sexta-feira, janeiro 20, 2006

Este corpo me faz verdadeiro. Ele é. Em Ponto Maiúsculo sendo.

Embarque

Fome.
O estômago aponta sua necessidade e meu corpo respira na sua presença, se faz livre disforme e reinventa sua própria espacialidade, se compraz em ser tocado tão sublimemente. Respira e infla de ar com ardor por viver.
Um corpo respira. Ali, escondido dos olhares, ele respira se mistura aos lençóis lavados já de outros corpos, solitariamente este corpo se entrega e sonha com outro. Este corpo nu, suado e dentro dele vai crescendo uma coisa que não sabe explicar. Ele sonha e cresce, mexendo-se a cama retirando os lençóis das dobras as refazendo em seu corpo nu. Este corpo nu doura-se ao contato com a luz e muda com os toques certeiros. Toques certeiros toques e uma mão escorrega com propriedade por este corpo nu. Apega a sua propriedade de vida e se compraz a perceber certas mudanças. Este corpo e fome. As serpentes.
Este corpo imperfeito, disforme, incompleto e disposto, posto é composto de carne. Este corpo sujo e entregue aos prazeres de sua mente. Este corpo não dorme nem repousa se entrega a seu cúmplice com leveza. Este corpo nu suado e sua caixa registradora que capta as nuances deste corpo. Este corpo alegre quando entregue e leve quando cansado, se entrega ao luar, a dor, a morte, e aos toques próprios dele. Este corpo é tocado pelo próprio corpo que o conhece como ninguém e a este corpo revive ali o passado. Este corpo solitário corpo que se compraz a ser um corpo nu e solitário numa cama onde os lençóis reinventam suas dobras neste corpo e desprendem-se da cama se prendendo as dobras e aos movimentos deste corpo nu.
Este corpo sente raiva e ama como um corpo, não qualquer corpo, mas este corpo. Sim ele! Apenas ele faz e refaz movimentos e sente novamente como se fosse verdade o toque neste corpo. Este corpo nu caminha pelas planícies entregues ao forte sol e ao rachado chão e tenta encontrar um esconderijo nestas rachaduras destes corpos, mas soube ele que nenhuma rachadura desta será sua casa, pois casa mesmo é seu corpo e neste corpo ele se encontra sem precisar de fechaduras. Este corpo corre como um animal solícito por enlace que corre buscando seu parceiro, e , pensando se achar noutro corpo se perde mas é deste corpo se perdendo que este corpo precisa e este grita com sua caixa registradora. Este corpo não foi alfabetizado ele não sabe que a vida dá e toma e que possivelmente já tenha tido a sua oportunidade, mas...Este corpo não se entrega tão facilmente e luta contra si. E para este corpo se o silêncio se abater ele se abre e grita a plenos pulmões marcando o que é mais corpo e reconhecível de si. Que ele é corpo de alguém, e por alguém advoga o corpo. Seu próprio corpo. Este corpo nu que muda de tamanho com o pensar. Para este corpo eu saúdo e lhe entrego uma taça de vinho para este corpo banhar-se afim de mais saboroso ficar. Este corpo sente e exala o perfume quando sente os sublimes toques. Este corpo não foge nem do frio pois sabe que ao passo que as correntes frias o percorrerem serão acalentadas e esquentadas nestas dobras.
Este corpo é de aço. É de carne. É de pedra. É de um músculo ou vários pulsantes que transformam este corpo em corpo nu e afeito por vida.
Eu sou este corpo e luto por este corpo sinto por este corpo e choro por este corpo lambo este corpo e beijo este corpo. Este corpo sou eu. Entregue, destravado, aberto, nu, solícito, pedinte.
Este corpo, aquele. Um em milhar a sonhar com sonhos.
Eu inflo meu peito e vocifero aos ouvidos dos miseráveis a vida que eles não enxergam grito pelos quatro cantos do universo o que mais me faz verdadeiro...mas eu não sei o que me faz verdadeiro.
Este corpo me faz verdadeiro. Ele é. Em Ponto Maiúsculo sendo.

Desembarque

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