segunda-feira, dezembro 29, 2008
"Sim" Cartola
Deve haver o perdão
Para mim
Senão nem sei qual será
O meu fim
Para ter uma companheira
Até promessas fiz
Consegui um grande amor
Mas eu não fui feliz
E com raiva para os céus
Os braços levantei
Blasfemei
Hoje todos são contra mim
Todos erram neste mundo
Não há exceção
Quando voltam a realidade
Conseguem perdão
Porque é que eu Senhor
Que errei pela vez primeira
Passo tantos dissabores
E luto contra a humanidade inteira
quarta-feira, novembro 19, 2008
Janela
Tenho pilhas de coisas pra corrigir e ainda algumas provas para redigir. Passarei boa parte da minha quinta-feira feriado redigindo e corrigindo coisas. E ainda tem jogo. Mas não vou justamente por isso, e talvez um pouco pelo incomodo da virilha que aos poucos vai passando.
Eu preciso de uma massagista mulher pra dar um jeito nisso. Uma mulher experiente que possa massagear a área dolorida. Digo da minha virilha e de outras partes, inclusive o coração.
Com esses computadores aqui na sala dos professores eu posso colocar em dia algumas das minhas vontades antigas, voltar a colocar essa porcaria de blog para frente. Já que aqui não posso ver pornografia, fico pensando em algumas coisas sentado no sofá. Tenho aula vaga, me sento aqui, e começo a pensar. Vejo meus emails, outras besteiras e me volto a tentar escrever coisas legais.
Se fosse em casa, essa hora estaria em frente a algum site de gordinhas gostosas a descascar uma punheta.
Ainda bem que essa sala esta vazia agora. São 15h05, o pessoal da cozinha deixou canjica aqui agora à pouco. Vou comer um pouco disso, logo menos tenho de subir. A porra do ensino fundamental com seus hormônios a flor da pele. Tá certo, na minha idade eu até era um pouco pior que eles.
Ao menos eles são gentis comigo, não todos, mas algumas salas gostam do meu jeito retardado de ser, e olha que não me viram bêbado...
terça-feira, novembro 18, 2008
Novamente problemas.
Agora a porra do chuveiro que pifou, ou foi a fiação?
Também, a semanas tomando banho e um perfume de fio queimado ao fim do banho. Fazer o que? Peguei a cadeira do meu quarto. Cadeira quebrada. Levei esse projeto de cadeira ao banheiro, subi, fuçei, poeira, espirrei, desliguei a chave geral e retirei o chuveiro.
Olhando, vi os fios queimados, um puta cheiro ruim, que vai impossibilitar a continuidade de meus banhos.
De ontem pra hoje, banho de balde. É foda. As coisas quando caminham de um jeito estranho, e eu nos últimos anos, ando fazendo um enorme esforço para não baixar a guarda e ficar resmungão. Mas em certos momentos, dá uma vontade de jogar tudo pro alto. Pegar um ônibus a qualquer lugar e tacar o foda-se completamente.
Final de semana passado, no sábado, fui almoçar com meus pais. A noite, eu estava bêbado pensando sobre as cenas que eu tinha visto. O amor dos dois velhos. Não costumo falar de muitas pieguices aqui, ao menos nesta época não. Mas foi foda ver meu pai abraçando minha mãe e dizendo asneiras a ela. Eu nem me lembro do que dizia, o que me marcou foi a expressão de ambos e o gosto do café expresso com leite que ele tinha pago à ela, que eu pra variar serrei.
Nessa mesma noite eu fiquei recordando uma música dos Racionais Mc´s. "Tô ouvindo alguém me chamar", num determinado trecho Mano Brow diz, (algo assim não me lembro ao certo)
"-Tem algumas que você não vê, monte de criança na rua, o vento na cara, as estrelas a lua".
Eu fiquei com essa impressão, esqueci do que falavam e eu ria das frases proferidas.
Eu amo eles. E minha irmã também.
Os significados vão se construindo estranhamente, ficar caminhando com meus pais pelo centro da cidade. Escutando o resmungar dos dois, e eu a torrar o saco da minha irmã... Ah sei lá...A vida é louca mesmo. Incrível como mudamos com o passar dos tempos.
Me disseram que eu era hipócrita, e por isso que era bom. Ou melhor, que eu mudava de posicionamentos. Eu fico feliz. Fico feliz por poder ser eu e mudar a fim de tentar enfiar um sorriso em meu rosto. Eu mereço isso.
Vocês todos sabem que sim.
Afinal de contas, chegamos até aqui e não vamos largar o osso facilmente.
O chuveiro está para ser arrumado. É aniversário do meu velho no sábado. E meu time ainda vai jogar sem minha presença. A virilha incomoda.
Até
quinta-feira, novembro 13, 2008
terça-feira, outubro 14, 2008
Falta Tempo
As mulheres mais gostosas, peitudas e bundudas estão por aí circulando num vai e vem frenético. Saio de casa em direção ao trabalho, elas passam por mim deixando seus perfumes em minha memória. Ao chegar no trabalho, parece que entro num matadouro. As pessoas me esperam para atendê-las. Aulas, e mais aulas. Falo como um vendedor de livros velhos tentando vender algo de bom. Entram e saem das salas. Mais pessoas. Mais cheiros e fico a solicitar a alguém alguma possibilidade de alívio. Volto pra casa, janto assisto televisão. Fumo poucos cigarros, me deito no sofá, vejo os gols da rodada, assisto algum filme mediano, penso e não extraio nada, a não ser as mesmas coisas de sempre. Deito-me, penso no que vou fazer no próximo dia, saio em repouso e sonho com mulheres de todos os tipos, gordas, magras, negras, brancas, amarelas...enfim tudo se mistura e quando me vejo, estou novamente me pé com a cara amassada e remelento.
Fazer café tomá-lo, ver e-mails, pensar no almoço. E assim segue o curso dessa vida. Nada de novo a não ser a mesma falta de tempo...
segunda-feira, agosto 18, 2008
Embarque
Ontem eu saí andando e pensando sobre a vida. Na verdade mais sobre as desgraças que a vida nos apresenta. Estava com o estomago vazio e sem cigarros. Geralmente a quantidade de cigarros faz um bem para um desterrado que vaga de um lado a outro com falta de comida no estomago. Caminhava pelas ruas que cortam uma avenida próxima. Passava por vilas vazias e observava a arquitetura de algumas das casas dessas vilas. Meu dorso estava retesado, minha cabeça doía e meus ombros tensos. Meus olhos lacrimejavam e meu nariz pingava como de praxe e me deixava mais angustiado quando meu bigode mais parecia uma mata ciliar para o rio que corria de minhas narinas à boca. Os dedos de meus pés estavam com as unhas para serem cortadas, dessa maneira, faziam com que meus pés doessem mais.
Os pensamentos dos dias passados e das palavras jogadas vinham e iam ao encontro do meu mau humor, rememorava as frases ditas numa noite de extrema raiva regada aos vapores do álcool. Me pegava pensando nas expressões de raiva e lembrando da serração da arcada dentária que pela raiva fazia com que eu ficasse serrando os dentes instintivamente.
Ao chegar em casa, algumas batatas ainda estavam para serem cozidas. Batata doce sabia que fariam um verdadeiro estrago ao oxigênio quando essas batatas fossem cozidas e comidas. A flatulência que elas produzem num estomago vazio é digna da mais pura poluição de um grande centro urbano. Mas era apenas batatas que poderiam ser servidas naquela noite. Junto com os poucos cigarros que tinham sobrado, era a alimentação a ser servida num contexto de mau humor com fome.
Às vezes a cidade parece um teatro em que os idiotas, seus atores, mais parecem ferozes leões que perseguem suas pobres riquezas a fim de mostrar tudo o que ganharam em dias de luta num círculo social da miséria.
Aos que vencem sobram os louros da vitória, aos que perdem a bosta da memória a lembrar dos obstáculos não vencidos. A mim sobra a preguiça. Preguiça de escrever, do trabalho, das imperfeições, dos livros, dos copos, dos óculos, enfim, de tudo. Uma indisposição até para comer bem. Com um real poderia ir ao bom prato para satisfazer meu pobre estomago com alguns grãos e outras especiarias regadas a toneladas de salitre. Passar num sebo e observar os livros que gostaria de ter um tostão no bolso, não é uma boa experiência. Lembrar do gosto de uma boa refeição faz reavivar a gastrite fazendo com que o refluxo gastro-intestinal morra definitivamente, pois nada há no estomago a não ser o suco gástrico que um dia vai secar, como a água nesse pedaço de rocha que vaga no sistema solar.
Então pergunto. Por que cargas dágua todos mentem tão descaradamente. Essa é uma pergunta que nem mesmo a população de filósofos, psiquiatras, terapeutas, psicólogos, médicos, professores, políticos, metafísicos não conseguiram responder.
Ao ir ao cinema num dia desses que a entrada é mais barata, uma garota me perguntou se eu gostaria de comprar a porcaria de um jornal da causa operária. Veja bem, estava na entrada de um cinema que a classe média paulistana comparece. Um jornaleco vagabundo que tinha como matéria principal a tentativa ainda tardia de findar com o império dos países desenvolvidos sobre os países subdesenvolvidos. Gastou litros de saliva numa conversa velha tentando fazer com que eu desembolsasse alguns trocados por aquela porcaria de jornal. Obviamente não comprei, iria encontrar minha namorada e assistir algum filme com ela. Mas fiquei pensando no que faria aquela garota a insistir em querer me informar sobre as benesses de uma leitura amparada no bem, na busca por um mundo melhor e assim por diante. O mesmo blá blá blá velhaco de sempre, que nem meu pai agüenta mais dizer. Em textos anteriores já os coloquei a par dos malefícios de nossa angustiada espécie de autômatos sem razão, que por demasiada razão criam universos e mentiras a se satisfazerem. Aquela garota deve ter pensado que era eu um jovem de classe média abastada com os bolsos cheios de nota e barriga cheia de comida e que seria um perfeito idiota para ela passar à frente um exemplar ridículo de um jornalzinho de esquerda que ainda parado no tempo vocifera a luta do operariado. Se bem que ela queria vender para a classe média abastada. O que ela poderia esperar de mim? Um afago intelectual nas rosas da luta de classes, ou o mau hálito que saía da minha boca, pois estava caminhando a horas sem nada no estomago a não ser a fumaça dos cigarros fumados.
Cai fora
sábado, janeiro 26, 2008
Homem Médio
A solução para o confinamento dos nossos devaneios pode ser a total entrega aos desejos mais profundos que ali estão enterrados em nossa consciência. A arte de burlar nossos desejos foi consolidada a partir de anos pelos nossos antepassados. Asnos que somos, não enxergamos um palmo além de nossos narizes.
O ínfimo sustentáculo consolidado nos atuais dias nos faz rumar ao fosso da desesperança e da própria comiseração e pobreza. Ao sustentar a mentira conseguimos esconder nossas consciências.
O produto da minha geração é a falta de perspectiva e de transparência nos atos e nas vontades, essa geração de autômatos ruma direto com rapidez ao fosso do nada, e sem consciência de que vão a passos largos dinamitando as possibilidades de construção de seres mais vivos e pulsantes. Um balaio de incertezas e inconsistência se faz representar na atual geração de pessoas que mais se solidarizam com a possibilidade de se inscrevem e fazerem parte dos dentes dessa engrenagem imbecil e sem sentido. De qualquer forma, me parece que as coisas sempre foram assim. Uns correm de um lado a outro da cidade à procura de algo que nem mesmo sabem. Exercito de idiotas com fome e sede pelo mesmo que já sabem, ou melhor, que nascem, a saber, que já são pobres de espírito. O mesmo cortejo triste de animais que mal enxergam seus vícios e caminhos. Passam de um lado a outro da esfera sem darem conta dos gastos da vida.
Esperar o que de nós? Poderia perguntar alguém saído do passado distante, ou mesmo do futuro.
A esperança é o desejo de um banco de madeira que recebe nossas bundas sujas de merda de tanto que produzimos esterco mal cheiroso. Conseguimos num passe de mágica construir um castelo de opressão e violência. Esperar o que de nós, a não ser mentira, vilania, inconsciência, pobreza, miséria e fartura de lágrimas. A cada litro de lágrimas produzidas por nossos semelhantes, observamos o choro dos crocodilos que não mentem tão bem quanto nossa espécie mequetrefe e sem sentido.
A atualidade é um misto de vomito recém saído de nossas gargantas somadas à ruminação eterna de nossas dores mais profundas.
Vejamos o homem médio. Suas preocupações atuais são mais parecidas com as de um ser anômalo sem sentido ou direção. Ao passear de ônibus, visualizo a tentativa de demonstração de status através da simples aquisição de um bem de consumo idiota. Celulares com milhares de funções, câmeras de fotografia com flashs supersônicos que disparam a cada flatulência, relógios que pregam seus donos na racionalidade, tênis de astronauta com possibilidade de inflar contra as intempéries da vida na cidade, óculos que cegam, roupas que amortizam a vida, calças com desenhos enganadores pela industria têxtil, enfim, essa nossa geração é a atualidade do lixo que o homem se tornou.
Fazer o que nesse momento, a não ser observar o desfile desbundoso de mulheres sem sal e sem tempero, e homens com a personalidade um biscoito deixado meses atrás no armário.
Como disse linhas atrás, a esperança é um banco de madeira que possa receber minha magra bunda a fim de que eu possa pacientemente assistir o movimento sem sentido desses seres desencarnados em vida.
Desembarque
sexta-feira, janeiro 25, 2008
Planeta do Ridículo
Embarque
Um dos males da humanidade é a super estimação da bondade. Ninguém é bom. Todos nós somos a exata soma do reino animal transformado em arte por um Deus qualquer. A origem de nossa espécie se pauta no intermitente e sofrível governo do mais forte e do mais capacitado sobre o mais fraco. Sempre foi assim e me parece que assim sempre será. Nos resta observar o tombar diário de nossos anseios mentirosos por justiça e paz. Somos a espécie mais suja e vil que esse pedaço de rocha já pode conceber. Consentimos com a pobreza alheia e de um passe de mágica esperamos a mudança tombar sobre nossas cabeças como se víssemos um clarão de luz a nos direcionar. Um macaco em estado de morte é mais franco que essa sujeira que somos. Os desmandos de nossos semelhantes mais parecem a construção de um reino de asneiras à procura de uma resposta lógica a esse estado de coisas.
Ontem fomos as caças, formamos hoje exércitos e nos transformamos em caçadores em potencial a aniquilar qualquer força que nos oponham, e nos gratificamos por isso. Ficamos gratos por vivermos em sociedade, em grupo conseguimos o que grupo nenhum de espécie alguma conseguiu. A construção do reino de idiotas e imbecis. Uma espécie de mistura de mentirosos, corruptíveis, estupradores, vagabundos e falsos. O reino dos interesses dos poderosos nos chama atenção, nos oprime a querer o que eles têm. A contínua caça consolida a violência em forma de socialização forçada. Incrível não sentirem nojo disso tudo. A gama de políticos filhos da puta que tem pra si a possibilidade de vociferar seus pontos de vistas poderia ser resumida numa algazarra numa jaula de macacos retardados.
