sexta-feira, novembro 18, 2005

asfalto quente

Embarque

A vários anos vinha notando o caminhar que venho percorrendo na procura por um lugar mais aprazível. Pensei ter achado minha casa, pensei estar desamparado muitas vezes e só caminhei por inúmeros vales a procura de alguma coisa.
E por tempos pensei ter me perdido nos braços do mundo que me afagava com pétalas de rosas manchadas de sangue a qual eu deveria sugar estes corrimentos, ou melhor, os próprios ferimentos que eu mesmo tinha produzido.
Pensei ter alcançado a paz de espírito, mas o mesmo se mostrou apenas um momentâneo caminho. E corria desesperadamente, desenfreadamente aos braços de quem pudesse acudir-me em dias de tempestades. Não queria mais levantar da cama e viver – fugia da minha própria respiração, acalentando vapores escuros que inundavam minha lucidez e as lágrimas escorriam pela face cansada deste homem.
Cai e levantei trocentas vezes, pegava um pires com seiva das folhas mais amargas e bezuntava meu corpo na esperança do desprezo total e irrestrito para o mundo. Notícias iam e vinham e não parava de entupir-me de raiva e desesperança. Um pequeno homúnculo me tornei e fugindo da minha essência fui caminhando na esperança de encontrar algum tipo de veio d’água que lavasse um corpo tão cansado como este se tornará. E afim de esperar o maldito bem absoluto me reconheci novamente, me achei.
Encontrei-me onde nunca esperava que fosse encontrar. E não falo de sexo, mas sim de um conflito interno alimentado mais pelo meu medo do que por situações. Tudo podia naquele que a mim tinha ensinado a viver, a própria história de dor tinha talhado a ferro e fogo a lembrança e não mais iria choramingar pelos cantos da vida esperando o tão proclamado dia da salvação desta alma.
Ao grudar meu tempo presente na história vivida achava minha possibilidade de vida, de vitória, de saída. E do últimos dos rebentos da corja humana achei o pão que alimentará meu correr pelos campos verdejantes de nossas vidas. Caí e de uma vezes por todas esfolei meu corpo ao asfalto quente que corroía primeiramente minhas vestes e depois minha pobre carne.
Levantei nu e desperto para mais segundos e minutos. Para mais vida e conflito. Para mais dor. E como sempre digo, "que a vida seja vivida, e quanto sofrida se torna vida."
O ministério da saúde advertiu. Somos, fomos e seremos todos abortados espontaneamente! E ainda seremos todos queimados e ingeridos de volta à terra.
Assim queriam os deuses, e assim retornaremos ao útero quente e aprazível de nossas mães.
Como dito antes. Que a vida seja sofrida e por mais vivida que seja, ela sempre será sofrida.

Desembarque

Nenhum comentário: