo que não sei explicar e que não sei do que nascerá, ou melhor, como nascerá.
Desta forma, à todos um grande passar bem. Ao fim da linha cheguei. Não mais meus lampejos ouvirão, e que de quão torturantes são interpretados .
Assim o espero. Assim peço a mim mesmo.
Lembre-se disto pérfido autor.

Desembarque

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