O homem conseguiu. Basta ver a quantidade de explicações pelo ardor numa luta externa. Todos gritam por eles, todos querem ser eles, mas não largam o osso de suas fraquezas. Uma espécie em fim de linha é o que somos. Pior ainda, é que continuamos a perpetuar a lógica da bondade. Seja a igreja, os governos, as casas de massagem, os partidos políticos, a elite, os despossuídos, os livreiros, os vendedores de cachorro-quente, os flanelinhas, as socialites, os enfermos, os boêmios, os analistas de sistemas, os escritores, os extremistas radicais de direita e de esquerda, os filósofos, os intelectuais enfim, a tal da coletividade que vive nessa pocilga imunda de cidade. Todos mentirosos, a fazerem univocamente votos de pobreza, ou em alguns casos, dores de consciência, gozam da mentira e adornam suas frases de efeito com simbologias sem sentido que nem aos vermes que vivem em seus estômagos enganam.
Milhares de páginas de livros, compêndios escritos ao motor da mentira. Grandes manuais de como gostar e gozar da cara alheia. Preocupações todos têm. Problemas? Alguns mais que outros. Soluções? O planeta do ridículo se diz solucionar todos os males.
Desembarque
Engrenagem Humana
Quando fui descendo do ônibus pude observar o trajeto que faria da minha vida a partir das transformações que a mim vinham sendo desenvolvidas. Eu não era mais o mesmo.Tentaria me livrar do passado a busca do futuro.
Dessa forma iniciou-se o trajeto das minhas lamentações pelo vasto mundo. Ao deixar minhas memórias soltas, pude verificar que recortei tudo a fim de alcançar um certo sentimento de paz interno e duradouro. Obviamente não alcancei tal objetivo, e não seria nem pelo fato da própria manipulação das minhas memórias, mas sim, por diversas outras questões que chamariam minha atenção no decorrer do trajeto deste pelos lugares. Nossa atenção é uma coisa engraçada, ontem me peguei observando o bailar de uma garota pela rua. Via um belo traseiro desfilando acintosamente no arruamento, e transformava a rua numa espécie de ponte movediça, que se move ao suave toque de seus pés no chão obrigando necessariamente o bailar de suas ancas. Ela bailava de um lado a outro da calçada e eu observava o seu dançar de forma que tudo balançava ao nosso redor devido ao poder destruidor de suas ancas, ou seria de seu bailar? Bem, deixaremos essas minúcias para outro lado. Ao movimentar-me no mesmo molejo da garota a ereção me pegou desprevenido, só que eu mais parecia estar tão enfiado naquela bunda que uma ereção naquele momento não me tiraria atenção daquelas formas arredondadas e macias.
Se houvesse a possibilidade de viver numa anca, eu viveria. Mas sem dúvidas. Sentir o suor escorrer pela maciez de uma grande bunda, pertencer a aquele lugar, desfrutar de todas as benesses de uma vida regada a suores e odor de merda. Uma delícia praticamente. Sentir as formas dos sulcos diariamente, pertencer ao mundo das curvas, das ascendentes e das descendentes.
Referindo-me a prática do manuseio de uma bela anca, me lembro que dias atrás ao manusear aquela linda porção de carne, eu pude ver suas formas serem ocupadas pelas minhas mãos. E deixei estacionada minha mão naquela grande e robusta sacola de carne até que eu me cansasse de tal atividade. Observei as formas se transformarem através do contato de minha boca com a superfície tenra da daquela área, percebi que tinha ficado arrepiada de acordo com o manuseio do maquinário. Mexer num corpo feminino é como observar o movimento de um motor de carro e arrumá-lo, caso de alguma emergência, de preferência aquele ajuste que necessariamente você terá de enfiar a mão. Não digo desses novos espécimes com motores, que mais parecem naves espaciais quando abrimos o capô do carro. Eu falo de enfiar a mão no motor e mexê-lo de cima a abaixo, redirecionar suas peças e suas engrenagens de modo a sair com mão suja de graxa viscosa.
Devemos enfiar a mão com gosto e perceber os dentes da engrenagem, a localização dos parafusos e porcas. Ao besuntar com mais graxa a engrenagens devemos movimentá-las de forma a ligar o motor e escutar o relichar do motor e esperá-lo esquentar.
Desembarque
Como uma idéia brota de nossa massa cinzenta? É essa pergunta que me norteia nessa construção.
Diariamente eu sonho em acordar, abrir os olhos, tomar um bom café, fumar um cigarro e sentar nessa pobre cadeira dura e me fazer de um rio em torrentes caudalosas vazando letras, palavras e sentenças certeiras que atiram chumbo quente no meu coração e no resto do mundo.
Hoje tentei ser mais racional, escolhi um assunto fértil que poderia permear um bom texto. Pensei numa boa argumentação e fiquei deitado na cama por volta de uns quarenta minutos pensando no tipo de discurso que eu iria fazer. Os carros buzinavam e cintilavam suas cores no teto do quarto, meu estomago resmungava e gritava sempre a cada vez que prendia minha atenção nele, meus olhos ainda sujos de lágrimas derramadas pelo sono, um gosto de obsoleto na boca e assim por diante eu ficava deitado observando e arquitetando as diversas formas que eu deveria usar para chegar à constatação que um dia eu teria a possibilidade de me ouvir sem parecer que soou um outro sujeito que escreve, e por isso, ao não me reconhecer descarto rapidamente tal escrito.
Bem! Que seja! Levantei-me fui ao banheiro. Mijei e meus pés agora eram alvos de minha atenção. As unhas estavam grandes e sem formas de unhas. As veias de meus pés tinham saltado e mais parecia que eu estava suturando algo corte no pé, o calcanhar duro e áspero (daria para lixar um Ford landau). Em seguida minha atenção se prendeu as pernas e assim por diante até chegar no rosto.
Quando observei meus olhos, tive dó. Já estavam cansados, novamente eu estava a olhar para mim por falta de ter um assunto descente a desenvolver. Claro que falar da minha carcaça que se arrasta de um lado a outro é assunto demasiado interessante, mas não sei. Queria outra coisa neste exato momento. Uma outra visão, paisagem, um outro lugar para que eu pudesse me prender e observar cada contorno, e então assim, quem sabe, melhor me expressar.
Fico elencando inúmeros assuntos com as mais obtusas abordagens que possa existir, mas quando me sento nesta cadeira, o que mais penso é como deveria soar bom, mas tão bom para mim mesmo. Como poderia controlar o desenvolvimento de um texto, (ou melhor, meu texto) com uma desenvoltura e liberdade que me deixasse um pouco mais satisfeito. Escrever é um ato de diversos níveis. Há aqueles que são gênios.
Não sei porque cargas d´água esses (gênios) nasceram com o dom mágico da generosidade na concepção de todos os detalhes de um tal contexto. Conseguem exprimir tudo, mais parece que a experiência da realidade pode ser vista em todos os ângulos, por diversas situações.
Há a espécie dos pré-genios. Esses são aqueles que você nunca os leu, e possivelmente não os lerá em vida. Todos falam deles, não são clássicos, mas é aquele tipo de escritor meio burocrata na tarefa árdua da escrita. Pode-se ler um dois ou três parágrafos que já se resumi todas as capacidades do sujeitos. De qualquer maneira, conseguem editoras vão a coquetéis e demais eventos comemorativos de tapinhas nas costas. Esses são sortudos, não são os azes das coisas, mas se viram. Diferentemente de mim (esse falaremos mais adiante).
A classe dos picaretas é composta pelos próprios picaretas. Sujeitos desprovidos de vergonha na cara que vão a portas de estabelecimentos reconhecidamente artísticos e mendigam alguns trocados pela sua arte. Esses escrevem em qualquer lugar, são os chamados patologicamente artistas não reconhecidos. Os seus méritos podem ser descritos pelos outros mais que do que pelos próprios indivíduos. Um termômetro interessante sobre essa categoria é a vergonha alheia. Quanto mais vergonha alheia você sentir por um sujeito desse, mais esse sujeito estará desvelando sua arte pela cidade. Esse sim se acha um vencedor, se bem que ele dá cara à tapa, enfim...Sobra a categoria dos arqueólogos preguiçosos.
