domingo, janeiro 06, 2008

Eu não vou reler essa porcaria!

Embarque

Eu fingia estar satisfeito com o andamento da minha vida, me refiro a anos atrás. Não que hoje esteja totalmente feliz, mas anos atrás eu tinha a preocupação com os estudos, diversas responsabilidades das quais eu não poderia falhar com nenhuma delas, nenhuma mesmo.
Arquitetava minha passagem da classe dos acéfalos para a classe dos possuidores de tato, refinamento, critérios. Enfim, uma série de novas experiências me aguardavam na passagem dos anos.
Essas coisas são engraçadas, num momento besta da sua vida nós podemos perceber que definitivamente mudamos de uma coisa à outra. As responsabilidades continuam ali. Intactas! Se bem que até mesmo essas mudam de uma coisa à outra. Mas os critérios são largos, e para se ter critérios é necessário ter refinamento, sofisticação. Bem, seja lá o que for a coisa é o seguinte. Nós, todos nós mudamos. E podemos perceber isso pelas novas responsabilidades que adquirimos nas coisas mais fúteis do dia-a-dia.
Eu, por exemplo. Ontem ao ir dormir deixei a porta aberta e o telefone acima da cômoda à espera do soar pela manhã. E como num passe de mágica, ele não tocou. Se bem que poderia ter tocado muito cedo, mas o mais engraçado é que ele não tocou e nem por isso saí direto ao banheiro para olhar meus olhos.
O que nos faz mudar? Certamente novos contextos, mas num sentido mais humano e individual, o que me forçou a mudar alguns hábitos no decorrer desses anos? Alguns de bate e pronto, diriam. – A dor! Outros, entretanto, diriam – A política! E terceiros assoviariam alguma outra coisa, isso deixo a cargo de vocês, caros leitores.
De qualquer forma, sempre estamos observando nossos atos e posturas, e, sobretudo, pensando sobre o que eles podem significar deslocados num determinado momento. Medo.
Pois um ato falho numa tal situação, ou melhor, um posicionamento passado, num contexto presente nos faz ficar rubro e/ou dar voltas em milhares de explicações, enfim, uma série de divagações sem um tantinho assim de verdade. A mesma enrolação do passado agora com um pano de refinamento medíocre mergulhado em certos “academissismos” pueris e pobres. Fico me perguntando quando, mas quando escreverei uma linha se quer, mas uma única linha que eu possa dizer a mim mesmo. – Isso aqui sou eu!
Vejo um sem número de idiotas transitando de um lado à outro evocando um romantismo servil e entregue. Uma ode à natureza morta, um tal de troca de palavras a fim de nada! A fim de mais e mais troca de abraços e conversas forçosamente despretensiosas em mesas de bar acinzentadas por quilos de cigarros engolidos minuto a minuto.
Mas como de início, o que nos faz mudar. Eu cheguei a uma conclusão na altura dos meus 29 anos. Já fui muito contemporizador, mediando as situações com preocupações mil, em sair tudo lindo, trabalhado, correto. Várias são as situações que não fui eu. Mudei, mas mudei pelo contexto que empregava certa aceitação de um determinado status de situação. E quando tentava me soltar, me danava todo.
Mas digamos que tudo fosse jogado ao ventilador. Digamos que as papas na língua fossem esquecidas. Alguns ouviriam sentenças desagradáveis. Digamos que no passado, e ao olhar a ele, eu tivesse sido mais inconseqüente. O que seria de mim hoje? Melhor? Pior? Diferente? Ainda pulsante?
Mais ácido sim, mais eu quem sabe? Menos humano? Menos carinhoso e menos Alessandro? Será?
Quando me recordo de certas passagens que observei me resguardo o direito da autocrítica. Como pude, tendo uma certa rede que filtra seres indesejados, deixar que alguns seres sujos e rastejantes trocassem ao menos olhares comigo. Se bem que me diriam alguns -É o maldito contexto.
Mas dá uma certa raiva. Uma alta dose de raiva, digamos assim.
E se levarmos em consideração que as táticas dos outros também levam em consideração suas fraquezas. Para ser franco e aberto, isso tudo é um monte de bosta. Pra variar essa é a coisa mais fácil de ser dita.
Para mim atualmente, alguns contextos passados estão definitivamente enterrados, se bem que...Talvez, estejam ainda sobrando algumas pás de areia e cal para enfim, deixar essas picuinhas no passado.
Se eu subir o cursor até a primeira linha, já sei que o que estou escrevendo aqui nada tem a ver com as linhas iniciais desse texto.
Num pano de pretensão e superstição consigo mesmo alguns acham que estão desfilando sua mediocridade num filme, ou melhor, numa película passada em certos anos. Mas o que acho melhor nisso tudo é a falta de capacidade de ser alguém com punhos cerrados a fim de ir à frente no ringue de luta. Aplicam um tal blasé muito comum nas grandes cidades, ficam num farfalhar de palavras vazias e sem sentido.
Meus amigos costumam dizer que sou um tanto seletivo demais para não dizer, que sou extremamente fechado. Vá lá. Posso até ser um tanto fechado, mas uma coisa é certa e o passado me pregou tal obra.
Quem tiver que ser, que se faça por onde. Não me venham com meias palavras e um tanto de sorrisinhos. Alguns que eu nem mais vejo costumam me ver na rua. Dirige-se (alguns) a mim como se fosse uma grande tarefa a ser feita. Um gorfo de meias verdades e uma produção salivar de deixar qualquer babão de queixo caído.
Fracos são os que deixam ser corrompidos pelas mesmas ladainhas de sempre, o mesmo cheiro fétido de palavras jogadas aos ventos ao sabor dos contextos.
Agora eu vos pergunto, que bosta de contexto e como este nos cinge a necessidade de mudança?
De algumas coisas que aprendi nesses meus 29 anos, uma delas é manter a raiva. Ela é força criadora e em certa medida faz com que eu retorne às minhas memórias. Essas que nos demonstram que no passado, lá atrás, eu não deixaria as coisas correr por esses caminhos.
Será que já percebeu ser, em algum dia, um ser humano medíocre? Uma tal organização de órgãos podres com uma cabeça mais podre ainda e um olhar de peixe morto?
Mas é claro que não, pois afinal de contas, sei bem, que quando nos olhamos nos espelhos lembramos de nossas mães nos dizendo o quão lindo e perfeito somos, que nenhuma defeito nos foi deixado, e que, no futuro tereis o mundo a seus pés. Mentira!

Eu não vou reler essa porcaria.

“É um fato comprovado que os intelectuais mais transcedentes se tornam muitas vezes violentamente agressivos quando discutem a necessidade de suprimir a agressão. O fato não surpreende. Para dizer as coisas de maneira delicada, nós atravessamos uma grande confusão, e é muito possível que no fim deste século tenhamos acabado por nos exterminar completamente...
...Só um indivíduo verdadeiramente agressivo pode fitar os olhos dos outros durante algum tempo.“

Desembarque

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