terça-feira, abril 26, 2005

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Embarque

A fala

…de repente ao descer as escadas, fui violentamente empurrado.
E forjei-me de metais para não me arranhar ao cair.
Será assim que devo começar? A insônia não me explica e nem ao menos dá uma indicação para responder tais dúvidas.
07/10/04 são 00h59m.
Daqui 4 horas estarei de pé. Na verdade 4 horas e alguns minutos. Ver todos aqueles rostinhos, a sangrar pelos seus olhos impossibilidades, esperas, dores e porque não dizer esperança.
Daqui a 4 anos estarei de pé. E sem muito porque, ou mesmo (sabe-se lá) sem saber a respirar ainda completarei os ciclos biológicos que costuram meu corpo.
Mas pode ser que daqui a 4 dias, algum jornal qualquer relate mais uma nova guerra, por mais poder.
Poder...o que é Poder, ou poder?
Eu posso? Mesmo? Devo?
Gostaria de poder dormir e ter Poder. Assim direcionaria meu sono para algum lugar que não conhecesse e por lá ficasse até os fins dos dias.
Silêncio é poder, ou Poder?
Silêncio é o poder da ausência, do não dito. Ausência do sentimento, do fluxo sanguíneo.
O Poder do silêncio é poder relatar a morte.
A morte é a ausencia de Poder, sendo um Poder em si mesmo-mudança.
A mudança é o fim da morte e o começo da vida.
O homem é a morte.
Eu sou a morte. Eu sinto a morte.
A cortar-me, como um feixe de água gelada, imerso a ela estou.
Como numa imensa queda d’água-falta de ar-
O não dito dos vencidos. O dito dos derrotados...assim caminhamos a passos largos a lugar algum, nenhum.
A opressão da fome, as migalhas que a mim são jogadas.
Somos como pombos. Presos na cidade imagética da liberdade. Nem como os antigos pombos correios somos. Não mais voar conseguimos, e comemos restos de pastéis e lanches das ruas centrais do enclausuramento da urbanidade. Sem asas, e sem Poder.
Sem vontade e sem amor.
Sem sono, mas com vida
Com amor, mas pela morte
Pela morte, mas pela mudança
Com ardor, nossos bustos inflam
Mesmo pela morte, sem furor
Tudo pela vida, com a morte
Com suor, sangue e lágrimas.

Vi os pés daqueles senhores descalços a andar insinuamente pelos cacos de vidros, a rachar o solado do céu, e a cada momento a rasgar em seus corpos a herança de vidas passadas.
Também andei. Fui até a escada, descalço também, e nú. Pelo que me lembro carregava uma caixa que quando era aberta brilhava a todos, mas não me recordo de que material carregava, e de onde vinha. Lembro que ia a todo vapor, correndo. Assim vi os senhores descalços e seus solados sangrados.
O labirinto de espelhos.
O fogo que corta o céu e me cega as vistas.
O afogamento dos incontinentes.
O vislumbrar do cortejo fúnebre.
A dança sinuosa da serpente.
O vômitos dos insaciaveis.

E a minha incapacidade de me controlar e aos outros não machucar.
Digo adeus. Assim, possamos um dia construir um norte comum a todos.


O não dito

Desembarque

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