O mérito desse, me incluo nesse quinhão, é a modéstia preguiçosa, tudo o que os sujeitos dessa categoria escrevem é um porcaria. São arranjos de algumas boas frases com a produção do desconexo em série. Como somos preguiçosos são tomamos o labor da escrita com grande entusiasmo, em algumas vezes sim, mas na maioria ficamos a observar o vai e vem das idéias e depois achamos recortá-los tão bem, que erramos no escavamento. O mérito, voltando a falar do mérito, é a preguiça por uma cobrança interna pelo reconhecimento do “mundo artístico” até se tem vontade, mas sabendo das possibilidades de um país modernizado à força e guela abaixo, a leitura nunca será um objeto relevante à coletividade. E ficamos num bate papo de cego surdo e mudo, uma conversinha vazia a procura dos objetos que estão ao nosso redor e por fim, sentamos numa cadeira dura depois do sono com um cigarro à mão a brincar de escritor genioso não reconhecido que vende suas argumentações na porta de cinemas freqüentados pela composição mediana de poder aquisitivo com um pouco de preguiça.
Desembarque
domingo, janeiro 06, 2008
Eu não vou reler essa porcaria!
Eu fingia estar satisfeito com o andamento da minha vida, me refiro a anos atrás. Não que hoje esteja totalmente feliz, mas anos atrás eu tinha a preocupação com os estudos, diversas responsabilidades das quais eu não poderia falhar com nenhuma delas, nenhuma mesmo.
Arquitetava minha passagem da classe dos acéfalos para a classe dos possuidores de tato, refinamento, critérios. Enfim, uma série de novas experiências me aguardavam na passagem dos anos.
Essas coisas são engraçadas, num momento besta da sua vida nós podemos perceber que definitivamente mudamos de uma coisa à outra. As responsabilidades continuam ali. Intactas! Se bem que até mesmo essas mudam de uma coisa à outra. Mas os critérios são largos, e para se ter critérios é necessário ter refinamento, sofisticação. Bem, seja lá o que for a coisa é o seguinte. Nós, todos nós mudamos. E podemos perceber isso pelas novas responsabilidades que adquirimos nas coisas mais fúteis do dia-a-dia.
Eu, por exemplo. Ontem ao ir dormir deixei a porta aberta e o telefone acima da cômoda à espera do soar pela manhã. E como num passe de mágica, ele não tocou. Se bem que poderia ter tocado muito cedo, mas o mais engraçado é que ele não tocou e nem por isso saí direto ao banheiro para olhar meus olhos.
O que nos faz mudar? Certamente novos contextos, mas num sentido mais humano e individual, o que me forçou a mudar alguns hábitos no decorrer desses anos? Alguns de bate e pronto, diriam. – A dor! Outros, entretanto, diriam – A política! E terceiros assoviariam alguma outra coisa, isso deixo a cargo de vocês, caros leitores.
De qualquer forma, sempre estamos observando nossos atos e posturas, e, sobretudo, pensando sobre o que eles podem significar deslocados num determinado momento. Medo.
Pois um ato falho numa tal situação, ou melhor, um posicionamento passado, num contexto presente nos faz ficar rubro e/ou dar voltas em milhares de explicações, enfim, uma série de divagações sem um tantinho assim de verdade. A mesma enrolação do passado agora com um pano de refinamento medíocre mergulhado em certos “academissismos” pueris e pobres. Fico me perguntando quando, mas quando escreverei uma linha se quer, mas uma única linha que eu possa dizer a mim mesmo. – Isso aqui sou eu!
Vejo um sem número de idiotas transitando de um lado à outro evocando um romantismo servil e entregue. Uma ode à natureza morta, um tal de troca de palavras a fim de nada! A fim de mais e mais troca de abraços e conversas forçosamente despretensiosas em mesas de bar acinzentadas por quilos de cigarros engolidos minuto a minuto.
Mas como de início, o que nos faz mudar. Eu cheguei a uma conclusão na altura dos meus 29 anos. Já fui muito contemporizador, mediando as situações com preocupações mil, em sair tudo lindo, trabalhado, correto. Várias são as situações que não fui eu. Mudei, mas mudei pelo contexto que empregava certa aceitação de um determinado status de situação. E quando tentava me soltar, me danava todo.
Mas digamos que tudo fosse jogado ao ventilador. Digamos que as papas na língua fossem esquecidas. Alguns ouviriam sentenças desagradáveis. Digamos que no passado, e ao olhar a ele, eu tivesse sido mais inconseqüente. O que seria de mim hoje? Melhor? Pior? Diferente? Ainda pulsante?
Mais ácido sim, mais eu quem sabe? Menos humano? Menos carinhoso e menos Alessandro? Será?
Quando me recordo de certas passagens que observei me resguardo o direito da autocrítica. Como pude, tendo uma certa rede que filtra seres indesejados, deixar que alguns seres sujos e rastejantes trocassem ao menos olhares comigo. Se bem que me diriam alguns -É o maldito contexto.
Mas dá uma certa raiva. Uma alta dose de raiva, digamos assim.
E se levarmos em consideração que as táticas dos outros também levam em consideração suas fraquezas. Para ser franco e aberto, isso tudo é um monte de bosta. Pra variar essa é a coisa mais fácil de ser dita.
Para mim atualmente, alguns contextos passados estão definitivamente enterrados, se bem que...Talvez, estejam ainda sobrando algumas pás de areia e cal para enfim, deixar essas picuinhas no passado.
Se eu subir o cursor até a primeira linha, já sei que o que estou escrevendo aqui nada tem a ver com as linhas iniciais desse texto.
Num pano de pretensão e superstição consigo mesmo alguns acham que estão desfilando sua mediocridade num filme, ou melhor, numa película passada em certos anos. Mas o que acho melhor nisso tudo é a falta de capacidade de ser alguém com punhos cerrados a fim de ir à frente no ringue de luta. Aplicam um tal blasé muito comum nas grandes cidades, ficam num farfalhar de palavras vazias e sem sentido.
Meus amigos costumam dizer que sou um tanto seletivo demais para não dizer, que sou extremamente fechado. Vá lá. Posso até ser um tanto fechado, mas uma coisa é certa e o passado me pregou tal obra.
Quem tiver que ser, que se faça por onde. Não me venham com meias palavras e um tanto de sorrisinhos. Alguns que eu nem mais vejo costumam me ver na rua. Dirige-se (alguns) a mim como se fosse uma grande tarefa a ser feita. Um gorfo de meias verdades e uma produção salivar de deixar qualquer babão de queixo caído.
Fracos são os que deixam ser corrompidos pelas mesmas ladainhas de sempre, o mesmo cheiro fétido de palavras jogadas aos ventos ao sabor dos contextos.
Agora eu vos pergunto, que bosta de contexto e como este nos cinge a necessidade de mudança?
De algumas coisas que aprendi nesses meus 29 anos, uma delas é manter a raiva. Ela é força criadora e em certa medida faz com que eu retorne às minhas memórias. Essas que nos demonstram que no passado, lá atrás, eu não deixaria as coisas correr por esses caminhos.
Será que já percebeu ser, em algum dia, um ser humano medíocre? Uma tal organização de órgãos podres com uma cabeça mais podre ainda e um olhar de peixe morto?
Mas é claro que não, pois afinal de contas, sei bem, que quando nos olhamos nos espelhos lembramos de nossas mães nos dizendo o quão lindo e perfeito somos, que nenhuma defeito nos foi deixado, e que, no futuro tereis o mundo a seus pés. Mentira!
Eu não vou reler essa porcaria.
“É um fato comprovado que os intelectuais mais transcedentes se tornam muitas vezes violentamente agressivos quando discutem a necessidade de suprimir a agressão. O fato não surpreende. Para dizer as coisas de maneira delicada, nós atravessamos uma grande confusão, e é muito possível que no fim deste século tenhamos acabado por nos exterminar completamente...
...Só um indivíduo verdadeiramente agressivo pode fitar os olhos dos outros durante algum tempo.“
Desembarque
sexta-feira, dezembro 28, 2007
Dois Pobres movimentos
Eu sento, respiro e descanso.
A fúria do meu estomago me remete a uma guerra que é travada no meu corpo. Sinto fome. Observo as barracas dos vendedores de badulaques e churrasco. Um senhor pula uma possa de água da chuva de dias atrás e eu respiro. O suor desce lavando a minha testa e sinto o estomago puxar sirene de alerta. Uma senhora passa ao meu lado, desenruga a pele para me observar com seus olhos caídos, e o muleque de rua insiste em querer engraxar minhas botas. Eu sei que estas estão sujas. Mas tenho apenas três reais para pagar o metrô e ainda se possível comer algo que preste.
Finjo enganar meu estomago. Levanto e prossigo no cortejo pobre dessa vida.
Ontem com um amigo, ficamos a falar do teatro ridículo que é a vida, seu processo.
Hoje fico a falar groselhas aqui na pobre expectativa que alguém de um sinal, do tipo, “Nossa como você escreve tão firmemente e entregue”, ou melhor, “Isso é genuinamente de um escritor em tal fase, veja os movimentos dos textos”. Montes de blá blá blá, na vã possibilidade de reconhecimento.
Ao ser indagado nesses dias como corriam meus dias, lembrei dos momentos que estão expressos logo acima, dias de calor, minha testa pinga suor, a fome continua corroendo meus órgãos. Meus olhos estão ressecados e ao coçarem começo a espirrar. O fluxo das idéias continua da mesma forma intermitente e desorganizado, nada bom para um sujeito organizado.
Minhas botas cada vez mais empoeiradas e não digo isso pela falta de uso, mas pela falta de água que deveria ser vertida do céu. Um calor desgraçado e ainda preciso correr atrás de documentos de um lado para outro e apenas ver meu rosto refletido em possas de água deixadas a oras atrás pelos vendedores de espetinhos da rua.
Eu me sentiria mais feliz, se não tivesse que iniciar essa bosta de ano já com milhões de preocupações na cabeça e um sem tanto de coisas a ter de fazer e lugares que não conheço a ter de ir, trocentos formulários a preencher, litros de saliva gastas a solicitar verbalmente andamentos e informações. Sorrisos, olhares, pedidos e mais um sem número de coisas a fazer.
Enfim, mais e mais, inchação e encheção de saco.
Desembarque
quarta-feira, outubro 24, 2007
Atrito
O pendulo das horas vai e volta, tateio a língua no céu da boca e observo o caminhar dos transeuntes pelas calçadas encharcadas de sangue. Não me sinto pertencido ao vai e vem da rotina angustiante que me sufoca a cada dia.
Vou cambaleando de esquina a esquina esperando um sopro de vida libertador que me faça voar ao infinito dessa maldita vida medíocre que levo e que me faz rodar atrás do meu próprio rabo insistentemente sem fim incitando minha mente a pedir por paz e liberdade.
Todo santo dia acordo à espera de uma alegria efusivamente cheia de pertences ociosos, para que eu possa cambalear sozinho sem ter horário ou demais funções a cobrir. Há dias venho pensando. Todos nós nos conhecemos muito bem. Mas não a si próprios.
Uma luta infindável na minha cabeça se ergue sem que eu possa me erguer e obstruir isso. Meu espírito quer liberdade, eu preciso repousar minha retina no teto sem ter ocupações ou fichas cadastrais para preencher, preciso de tempo para mim, preciso conhecer-me como nunca tenha estudado. Falo de tempo. De eras a pensar para fé, sugestão e vida. Falo do sopro que acalenta nossa alma, que nos faz gozar de pé juntos e contorcidos, ou para outros abertos e esticados. Eu falo, grito de liberdade.
Poderia observar os grandes feitos da nossa inútil sociedade industrial e observar com liberdade, tempo e cautela cada produto desses titãs dos dias passados e atuais.
Eu, ou melhor, nós todos. Deveríamos parar. Sentar e observar o vai e vem da poeira e da areia que nos cega os olhos por alguns segundos e deixar as lágrimas rolarem pelo rosto. Deveríamos deixar o pé no acelerador eternamente na estrada romper os caminhos ir ao final sem tempo a nos impedir.
Eu cansei do matraquear mentiroso da cidade, do seu processo envolvente e apaixonante, se pudesse ficaria sentado observando o caminho das formigas, que caminham e andam de lá para cá. Mas nós ficaríamos apenas observando.
Depois, quem sabe, sairíamos por aí a conversar sobre a força de tais organismos.
Será que um dia isso muda? E a paz? Para produzir calmamente. Esse furduncio danado é contraproducente... pombas!
Desembarque
segunda-feira, agosto 20, 2007
sexta-feira, maio 04, 2007
Sentença
Embarque
Comecei algumas outras linhas e apaguei-as deliberadamente. Eram péssimas. Há tanta coisa pra se escrever, que até me perco. Poderia começar a relatar as impressões dos últimos dias, ou quem sabe alguma experiência do passado. Ou mesmo deliberadamente misturar sonho, com realidade, bater tudo no liquidificador. Beber e vomitar aqui.
Sigamos o meu raciocínio. São tantas coisas...Que só de pensar em tentar escolher alguma coisa já seria uma tarefa por demais trabalhosa. Quem sabe a pobreza pode ser um bom assunto a ser enredado e amarrado. Talvez escolha alguma outra situação. Pensei poder falar de escolhas, mas se não escolhi pelo assunto pobreza porque cargas d`água haveria de falar de escolhas. Ta, mas e daí? Escolhas e mais escolhas na minha mão, e algo resolvido? Muito pelo contrário meu caro leitor. Já se foram algumas boas linhas e o pêndulo vai e vem sem aparente resolução. Acho que por hoje essa sensação do não saber os porquês da vida se abateu sobre mim. Tranqüilamente eu observei o cortejo de ontem, aliás, eu fiz parte desse cortejo. Empurrei-o com louvor e observei as cores das flores e o sol luzia mais forte que nunca. Poderia ter chovido no dia anterior, assim a grama ficaria molhada e mais reluzente aos raios solares.
A vida é uma coisa engraçada, nos reconhecemos em certos períodos tão complicados de nossa existência que chega a ser tragicômico. Reconhecer o obvio e sentir o companheirismo dos ventos que sopram na minha orelha, construindo frases com as formas de choque do vento contra meu rosto. A cumplicidade nesse momento se faz presente, a cada amanhecer e a cada vez que a janela é aberta o mesmo companheiro pronuncia algo. Ao soar nos meus ouvidos suas palavras tomam cores e reluzem ao sol da manhã anêmica de outono. Os tons pastéis, com vozes ásperas e arrastadas, o rio de asfalto azul escuro corre ao fim do mundo pintando a paisagem entregue e absorta. Eu posso sair e caminhar, ver o sorriso anêmico dos presentes e conversar com os ventos que me cercam, e me conduzem ao fim do rio de asfalto, sendo iluminado pelo anêmico sol de abril e maio. Sendo cercado por quilos de folhas mortas que são sopradas pelos ventos na minha retina. Em formato de serras, essas folhas quebradas rasgaram meu globo ocular, e depositando-me ao chão me protejo dessas folhas, a sentir a dor nos olhos. Mas antes, me certifico que ainda enxergo. Os tons estão ainda mais fortes, uma espécie de amarelo morto aguado e um azul que dá ânsia de vomito de tão forte e escuro que é. As serras das folhas ainda estão em meus olhos, mas observo as coisas. A certificação que posso observar os outros e as coisas ao meu redor.
A obviedade do ser se tinge de pobreza quando este outorga da sua felicidade pelo bom andamento do consenso atual da coletividade. Frases, palavras e dor, mais sentenças e encaminhamentos, e quando as malditas serras das folhas rasgavam meus olhos, senti a luz preencher meu estomago e de uma ânsia de vomito ininterrupta que vomitei no rio de asfalto fazendo um caminho de vomito que não parava de sangrar minhas narinas e correndo fui ao farmacêutico com o canto dos ventos aos meus ouvidos sendo cercado de mortos vivos pude ver a maldita luz anêmica desse sol que teima tingir minha pele de amarelo enquanto sofro de dores no estomago ao vomitar os espinhos das folhas serrantes no eterno azul escuro do asfalto.
O mesmo de sempre da mesma forma com os mesmos contornos interpelando os mesmo, de mesmo, pelo mesmo, afeito aos mesmos...A fim de conseguir algo. Do gênero literário pulamos para a fábula medíocre dos tolos e incompreendidos do mundo anêmico que nos rodeia, ou que nos rodeamos. Somos anêmicos, medíocres e entregues. Famélicos e fáceis de usurpar, a fim de sermos estuprados todas as noites enquanto nossas lágrimas irrompem por nossos olhos endireitamos nosso traseiro ao enorme consolo que vai rasgar nosso pobre rabo fraco e vamos chorar calados sem reclamar. Vamos sentir os dentes rasgando nossa pele como os dentes das folhas rasgaram meus olhos. Eu principalmente vou me deitar e pedir, porque sou pobre de espírito e devo me entregar aos pobres e famélicos, fáceis e idiotas, aos vermes, lixos, medíocres, usurpáveis, finitos em existência, tristes e corruptíveis.
Uma insana dança de mortos vivos são vistas nos dias, um bailar idiota e que cheira a bosta. Uma dança idiota com seres idiotas iguais a mim e a você. Iguais a nós. Eu queria esmagar suas cabeças com as minhas mãos. Enfiar um machado nas suas bocas, quem sabe arrancar o maxilar em alguns golpes certeiros, e depois embarcar esses corpos a um incinerador central, e de lá faríamos fogueiras pra nos aquecer e nos lembrar de quão vermes e baixos somos todos. Iria explodir as centrais telefônicas pra que ninguém, nenhum pai ou mãe falasse com seus filhos, que nenhum trabalhador se organizasse e nenhum maldito patrão conseguisse chegar a seu lugar de destino a tempo de vender suas coisas a tempo de lucrar e seu veículo seria invadido por grandes roedores que comeriam até a cartilagem de suas gengivas de tanta fome que sentem. E nós seríamos o prato principal a ser degustado com raiva e apreço pelo ódio de nossos espíritos. Os mortos vivos como nós, seriam entregues numa espécie de fornalha e queimaríamos nossos corpos, ardendo em nossas narinas as chamas nos reduziriam a cinzas, depois essas, seriam espalhadas por aí.
terça-feira, maio 01, 2007
Cortejo do mesmo silêncio
Embarque
Hoje escolhi não sair. Não ver mais ninguém, viver o meu casulo inquebrável de minutos e mais minutos, que se tornam horas e dias passam, rugas brotam e a velhice se aproxima mais e mais. Sem que ninguém pudesse perceber fiquei horas e mais horas sem fazer absolutamente nada. Pela minha preguiça, com alguns posso ter falhado, outros desmarcado e a todos um sincero pedido de desculpas. Mas hoje não! Não pude deixar meu cansado corpo a vagar por aí.
Fiquei em casa alimentando meus outros amigos e cuidando de uma amiga que está doente do pulmão e não come nada a dias. Tinha pensado em sair, mas mudei de idéia. A vontade de novamente se sentir só retornou a esse lar, e como vem sendo tive de tentar lidar com isso, a diferença foi a escolha. Partiu de mim. Geralmente tentava me cercar de todos pra não me sentir só, fazia questão do auê da rua, das conversas, gritarias e tantas outras coisas. A quantidade de cerveja bebida hoje não me convenceu, até porque não bebi.
As risadas, os gestos, as piadas. Os pedidos, as contas, caminhadas e o sono. Não! Por hoje não.
Desde que tudo se iniciou, esse cortejo vem sendo diferente. A cada túmulo visitado o silêncio é ouvido de maneira diferenciada. Hoje o silêncio apenas quebrado pelas reclamações e pedidos de refeição de um amigo que não pára de engordar e pede mais comida.
Achei que fosse ser um dia realmente diferente, mas optei pelo mesmo. O cortejo do mesmo silêncio.
Também não esperava nada mais que isso, sozinho talvez pudesse eu ouvir mais minhas comiserações e questões relativas a isso. Completamente afundado em meus devaneios não cheguei a lugar algum. Depois de alguns acordes, e idas e vindas do meu quarto, uma boa quantidade páginas lidas, alguns minutos de televisão assistida, enfim, cá estou da mesma forma que antes. Meus passos se inscrevem no tapete e os leio mais e mais, sem que possa me ver novamente. Um cansado corpo se esvai lutando pela manutenção das memórias.
A roupas jogadas pelo chão, as marcas das caminhadas e as feridas abertas a sangrar mais um pouco a deixar um lastro de sangue espalhado no carpete.
A dor que pesa no pescoço me faz sentir também dor de cabeça. O peso do copo de água é demais no dia de hoje, e já foi assim quando tive de esvaziar minha bexiga no banheiro minutos atrás, o corpo é pesado da mesma forma que o copo se fora antes.
Um diálogo sem interlocutor e a escolha feita a esse caminho silencioso. Poderia sair agora e caminhar pelas ruas exatamente às 2h15, exatamente nesse momento essas ruas são uma representação do meu espírito. Um sinal de buzina ao fundo, uma xiado da geladeira, o pinga-pinga da torneira da pia.
Tudo do mesmo jeito e nada no seu lugar. O cansaço da vista contrasta com novas visões ou seriam devaneios ocasionados por esse problema. A divisão das casas e todos dormindo, alguns andando pra cima e pra baixo, gritando a procura de seus comparsas na noite, que come a noite a vomitar o dia.
Estive ali, sentado o início da noite toda, preparando as gorjetas ao senhorio da noite. Esse homem que vem às vezes pra recolher seu sagrado dízimo da putrefação dos relacionamentos e da vida. Sentado fiquei ao assistir os programas televisivos e o requintado senhor chegou cobrou e caiu fora. Mais uma vez, com ele nem precisei dialogar, já me conhece esse velho. Diria que sabe pra onde vou, já especulando de onde vim. Mas sem problemas, ele funciona assim. Completamente absorto nem me lembro por onde ele possa ter passado, isso não era o mais importante nessa noite. Cheguei a conclusão que ficar sozinho hoje, se constituiu muito mais que uma conjugação do destino que possa ter imposto isso, muito pelo contrário. Eu impus o destino dessa noite a partir do momento que pensei nos diferentes caminhos que poderia ter tomado. Ou melhor, impus isso na medida que me senti vazio. E necessariamente pra se sentir totalmente vazio, eu preciso não fazer nada. A não ser explicitar minha ausência aqui. O espelho do atual momento.
Das outras falei de organização, dessa vez nem toquei nesse ponto. Me parece que a partir do momento da escolha por um determinado caminho o mar silencioso se ocupou por organizar minha cabeça e fazer com que eu pudesse ficar quieto sem pronunciar uma palavra se quer por horas e a conversar apenas com meus vazios.
Engraçado que de tanto medo da solidão, hoje esta foi a escolha a ser tomada. Ao olhar pra direita consigo ver ainda minhas pegadas no chão. Mas sei que serão apagadas como as pegadas são apagadas na praia com o aumento da maré oceânica. Vem sendo assim, minhas pegadas vem sendo esquecidas há dias. Sei que podem ser esquecidas todas elas, tentarei não ter mais medo no futuro, se bem que diariamente lidando com isso, como hoje, eu mesmo possa pegar uma escavadeira e dar um fim nessas marcas do passado.
Daqui a pouco vou me deitar e ficar sonhando com os olhos abertos retornando aos meus dias de juventude e escondendo nas memórias a fim de me esconder da vida. Mas o tempo passa, e mesmo que não queira que as pegadas se apaguem elas já estão sendo removidas de algum modo, por alguém.
Pois é, cheguei aqui e não sei como retornar não sabendo se ir adiante é a melhor coisa a se fazer. Como disse anteriormente, hoje se traduz assim; deixei a algazarra pelo silêncio. Ausência de minha voz propagada aos quatro cantos da terra.
Ausência de mim.
Desembarque
terça-feira, abril 10, 2007
Embarque
If you could read my mind - Johnny Cash
If you could read my mind, love,
What a tale my thoughts could tell.
Just like an old time movie,
'Bout a ghost from a wishing well.
In a castle dark or a fortress strong,
With chains upon my feet.
You know that ghost is me.
And I will never be set free
As long as I'm a ghost that you can't see.
If I could read your mind, love,
What a tale your thoughts could tell.
Just like a paperback novel,
The kind the drugstores sell.
When you reached the part where the heartaches come,
The hero would be me.
But heroes often fail,
And you won't read that book again
Because the ending's just too hard to take!
I'd walk away like a movie star
Who gets burned in a three way script.
Enter number two:
A movie queen to play the scene
Of bringing all the good things out in me.
But for now, love, let's be real;
I never thought I could act this way
And I've got to say that I just don't get it.
I don't know where we went wrong,
But the feeling's gone
And I just can't get it back.
If you could read my mind, love,
What a tale my thoughts could tell.
Just like an old time movie,
'Bout a ghost from a wishing well.
In a castle dark or a fortress strong.
With chains upon my feet.
But stories always end,
And if you read between the lines,
You'll know that I'm just tryin' to understand
The feelin's that you lack.
I never thought I could feel this way
And I've got to say that I just don't get it.
I don't know where we went wrong,
But the feelin's gone
And I just can't get it back!
Desembarque
Minha Ausência
Embarque
“... eu preciso andar um caminho só, vou buscar alguém que eu nem sei quem sou. Eu escrevo e te conto o que eu vi e me mostro de lá pra você. Guarde um sonho pra mim”.
Rodrigo Amarante – Los Hermanos
Voltei. Tinha passado alguns minutos e tão puto que estava com o texto anterior que vou tentar fazer algo que me satisfaça mais. Percebi que às vezes o barulho e tão grande na minha cabeça que não consigo concentrar-me e as lágrimas rolam pelo meu rosto por eu não conseguir organizar meus sentimentos. Tudo pode ser fácil. Veja bem, mas ninguém disse que seria fácil, disse que poderia. Mas por que afinal de contas eu posso afirmar que pode ser fácil. Todo mundo sabe que é uma bosta esse encadeamento de momentos. Alguns momentos destes nos fazem morrer aos poucos ao observar a falsa serenidade alheia. Eu luto pra ver a minha serenidade e me desespero e me aterrorizo ao não conseguir aplacar os meus medos. O tempo vai passando, os encadeamentos dos momentos fogem do meu poder e me sinto descontrolado correndo com a cabeça de uma lembrança a outra sem qualquer organização e corro pra essa porra de cadeira e me observo nos textos, mas não mais me enxergo.
Tenho a impressão de fugir do meu próprio eu, não consigo organizar um pensamento sequer. Ontem ao caminhar pelas ruas, eu ficava extasiado observando os rostos, imaginava a riqueza de detalhes de todos. Hoje eu caminho tão absorto nos meus devaneios que a todo momento sou sugado por elas. Antes eu conseguia compor algo que mesmo pobre tinha um acabamento coerente. Hoje as coisas vêm à cabeça e não consigo organizá-las coerentemente. E não é questão de ser racionalista, mas sim de minimamente conseguir me organizar frente ao mundo que parece querer me engolir.
Antes aquela canção tocava no meu âmago, antes eu seguia minha vida em virtude de outra vida, antes eu chorava ao sentir a ausência. Antes tudo, e hoje me parece que nada. Uma ausência fria me fere os poros. Ausência de mim.
Eu queria poder correr na praia. Se for pra se sentir só que fosse vendo o movimento de idas e vindas da água salgada do mar. Se fosse assim, poderia caminhar de uma ponta a outra da praia. Cansar e sentar na areia e cavar. Fazer castelos de areias e depois destruí-los com ódio, ou deixá-los ao desamor das marés que sobem e descem corroendo todo que está a sua volta.
Eu gostava de ficar quieto e observava os detalhes das coisas, continuava vendo cada curva se fosse uma mulher, ou se fosse uma música cada nota. E se um livro, me afundava em seu discurso. E quando frio minha carne estava, eu rasgava ela pra ver se estava vivo e deixava o sangue escorrer e cair no chão. A previsão que tinha dos meus acontecimentos era que retornaria ao meu normal. Era passageiro o momento.
Hoje meu momento é de desconcerto e vou levando por aqui pra ver até aonde eu chego com a desorganização discursiva. Se pretendo sentir e operacionalizar num sentido mais formal, quero ver aonde chego com esse blá blá blá sem princípio e sem final organizado mais parecendo uma torrente de um rio que desce depois de ser explodida sua represa.
Sabe-se lá um dia aonde e como vou conseguir retornar as coisas e continuar a observar as coisas da mesma forma, ou quem sabe nunca mais volte. Que daqui pra frente será isso. Ausência de mim mesmo.
Qual é a sensação de estar perdido? É não conseguir se organizar e fazer as coisas como antes. Pra mim é desse jeito que se apresenta essa coisa. Antes eu tinha uma tal preocupação com um realce estilístico quando escrevia. Pensava nas palavras. Eu as corroia na minha cabeça. E hoje estou mais pra ejaculação precoce do que nunca, as coisas vêm e assim que chegam vão sendo gorfadas aqui. Achava que tinha de ser reconhecido enquanto sujeito que tentava escrever e organizar meus sentimentos na forma de palavras. Uma do lado da outra são frases, e quanto mais frases um texto e quanto mais texto mais dor.
Não há escapatória, saída, porta de emergência ou coisa do tipo.
Não sei como cheguei aqui, e parece-me que terei de revisar. E vou chegar à mesma definição que já tinha expressado linhas atrás – desorganização.
Desembarque
Soluço
Embarque
Às vezes eu ouvia minha voz lá no fundo gritar e mais alto que gritava eu mais tentava abafar aquilo. Quando mais andei, mais abafei essa voz no passado. Estranho dizer, pois sempre queria tudo claro, e quanto mais pedia isso, mais tentava dar também. Em tudo. Clareza, atenção, carinho. Todos esses gestos eram parte e extensão de tudo o que eu sentia de mais perfeito e bonito. É como se eu retornasse aos meus 12 ou 13 anos. Quando às vezes arrumava briga na escola e brigava, batia ou apanhava. De qualquer forma voltava dolorido pra casa. Cansado mesmo. Com meus nervos em frangalhos.
Dores musculares percorriam meu corpo como se eu estivesse sido açoitado, e por assim dizer posso ter sido mesmo. Mesmo que um agente externo não tenha me esbofeteado, eu mesmo o fiz. A dor é correspondente aos passos dados em direção ao nada, ou melhor, sabe-se lá pra onde eu possa estar rumando e a forca vai me sufocando na medida que vou me distanciando.
Fiquei observando meus atos, meus sentimentos, e não cheguei a conclusão alguma, e pode ser que não chegue nunca. Apenas aquela ausência, e de maneira diferente que do passado. As noites têm sido longas, demasiadamente longas, e os pensamentos correm para lá e para cá sem repousarem em nenhum lugar. Diagnósticos e mais levantamentos do passado e do futuro.
Eu nunca fui muito bom em dar conta de certas coisas e acho que continuo sendo um tanto quanto relapso, é verdade. No sentido que meu pai falava em certas ocasiões. Nesse momento a louça esta pra ser lavada. Já tentei três vezes dar conta dela, o banheiro está um lixo e tenho um monte de roupas a passar. Estou acompanhado de meus dois gatos que correm de um lado a outro. Mas eu queria um abraço, um carinho. Por mais que possa parecer estranho me sinto desprotegido e ausente de mim mesmo. Meu pescoço pesa, a respiração é funda e os olhos ardem. A voz embarga e a garganta parece se fechar.
Mais uma vez de um lugar a outro sem percorrer linearmente minhas idéias. Ultimamente escrever tem sido um martírio. Uma vontade louca de destruir tudo ao redor. Explodir com o mundo. Eu já disse isso outras vezes, minha voz é como a de tantos outros e isso me mata.
A saudade, inexperiência, raiva.
Paro com essa bosta de texto por aqui.
Desembarque
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
Voltear
Embarque
Hibernei por meses deste lugar. Passei dias a pensar se voltaria um dia a escrever. Como a maré do mar que sobe e desce, os dias se passaram a vida se movimentou de forma muito estranha nestes últimos meses. Indo e vindo os pensamentos corrompiam minha mente a pensar sobre tudo. Sobre o ato de escrever, sobre a água, vida, morte, paz, destruição e tudo mais. Sentia-me vazio, não conseguia coordenar pensamento algum a chegar a algum resultado sobre os fatos que me motivaram a esquecer desta página. O último suspiro disto, a alguns meses, foi o sumiço de meu gato. Antes mesmo deste fato já estava visivelmente desprovido de vontade de externar qualquer sentimento que fosse. Visões sobre o que deveria escrever vinham e iam como a água que sai da torneira e finda no ralo, não organizava nada na mente apenas via paisagens escorrerem pelos meus dedos e não sentia vontade alguma de organizá-las. Me parece que a preguiça as vezes me compelia a rejeitá-las, em outras ocasiões sentia que estes pensamentos nada mais eram que visualizações tão ordinárias que não deveria dividi-las com os demais. Como vagões de metrô eu mergulhava em algumas lembranças e ia, descia em alguma estação e esquecia o que tinha pensado minutos antes, mesmo que um determinado assunto passado me soasse vivo, eu de forma alguma os organizava.
Dei um tempo, matutei sobre o papel deste espaço e novamente sem nenhum resultado aparente deixei de lado tais equações. É engraçado como mesmo nestes momentos algumas lembranças teimavam a grudar em mim, como às vezes teias de aranhas nos surpreendem quando andamos. Eu andei e pensei a chegar a algum resultado, algum porquê destas e de outras linhas expurgadas no passado. Revisitei meus medos mais intestinais e nada, apenas o mesmo vazio a permear. Inclusive pensei em largar, na verdade ainda assim penso, sempre que qualquer linha se inicia o enorme vazio e o sentimento de perda me invade. Pareço estar numa selva e vejo uma série plantas, mas nenhuma chama atenção, ou melhor, o que me chama atenção é a mesma pergunta. Por que teimo em tentar externar isso. Por que destas linhas, e mais ainda, por que os pensamentos me seguem? Antes imaginava poder tão bem organizá-los que imaginava coisas e guardava na memória, mas ultimamente como falei linhas acima, não sentia mais necessidade de organizar nada. A falta de um direcionamento certo a isso foi sendo a mim desvelado. Sentia que os gritos do passado, eu os tinha berrado. Essa coisa de organizar os fatos e colocá-los de forma a satisfazer a mim é uma tarefa por demais complicada, ainda mais quando o ato de escrever é um ato por assim dizer de açougueiro. Cortar cada peça em certo sentido, refrigerá-las a tal temperatura, esperar tal época a disponibilizar isso ou aquilo. E quando não se há vontade de organizar tudo isso, esqueça, pois demandaria uma tarefa tão chata que não se conseguiria, e foi assim que o vácuo me preencheu.
Outra coisa maluca de minha cabeça era o tamanho do texto, como os grandes de outrora, eu queria fluir, ser uma torrente violenta em meio ao silêncio e que essa violência fosse externada com maestria. Bela bosta! Primeiro eu me ressentia de certa humildade, vou explicar. Querer igualar estas pobres linhas aos mestres é uma tarefa idiota demais, uma preocupação tão vil que me fez debruçar horas, dias, meses numa idealização de escrita, e mesmo assim sem resultado aparente. Na verdade, gostaria que minha voz fosse única, pode até ser que seja assim tão única quanto o tamanho dos dedos de meu pé, ou a quantidade de dentes da boca, mas tinha lembrar-me todos temos dedos e dentes. Preocupações mais idiotas essas.
E a cada parágrafo findado, lá vinham as indagações, a saber, do que eu falaria no seguinte, se não soaria repetitivo, que ou quais palavra deveria usar, como construir uma frase de modo a impressionar e como utilizar as palavras no sentido mais estético, musical que seja. E assim, mais momentos iam escorregando, as idéias mal acabadas ficavam ainda mais mal amarradas, e ao passo que ia aumentando o tamanho da balela escrita aumentava na mesma medida o sentimento de desprezo ao finalizar tal texto. A primazia de escrever me parecia uma heresia sem tamanhos quando me debruçava sobre qualquer linha escrita numa ou noutra página de livro, anúncio de emprego, aviso de cigarro, encarte de disco, receita médica, capa de jornal, enfim qualquer coisa me parecia mais completo do que estas linhas. Até mesmo um calendário todo organizado me satisfazia mais que as minhas próprias linhas, que achando eu serem a tradução da minha alma, e se assim forem, meu espírito é por demais mal organizado, convenhamos.
Em outros momentos já posso ter externado sobre isso, mas julgo ser um momento apropriado a este retorno. E quanto a armazenar uma ótima idéia a trabalhar com ela mais tarde. Um enorme fiasco no sentido mais puro do termo. Dias desses estava caminhando no parque pensando, tinha ido lá a fim de espairecer a cabeça dos problemas da vida. Caminhando, passo a passo, sinto um comichão, imagino ser aquela idéia que primeiramente me salvaria do vazio da escrita e que bem organizado daria uma boa tentativa de um texto mais...Digamos, mais refinado. Pensei o tema por alguns ângulos o ataquei de forma a senti-lo mais vivo na mente, quando de repente me vejo sentado num banco num parque público divagando sobre as possibilidades e existência de um inseto. Porra! Foda-se as possibilidades desse caralho de vida, passa o dia voando e morre ao entardecer. E lá se tinha ido a bosta da idéia anterior, e o pior, eu não tinha esquecido, quando retomei o tema era de uma coisa tão sem graça que não consegui nem engatar os primeiros passos no sentido a retormar os termos aos quais tinha utilizado a fim de me empolgar novamente.
Numa outra ocasião num momento “criativo” resolvi utilizar uma agenda. Acordei meio de ressaca com uma enorme dor de cabeça e resolvo pegar uma caneta e a tal agenda, já faz mais de um ano isso. Me sento, atrás de mim um amigo ronca como uma britadeira preguiçosa. Sentado, a mesa organizada, caneta cheia, copo com água com mais dois daqueles remédios cura ressaca, começo a destilar o veneno. Imagino que vou arrebentar começo a escrever meus calos da mão até doem de tanto que escrevo, acho que nunca escrevi tanto. Penso no passado e vou vomitando as coisas, penso no presente e dá-lhe tinta no papel, idealizo o futuro e lá vem linhas. Como esse texto ficou na tal agenda “infelizmente” nós não tivemos a possibilidade de lê-lo aqui. Como faz mais de um ano deste sopro criativo e como não o publiquei, só eu tenho a cópia desta merda, e assim me refiro, pois semanas atrás limpando meu quarto não é que achei o dito cujo. Puta merda, umas das piores coisas na vida é revisitar o passado assim tão, digamos claramente. Quando o folheei novamente, tive quase que ânsia de vômito daquelas de perder a bílis depois de beber litros de cerveja e ao fim da noite lascar nos destilados. Era uma coisa tão deprimente que possivelmente venha a publicar para dividir com sei lá quem as pérolas que ali estão.
O diagnóstico que chego depois disso, é nenhum sai do ponto zero, circulei, circulei, circulei...E onde estou?
Desembarque